Audiência na ALMG desconsidera mineração e debate sobre preservação da Serra do Ouro Branco

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Um projeto de autoria do ex-deputado João Alberto saiu da “geladeira” na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, através do requerimento do membro da comissão, Deputado Noraldino Júnior (PSC), o que gerou em uma audiência pública que aconteceu na última quarta-feira, 20 de outubro, na Assembleia de Minas Gerais (ALMG). De acordo com a publicação do O Tempo, a proposta original visava à desafetação de uma área de quase 900 hectares para acomodar a atividade minerária das empresas Somifra e Mineração Geral do Brasil, no Parque Estadual Serra do Ouro Branco.

No entanto, a ideia não foi bem recebida pelos ouro-branquenses e representantes da administração municipal da cidade. Numa visita do Conselho Municipal de Meio Ambiente de Ouro Branco (Codema) ao local a ser explorado pelas mineradoras, houve uma enorme repressão de populares, que temem a depredação do parque. Na audiência pública, então, se discutiu conservação do referido parque e do Monumento Natural Estadual de Itatiaia, localizado próximo à serra.

Audiência na ALMG desconsidera mineração e debate sobre preservação da Serra do Ouro Branco

Noraldino Júnior, autor do requerimento que pediu a audiência pública, lembra que as duas unidades de conservação de proteção integral, Serra do Ouro Branco e Monumento Natural de Itatiaia, foram criadas após uma intensa mobilização popular e, 12 anos depois, ainda não foram estruturadas e não contam sequer com uma portaria. Segundo o parlamentar, também não foi efetivada a regularização fundiária do Parque Estadual da Serra do Ouro Branco, questão já debatida pelos deputados, mas que ainda precisa ser priorizada pelo Parlamento mineiro.

O vice-prefeito de Ouro Branco, Celso Vaz (PSDB), o secretário de Meio Ambiente Municipal, Neilor Aarão, a bióloga, Patrícia Maria Batista, a gerente de Meio Ambiente, Cirlene Ribeiro Dias e o ouvidor Municipal, Pedro Chaves, participaram da audiência dessa quarta-feira.

Na abertura da sessão, o deputado Noraldino Júnior, disse que a audiência não tinha como intenção de propor a redução da área de proteção do parque e alegou ser contrário a qualquer proposta neste sentido.

A Prefeitura de Ouro Branco se posicionou contrária a qualquer tipo de intervenção na serra e disse que luta sempre pela manutenção e preservação do parque.

Também estiveram presentes na audiência os representantes da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), do Instituto Estadual de Florestas (IEF), da Polícia Militar de Meio Ambiente, do Corpo de Bombeiros e da Polícia Civil.

Parque Estadual da Serra do Ouro Branco

O Parque Estadual da Serra do Ouro Branco foi criado pelo Decreto 45.180, de 2009, com 7.520 hectares. Ele representa o marco inicial sul da Serra do Espinhaço, tem cobertura vegetal constituída por campo rupestre, matas de galeria e capões, além de remanescentes de Mata Atlântica.

A Serra do Ouro Branco é um divisor de águas de três bacias hidrográficas: Rio das Velhas, Rio Paraopeba e Rio Piranga. Parte da área do parque é sobreposta pela Área de Proteção Especial (APE) do Veríssimo, criada pelo Decreto 22.055, de 1982

O Parque faz divisa com o Monumento Natural Estadual de Itatiaia, criado pelo Decreto 45.179, de 2009, com 3.216 hectares. A Serra de Itatiaia possui espécies endêmicas de flora rupestre nos afloramentos rochosos e alta relevância na Cadeia do Espinhaço, além de beleza cênica e paisagística, e tem extrema importância histórica relacionada ao Ciclo do Ouro em Minas Gerais.

Audiência na ALMG desconsidera mineração e debate sobre preservação da Serra do Ouro Branco
Foto: Mais Minas

Regularização

De acordo com Noraldino Júnior o problema são os incêndios que, todos os anos, durante o período de estiagem, ameaçam a região. Foi consenso entre os participantes a origem criminosa de quase todos eles, seja de maneira intencional ou culposa. O deles maior aconteceu em 2017, quando 25% da área foi comprometida. Mas, em setembro deste ano, vários focos voltaram a ameaçar a biodiversidade da região.

Quando foram criadas, as duas áreas, apesar de contíguas e com mais de 10 mil hectares, foram separadas em parque e monumento natural de forma a facilitar justamente a regularização fundiária, que ainda não saiu do papel.

Enquanto a área do monumento natural possui diversos proprietários, a área do parque pertence a grandes empresas ligadas à exploração de minério: Vale, Gerdau e CSN. A expectativa então era que elas pudessem ser doadas ao Estado, por meio de compensação ambiental.

O deputado Noraldino Júnior defendeu ações mais efetivas tanto do poder público quanto da iniciativa privada para garantir a sobrevivência do Parque Estadual Serra do Ouro Branco e do Monumento Natural Estadual de Itatiaia, que contam apenas com iniciativas isoladas da sociedade civil.

“Mesmo em um cenário de escassez de recursos, precisamos usar da criatividade e fazer mais com menos. Se os recursos gerados com o meio ambiente fossem efetivamente utilizados no setor, já seria um ponto de partida para que o plano de manejo das duas unidades seja efetivado”, defendeu Noraldino Junior.

Do ponto de vista do Parlamento mineiro, o deputado garantiu ainda o monitoramento dos desdobramentos da audiência e, desde já, se posicionou contrário a qualquer ameaça de desafetação (perda do vínculo jurídico das terras) das duas unidades que possa surgir no futuro. Noraldino, inclusive, rebateu à propagação da informação de que a sua intenção era de prosseguir com a ideia de permitir a atividade minerária na Serra do Ouro Branco.

“Chegaram a circular boatos de que essa audiência iria abordar a desafetação das áreas, o que absolutamente não é verdade. Estamos todos aqui do mesmo lado, em defesa desse patrimônio natural e cultural do povo mineiro”, apontou.

A vereadora Valéria de Melo Nunes Lopes (PDT), de Ouro Branco, uma das principais lideranças da região em defesa das duas unidades, ficou satisfeita com o que viu e ouviu na audiência. Ela lembrou que a mobilização para criação delas deve prosseguir até que sejam fisicamente viabilizadas.

“Como falar em uma demarcação formal se não contamos sequer com uma portaria no nosso paredão? Enquanto isso, será que a grande soma de recursos que todos os anos é gasta no combate às queimadas não seria melhor aplicada em ações estruturantes que garantiriam uma prevenção mais efetiva?”, questionou.

Nessa linha, ela cobrou uma ação mais decisiva da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, como a aplicação do chamado ICMS Ecológico, e das empresas proprietárias da região, inclusive por meio da intervenção do Ministério Público. A estimativa é que cerca de 80% da área seja de propriedade privada.

Turismo

O Parque Estadual Serra do Ouro Branco e o Monumento Natural Estadual de Itatiaia integram um complexo ambiental e turístico formado sobretudo pela Reserva Particular de Proteção Ambiental (RPPN) Luís Carlos Jurovsky Tamassia, da Gerdau, com a qual também fazem divisa, e o Parque Estadual do Itacolomi, este entre as cidades de Ouro Preto e sua vizinha Mariana.

Só o município de Ouro Preto, patrimônio mundial da humanidade que atrai visitantes até do exterior, reúne sozinho o total de 12 unidades de conservação, sendo cinco delas parques municipais, o que justificaria a criação de uma estrutura de visitação e proteção permanentes.

A diretora-geral do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Maria Amélia Lins, lembrou que tanto a Serra do Ouro Branco quanto o Monumento de Itatiaia têm uma gestão única e plano de manejo já aprovado desde 2017. Também têm funcionários permanentes já trabalhando no local e o conselho consultivo deve ser eleito na próxima semana.

Em sua apresentação, a gestora destacou as riquezas naturais da área, inclusive como grande produtora de água, e seu potencial turístico. Também reconheceu que a institucionalização definitiva facilitaria a preservação, um consenso entre as mais de duas dezenas de participantes da audiência.

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