Ouro Preto é uma das cidades brasileiras mais procuradas por turistas do mundo inteiro, pela sua história de mais de 300 anos, arquitetura barroca e importância política no cenário de formação de Minas Gerais. Com isso, a circulação de pessoas que chegam para conhecer a cidade gera numa caracterização do centro da cidade voltada para o acolhimento dos visitantes, o que, em alguns momentos, causa um certo desconforto para o morador local.
Muitas das vezes, o ouro-pretano se sente desvalorizado pela administração municipal em detrimento ao bem-estar do turista. Muitos moradores, por exemplo, reclamaram dos carros estacionados em vagas não permitidas no centro da cidade. No feriado do dia 12 de outubro, mais uma vez, foi registrado veículos parados em locais não permitidos na Rua Direita. Nas redes sociais, populares manifestaram a sua revolta com a situação:
“Morei minha infância aí. Tinha carros, mas não como hoje. Triste. Antes as ruas eram mais livres para os pedestres. Lembro que havia carros, mas somente de moradores ou comerciantes. Vi uma foto da Praça Silviano Brandão ou da Alegria e fiquei chocada com os carros estacionados um atrás do outro. Não era assim…”
“Ouro Preto não é dos ouro-pretanos“
“Morador, ‘nativo’ tem que ficar em casa, quase aborígene. Qualquer coisa enforca eles e acende uma cruz coberta de fogo. kkk. ( só pilantragem nesse patrimônio mundial).“
O superintendente de Transporte e Trânsito de Ouro Preto (Ourotran), Jorge Kassis, no entanto, rebateu os comentários nas redes trazendo a informação que 70% das multas são para turistas.
“Todos os meses é assim. E vejam que agora a maioria das placas são do padrão Mercosul. Só sabemos de onde é a pessoa depois de processada a multa. Portanto, a multa não tem localidade no momento da infração, tem só a infração mesmo. A lei é para todos. Pela lógica deveria ser o contrário, mais multas de cidadãos residentes na cidade por serem maioria no município. Mas os turistas são os infratores na maioria. Nosso sistema é honesto e justo”, respondeu Jorge Kassis, que finalizou dizendo “entre opiniões vagas e sem fundamentos estatísticos nós temos os números. Informação é tudo!”.
Multas aplicadas em Ouro Preto no ano
O sistema que fornece os dados das multas para a Ourotran é o GCT, que é pago mensalmente para prestar serviço para Ouro Preto. A plataforma mostra que neste mês de outubro, das 200 autuações aplicadas na cidade, 54 delas (27%) foram para condutores ouro-pretanos e 61 (30,5%) foram para visitantes de Belo Horizonte. As outra atuações foram de visitantes com origem de outras cidades. Ou seja, mais de 70% das multas não foram para veículos registrados em Ouro Preto.
Em janeiro deste ano, o número multas dadas aos visitantes de Belo Horizonte é de apenas 15 (19,7%), enquanto Ouro Preto 35 (46,5%). No entanto, durante esse mês, a cidade estava com as ondas restritivas de prevenção à Covid-19 e, portanto, recebia menos turistas.
À medida que os meses vão avançando, os números vão mudando. Em fevereiro, os condutores de Belo Horizonte foram responsáveis por 37 multas (31,6%), enquanto 27 foram de Ouro Preto (23%). Em março, abril, maio e junho, a situação se reverte, com a Cidade Patrimônio da Humanidade com mais autuações (81%, 70,8%, 34% e 29%, respectivamente).
Em julho, os números começam a se igualar, com Ouro Preto tendo 28,6% das multas e BH 26,4%. Já em agosto, 32% das autuações foram dadas para condutores ouro-pretanos e para os da capital 27%.
A partir de setembro, com Ouro Preto aderindo à Onda Verde, a mais flexível do plano Minas Consciente, o maior fluxo de turistas volta e junto deles as multas de trânsito. Foram 73 condutores de BH autuados (30,4%) e 72 ouro-pretanos (30%).
Belo Horizonte aparece sempre entre as cidades que mais possuem condutores multados devido à proximidade e relação de comércio que a capital de Minas Gerais tem com Ouro Preto.
“Eu acho importante as pessoas se aprofundarem mais nesse assunto, porque existe uma ideia muito equivocada de que para os turistas a ‘gente alivia’ e ‘somos um carrasco’ para o cidadão ouro-pretano. O povo de Ouro Preto sempre fica nos 30% de multa, quando, na verdade, deveria ser até invertido, com 70%, porque nós temos mais carros das pessoas da cidade circulando nas ruas. A estatística aparece justamente ao contrário. Agora as placas são padrão Mercosul, então desmistifica toda essa falácia”, disse o superintendente da Ourotran, ao Mais Minas.