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Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos em Itabirito: a fé dos esquecidos que resistiu ao tempo

Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos em Itabirito: a fé dos esquecidos que resistiu ao tempo
Foto: Arthur Seabra/Reprodução/Site/Prefeitura de Itabirito

No alto da Rua do Rosário, no coração histórico de Itabirito (MG), repousa silenciosa a Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. À primeira vista, sua fachada simples e o adro gramado podem até passar despercebidos entre turistas apressados. Mas basta um olhar mais atento para perceber que ali está um dos marcos mais simbólicos da resistência, da fé e da identidade afro-brasileira em Minas Gerais.

A história da capela começa por volta de 1740, quando escravizados e negros libertos da antiga Itabira do Campo resolveram construir seu próprio espaço de oração. Isso porque, nas igrejas destinadas aos brancos, os negros eram colocados nos fundos ou do lado de fora. Como resposta a essa exclusão, eles criaram sua própria irmandade e começaram a erguer a igreja do Rosário, dedicada à santa que passou a ser considerada padroeira dos oprimidos.

O nome “dos Pretos” não é mero detalhe: é uma afirmação. A devoção a Nossa Senhora do Rosário foi abraçada por comunidades negras em várias partes do Brasil colonial. E cada templo com esse nome carrega o mesmo gesto de dignidade e resistência: “essa igreja é nossa”. Não à toa, a festa do Rosário, celebrada até hoje com grupos de congado, é um verdadeiro ato de memória, fé e ancestralidade.

É assim na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no Largo do Paiçandu, região central da Cidade de São Paulo, que foi construída por negros no início do século XX, ou na igreja católica de mesma denominação que existe em Salvador, na Bahia, que, embora a construção tenha levado quase um século, por questões financeiras, traz em si a mesma essência.

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Do ponto de vista arquitetônico, a capela é um retrato das contradições da época. Por fora, parece modesta, sem torres ou ornamentos grandiosos. Mas ao entrar, o contraste impressiona. O interior guarda três altares barrocos ricamente talhados e dourados, com colunas espiraladas e detalhes que revelam o capricho de quem, mesmo com poucos recursos, sabia transformar a fé em arte. O altar principal abriga a imagem da padroeira, embora a escultura original tenha sido roubada anos atrás.

Tombada pelo IPHAN desde 1955, a Capela do Rosário é o único bem protegido em nível federal no município. Ainda assim, enfrenta desafios típicos, como problemas estruturais. Um projeto de restauração já está em andamento, com apoio do IPHAN e da comunidade local, que não abre mão de preservar essa herança.

Mas é importante ressaltar que não se trata apenas de manter de pé uma construção antiga, é sobre manter viva a história de um povo. Para quem mora em Itabirito e para quem visita a cidade, é uma oportunidade de ouvir o passado que ainda ecoa nas paredes, nas danças, nas cantorias, nas orações. E compreender que, no silêncio da igrejinha do Rosário, há séculos pulsa o coração de um povo que nunca deixou de acreditar.