Autor do livro “Moda com Propósito“, que inclusive foi o título da sua palestra nesta quarta-feira (24), no Minas Trend, evento que está acontecendo em Belo Horizonte (MG), André Carvalhal falou de forma franca que “ainda não existe uma marca 100% sustentável”, e “quem vende isso está mentido”.
Além de autor, o carioca é também diretor criativo na empresa Alma, uma marca de vestuário que veste a camisa da produção consciente, e está em constante pesquisa de como fazer roupa com o menor impacto ambiental o possível.
Durante a palestra, André criticou as empresas de moda que não são transparentes com os consumidores, pois, de acordo com ele, se comunicar com o público como uma marca sustentável não é verdade, e isso tira das pessoas a possibilidade de entender e consumir roupas, calçados e acessórios de forma consciente, gerando falta de informação ou desinformação.
“As pessoas ficam falando sobre produtos veganos, então o veganismo parece ser a grande salvação do mundo, não! É mentira! Da mesma forma que a comida vegana não é sinal de comida saudável, você pode comer uma pizza vegana, ou uma lasanha vegana, você pode consumir comidas que não necessariamente estejam relacionadas a baixo colesterol, enfim. A roupa vegana, o produto vegano também não é sinônimo de sustentabilidade, de impacto zero, ou de salvação do mundo, é muito importante compreender isso”, disse André. “…É importante a gente entender o que está substituindo esse produto de origem animal”, finalizou o autor nesse ponto da palestra.
Carvalhal deu oportunidade para o público fazer perguntas. Cinco pessoas participaram da dinâmica, e ele respondeu à todas elas. Inclusive, ao ser questionado sobre não haver produtos 100% sustentáveis e ele ter uma empresa que justamente vende isso, ele respondeu que é muito transparente com seus consumidores, e trabalha com o que podemos dizer menos pior. Ele diz ter consciência sobre os danos que seus produtos podem causar, mas também busca formas de torná-los não uma solução, no entanto, uma alternativa melhor para consumidores conscientes, ou trazer para as pessoas que desconhecem o assunto essa responsabilidade. Ele deu exemplos como o do copo. Segundo André, uma empresa é capaz de produzir um copo descartável que cause menos danos ao meio ambiente com relação aos já existentes, porém, isso não significa que este novo copo esteja isento da culpa, mas, está em busca de mudar a indústria de descartáveis neste sentido. E justamente esta busca, essa pesquisa, essa vontade de fazer algo pode impactar a sociedade, trazendo consciência de consumo, e acarretar na diminuição dos danos.
Para o empresário, a indústria está aprendendo enquanto faz pequenas mudanças, e esse conceito está sempre em transformação.
Ainda sobre o meio ambiente, Carvalhal mencionou a fumaça preta que chegou a São paulo, em decorrência das queimadas na Amazônia. Neste momento ele criticou a falta de informação das pessoas, que só se deram conta do que está acontecendo com o meio ambiente porque a fumaça chegou até a capital paulista, pois pra ele ainda “existem pessoas que não sabe diferenciar Amazônia de Amazonas”, e por isso não sabe a importância da floresta para o Brasil e mundo. Ele ainda falou sobre o último episódio das manchas de óleo em 132 praias do nordeste e disse que as pessoas aguardam chegarmos neste extremos para se conscientizar.
“O produto que é reciclável, por si só ele não é a solução de nada, ele não termina ali como uma solução, porque ele gera impactos antes, ele gera impactos depois, então essa informação e principalmente a clareza e a aceitação disso, de você pensar ‘hoje vou fazer um produto vegano’, mas ele gera esse tipo de impacto no mundo, você prefere o que? Matar um boi ou você prefere matar um peixe?’ Então, as pessoas precisam ter clareza e a gente como marca precisa comunicar isso”, reafirmou Carvalhal no Minas Trend.
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