Neste início de 2020 fomos surpreendidos pelo grande volume de água que caiu sobre Belo Horizonte e região metropolitana. As fortes chuvas desencadearam o transbordamento dos rios e, consequentemente, enormes enchentes que danificaram as cidades. Apesar de serem frequentemente demonizadas, a verticalização das moradias, pode ser um dos aspectos importantes para minimizar os danos causados pela chuva, pois permite uma maior concentração de lares em um mesmo lote. Assim, explica o arquiteto do escritório Dávila Arquitetura, Cadu Rocha:
“Um edifício de apartamentos que abrigue, digamos, 60 famílias em um lote de 2400m2 em apartamentos de 2, 3 ou 4 quartos, com ampla área verde e não edificada em torno da torre – exemplo real de um conhecido edifício no bairro de Santa Tereza, que inclui até um imóvel tombado – poderia demandar até dois quarteirões padrão de Belo Horizonte, se estas mesmas famílias fossem distribuídas em casas, ou seja, em residências unifamiliares. Além de impermeabilizar o solo onde era antes área verde, seja de preservação ou de cultivo de frutas e hortaliças no cinturão das maiores cidades, esta expansão urbana horizontal também dificulta o transporte da população, a construção de redes de esgoto, coleta de lixo, distribuição de energia, etc”, relata.
Segundo o profissional, é preciso que seja cada vez maior a preocupação em inserir áreas verdes e projetos sustentáveis nas construções atuais, o que colabora com a qualidade do ecossistema e viabiliza a absorção da água em ocasiões de grande volume de chuva. “É importante que os empreendimentos privados, tanto os edifícios residenciais multifamiliares e comerciais – as torres – quanto as edificações unifamiliares – as casas – deem sua parcela de contribuição ao meio ambiente e à cidade que está inserida, incluindo áreas verdes dentro do limite de seus lotes. Sabemos que o terreno natural, coberto por vegetação, contribui para a absorção da água da chuva do solo e, por esta razão, em comparação com um piso cimentado ou asfaltado, por exemplo, é um terreno mais permeável. Vale ressaltar que em um país tropical como o nosso, chuvas intensas e em volume atípico sempre ocorrerão e provocarão enchentes, com ou sem terrenos permeáveis. O que não significa que não devamos tentar construir e expandir as cidades mantendo a maior taxa de permeabilidade possível nos lotes edificados”, explica Cadu Rocha.
Na última quarta-feira (5) entrou em vigor o novo Plano Diretor da cidade de Belo Horizonte. A nova legislação versa sobre esse tema, prevendo que mais área de terreno natural deva ser preservada quando da construção de um edifício. E, segundo Cadu Rocha, as leis regulamentares relativas ao novo Plano Diretor preveem que mais área de terreno natural deve ser preservada quando da construção de um edifício.
“Já considerando os edifícios verticais construídos sob a legislação anterior de Belo Horizonte, há décadas existe uma exigência de que os lotes prevejam um percentual de permeabilidade para os lotes ocupados. O construtor podia tanto deixar este percentual do lote como terreno natural e, supostamente, ‘permeável’, como podia ocupar todo o lote com sua construção, porém prevendo jardineiras com esgotamento para caixas de acumulação. Estas caixas de acumulação, por sua vez, ou poderiam ter a água de chuva armazenada aproveitada para determinados usos do próprio edifício, provendo economia não só para os condôminos, quanto para os reservatórios públicos de água potável, como poderiam lançar estas águas acumuladas na rede pública pluvial, porém com uma velocidade muito menor do que aquela observada nas chuvas intensas”, afirma.
Para o arquiteto, o principal erro das construções atuais talvez não seja como, mas onde as edificações são erguidas. “A grande maioria das edificações afetadas por alagamentos e deslizamentos está implantada em terrenos onde, provavelmente, não deveriam ter sido edificadas. Vales de rios – muitas vezes canalizados por razões sanitárias e por exigência da própria população – e encostas íngremes costumam ser algozes dos pobres moradores que muitas vezes encontram nestes locais sua única alternativa de ocupação com suas moradias, na falta de políticas públicas sociais menos demagogas e mais práticas na solução da questão habitacional do país”, ressalta Cadu Rocha.
O escritório Dávila Arquitetura já se mantinha um passo à frente em relação à preservação do terreno e construções sustentáveis. Esta é uma preocupação antiga deles que, segundo Cadu Rocha, felizmente é abraçada pela maioria dos empreendedores do mercado imobiliário com quem trabalham. Como o exemplo mais recentes, citado pelo arquiteto temos o ‘Duo’, no Vila da Serra. Os edifícios, além de oferecerem lajes com jardineiras e caixas de acumulação de águas pluviais, também ‘deixam’ uma boa parcela de terreno natural ajardinado para a cidade, contribuindo para evitar as enchentes em na cidade”, encerra.