Triste fim de Policarpo Quaresma é um romance do pré-modernismo brasileiro escrito por Afonso Henriques de Lima Barreto, mais conhecido como Lima Barreto (Rio de Janeiro, 13 de maio de 1881 — Rio de Janeiro, 1 de novembro de 1922). A obra é dividida em três partes, se passa na cidade do Rio de Janeiro, no final do século XIX, e narra a história do “major” Policarpo Quaresma, um idealista e patriota. Quaresma não era major.
A obra é considerada como o expoente do pré-modernismo brasileiro, período literário de transição para o modernismo. Aliás, Lima Barreto morre em 1922, ano da Semana da Arte Moderna, quando o modernismo surge no Brasil.
Lima Barreto convida o leitor a enxergar o Brasil pelo olhar idealista de Policarpo, que anseia por mudanças e por mais valorização da nossa cultura. O autor, através do seu personagem, também tece uma crítica ao chamado nacionalismo ufanista, ou seja, ao patriotismo exagerado, bem como aos doutores da época, que tinham diploma, mas não tinham conhecimento, e também a questão do preconceito – aliás, tanto autor, quanto personagem foram vítimas de preconceitos.
O “major” resolve salvar o Brasil valorizando a nossa cultura. Então, ele contrata o seu grande amigo, que irá acompanhá-lo até o fim de sua vida, Ricardo Coração dos Outros (existe um nome mais poético que esse?), para lhe dar aulas de violão e, assim, aprender as modinhas brasileiras. Ricardo, um seresteiro que tinha a habilidade de cantar modinhas e tocar violão, e gozava da estima da alta sociedade suburbana da época, mostrou ao personagem que as modinhas não eram exatamente brasileiras.
Decepcionado, o anti-herói se volta para a língua portuguesa e começa a refletir acerca dela. Ele envia um requerimento ao Congresso Nacional, propondo a adoção do tupi-guarani como língua oficial do Brasil. “O tiro saiu pela culatra”, o requerimento saiu em todos os jornais e ele virou motivo de piadas nas ruas.
“Demais, senhores congressistas, o tupi-guarani, língua originalíssima, aglutinante, é verdade, mas a que o polissintetismo dá múltiplas feições de riqueza, é a única capaz de traduzir as nossas belezas, de pôr-nos em relação com a nossa natureza e adaptar-se perfeitamente aos nossos órgãos vocais e cerebrais, por ser criação de povos que aqui viveram e ainda vivem…”.
O personagem é internado num hospício e aposentado por invalidez do seu trabalho no Arsenal da Guerra. Injustiçado, porém nada abalado, ele deixa o hospício e compra um sítio, onde passa a se dedicar à agricultura. Para ele, a terra brasileira era a melhor e decide investir nisso. Contudo, ele tem de que lutar contra os políticos da época por não se associar aos conchavos políticos e também com as formigas que acabam por destruir a sua plantação.
Por fim, o autor faz uma crítica a Floriano Peixoto (1891-1894), primeiro vice-presidente e segundo presidente do Brasil e a falta de nacionalismo por parte dos políticos da época. Algo que não foge muito à realidade atual. Policarpo, um apaixonado pelo Brasil, se vê encurralado pelo país que tanto amou. Da utopia de um indivíduo que dedicou a vida para transformar um país à realidade de um país carregado de pessoas que não querem mudar e reprime todos aqueles que carregam esse ideal. Policarpo Quaresma é personagem fictício, mas, à medida que a leitura flui, a sensação é de que o personagem realmente existiu.
O livro pode ser encontrado no site Edições Câmara.
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