Uma das coisas mais curiosas que observei ao longo do ano que se findou foi o enorme número de pessoas torcendo por seu fim. Mortes de pessoas famosas, golpe de estado (sem provas) em uma presidenta legitimamente eleita, diversas tragédias aéreas com destaque para os voos do time da Chapecoense e do coral e grupo de dança russo Alexandrov Ensemble são apenas alguns exemplos.
Será que desejar o fim de um ano e começo do outro faz mesmo diferença? A não ser que o debate parta do princípio dogmático da fé (que não se explica, se crê), não vejo muito sentido em pensar que o ano que se inicia será tão diferente do anterior, primeiro por um motivo a meu ver óbvio: quem criou o calendário fomos nós, seres humanos, ou seja, antes de existirmos no planeta já se tinham dias e noites sem se pensar que de 365 em 365 dias teríamos o que se convencionou a chamar ano.
Segundo Ricardo Pereira Cabral, professor de História Contemporânea da Universidade Gama Filho (UGF), o primeiro calendário surgiu na Mesopotâmia, por volta de 2700 a.C. e com 12 meses lunares. Entretanto, somente com os egípcios passou-se a usar o calendário solar e, em 1582 o gregoriano (utilizado pela maior parte das nações ocidentais até hoje) promulgado pelo Papa Gregório XIII (1502-1585).
De maneira simples, podemos ver que o que comumente denominamos ano nada mais é que uma herança cristã, portanto, pensar que os astros e demais entidades divinas regem nossas vidas e ações soa, no mínimo, anticientífico.
Outra curiosidade que me chama a atenção é o imenso número de pessoas que desejam que se diminua o desemprego e um melhor governo simplesmente por se mudar o calendário.
Talvez, ressaqueados de 13 anos de administrações progressistas, as quais nos habituamos colher avanços significativos para a classe trabalhadora, muitos de nós esquecemos que nos outros pouco mais de 500 anos, nossa nação foi sempre governado pelas elites usurpadoras.
Pode soar pesado o que vou dizer, mas não é a mudança de ano que vai mudar nosso país. As reformas de Temer, o ilegítimo, apenas começaram, as surpresas desagradáveis como o congelamento dos investimentos em educação e saúde além da reforma autocrática do ensino médio é só a ponta do pacote de maldades que vem para este ano, como a Reforma da Previdência e a flexibilização da CLT.
Não é a primeira vez que as elites usam de artifícios como este. Basta pensar, por exemplo, no golpe militar de 1964 ou que nosso país foi o último a abolir a escravidão negra. Os tempos de calmaria e conquistas se foram, é hora de resistir e lutar (como fizemos entre 1500 e 2002), confiando mais em nós mesmos e menos nos astros.
Espero que neste ano que se inicia consigamos frear os retrocessos que se aproximam, assim como compreender que se nós mesmos não mudarmos de atitude não será o calendário gregoriano ou os planetas que irão fazer isso por nós.
Para não perder o costume, feliz ano novo!