Madonna, Drake e Ciara não lançaram nenhuma parceria musical entre si em 2019, todavia eles estão conectados pela música, ainda que eles tenham estilos diferentes. A música tem o poder de conectar pessoas em todo o mundo mesmo que um não entenda o que outro está dizendo.
Esses três artistas também estão conectados por outro laço, o laço do idioma, o nosso idioma, “a última flor do lácio, inculta e bela”, como bem disse o poeta Olavo Bilac. 2019 foi ano em que a língua portuguesa finalmente começou a deixar o papel de coadjuvante para se tornar protagonista no mundo da música. Neste caso, graças as cantoras Anitta, Iza e ao funkeiro Kevin o Chris.
Madonna já visitou o Brasil onze vezes e outras vezes esteve em Portugal, onde ela chegou a fixar residência. Esses foram os dois únicos países lusófonos que a rainha do POP visitou em toda a sua carreira, mas o suficiente para fazer com que ela lançasse um álbum com quatro músicas dedicadas à língua portuguesa.
A saber, lusofonia é o conjunto de povos e países que têm o português como língua oficial.
Em “Killers who are partying” a rainha diz que “o mundo é selvagem, o caminho é solitário”; na faixa “Crazy” ela romantiza dizendo: “você pensa que eu sou louca / você não vai me botar louca”; e em “Extreme occident” ela canta misticamente com a alma: “aquilo que mais me magoa / é que eu não estava perdida”. Em “Faz Gostoso”, que conta com a participação da brasileira Anitta, ela não nega e diz que “ele é safado e ainda por cima é carinhoso”.
“Faz Gostoso”, aliás, não é inédita, é um regravação da cantora luso-brasileira Blaya que também compôs a letra ao lado de Mc Zuka, Tyoz, No Maka e Stego. “Madame X”, o décimo quarto álbum de Madonna, lançado em junho de 2019, é praticamente uma declaração de amor à língua portuguesa.
Drake veio ao Brasil pela primeira vez em 2019 para se apresentar no Rock in Rio e não fez muito bonito: ignorou fãs no aeroporto do Rio de Janeiro, cancelou a transmissão do seu show no Multishow, canal por assinatura da Globo; iluminação baixa durante sua apresentação; se recusou a comer comidas típicas do país, segundo o Jornal Extra.
Como se fosse uma tentativa de se desculpar pelos ocorridos em terras brasileiras, o rapper fez uma parceria com o funkeiro Kevin o Chris que culminou com a canção “Ela é do Tipo”. No remix da música, lançado esta semana, Drake se arrisca no português cantando: “Vai, rebola pro pai, novinha, vai (Vai) / Descendo (Vai), descendo…”
Por fim, Ciara, a musa da Black Music. A cantora fez muito sucesso por aqui no começo dos anos 2000 quando lançou os singles “Goodies”, “1, 2 Step”, “Oh” e “Get Up”, que foi trilha sonora do filme “Ela dança, eu danço” (“Step Up”); e também pela participação especial na música “Lose Control” da rapper Missy Elliott.
Ciara não só gravou uma participação na música “Evapora” com Iza e Major Lazer, como também participou do videoclipe da música, e cantou um trecho em português: “Chega, o tempo é agora. Deixa o mundo lá fora. Se quer, vem comigo, vambora, tipo suor que evapora”.
Entretanto, esse não é um feito inédito desses três artistas. Outros artistas internacionais já lançaram músicas com trechos em português, mas sem muito destaque, talvez por não haver nenhuma participação de artistas falantes do português nelas.
A cantora irlandesa Björk ficou tão encantada quando ouviu pela primeira vez a música “Travessia”, de Milton Nascimento, que regravou a canção cantando em português. Aliás, ela é declaradamente fã de Milton Nascimento e Elis Regina. Ainda na Irlanda, os cantores e compositores Damien Rice e Lisa Hannigan regravaram a canção “Desafinado”, de Tom Jobim e Newton Mendonça, também cantando em português.
Para quem não conhece, o Damien Rice é o cantor e compositor de “The Blower’s Daughter” que foi regravada no Brasil por Ana Carolina e Seu Jorge sob o título de “É isso aí”.
Por fim, a cantora canadense Avril Lavigne lançou em 2007 várias versões de sua música “Girlfriend”, cujo refrão era cantado em outros idiomas e um deles, claro, o português.
Diante de tudo isso, é muito importante observar o crescente protagonismo, ainda que tímido, da língua portuguesa mundo afora. Afinal, de acordo com o site Observatório da Língua Portuguesa, cerca de 244,392 milhões de pessoas falam o português em todo o mundo, o que deixa nosso idioma como a quarta língua mais falada do mundo, atrás do mandarim, do espanhol e do inglês. Isso não é pouca coisa.