Abertura da novela ‘A Viagem’: análise da obra-prima de Hans Donner e sua conexão com o espiritismo
Foto: Acervo/TV Globo
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A novela “A Viagem”, exibida originalmente pela TV Globo em 1994, voltou ao ar esta semana na TV Globo, em comemoração aos seus 30 anos e aos 60 anos da emissora carioca. Escrita por Ivani Ribeiro e baseada na versão homônima de 1975 da Rede Tupi, a trama mistura espiritualidade, amor e redenção, tendo como pano de fundo a doutrina espírita.

Mas além do enredo protagonizado por Alexandre (Guilherme Fontes), Diná (Christiane Torloni) e Otávio (Antônio Fagundes), um dos elementos que mais marcaram o público foi sua abertura. Criada por Hans Donner, a sequência de 1 minuto e 15 segundos é considerada uma das mais emocionantes da teledramaturgia brasileira.

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A abertura começa com cenas da natureza: riachos, flores e árvores sob a luz suave de um dia claro. Aos poucos, o cenário começa a embaçar, e os elementos se transformam como se estivessem passando para outra dimensão, numa clara alusão à transição da alma após a morte, segundo a filosofia kardecista que permeia a novela.

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Os nomes do elenco surgem primeiro de forma estática e, conforme a transição visual avança, passam a se movimentar em sincronia com o conceito de “viagem espiritual”. A animação culmina com o título da novela na tela e, ao final, a letra “A” de A Viagem se eleva sutilmente. O movimento final é simbólico: sugere a ascensão da alma e reforça o duplo sentido da palavra “viagem”, tanto literal quanto espiritual.

A trilha sonora também merece destaque. A música-tema, composta por Cleberson Horsth e Aldir Blanc e interpretada pela banda Roupa Nova, complementa o conteúdo visual com lirismo e emoção. Tem como não se emocionar com esse trecho: “o teu amor chamou e eu regressei”? Ele reforça o ciclo de morte e renascimento que estrutura a trama.

Com o avanço da tecnologia e mudanças nos padrões de produção, muitas aberturas atuais perderam o cuidado estético e narrativo que marcaram os anos 1990. A comparação com a abertura de “Dona de Mim” — novela atual da faixa das sete — revela esse contraste: pouco inspirada, parecendo que foi às pressas, como se tivessem esquecido da abertura da novela e criaram de última hora. Muito embora, é importante ressaltar, a obra de Rosabe Svartman seja muito bem escrita, mas essa parte ficará para outro artigo.

“A Viagem” permanece como exemplo de como uma abertura pode dialogar com o enredo, a música e os valores simbólicos da obra, e por isso segue sendo lembrada com carinho por gerações e sendo sempre um sucesso de audiência.

Confira a abertura:

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