A Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) confirmou o retorno 100% presencial de suas atividades a partir de março do ano que vem. No entanto, na reunião do Conselho Universitário da Universidade Federal de Ouro Preto (Cune), ocorrida nessa terça-feira, 23 de novembro, o pró-reitor de Planejamento e Administração (Proplad), Eleonardo Lucas Pereira, disse que o aumento no preço da alimentação fornecida pela unidade de ensino é um problema que a UFOP, assim como todas as federais, deverão enfrentar.
Segundo o pró-reitor, antes da pandemia, uma refeição no Restaurante Universitário (RU) custava R$ 6,10. A UFOP subsidiava R$ 3,10 desse valor e os alunos pagavam R$ 3. Os alunos cadastrados em situação de vulnerabilidade socioeconômica recebiam o subsídio integral.
Na retomada das atividades programada para março de 2022, o valor do RU poderá chegar a R$ 15 para a UFOP e cerca de R$ 7 para os estudantes, por refeição, um aumento que pode chegar a 133%.
Eleonardo afirmou que as universidades têm enfrentado momentos difíceis devido aos cortes no orçamento. De acordo com ele, o aumento no preço do bandejão está ligado ao corte de 37% no orçamento do Ministério da Educação para as universidades federais e a inflação nos valores dos alimentos.
“Hoje é um problema que a Universidade de Ouro Preto enfrenta, assim como todas as outras. Nós saímos de um custo de RU de R$ 6,10 por refeição, a universidade subsidiava R$ 3,10 ao aluno e o estudante pagava R$ 3. O aluno que é cadastrado na PRACE e é de vulnerabilidade socioeconômica recebia o valor de forma integral. No entanto, a comissão agora, em estudo, está chegando a valores de R$ 9, R$ 12 e R$ 15. Nós vamos licitar, talvez a gente consiga, com muito sucesso, estabelecer um valor abaixo de R$ 10. Em Viçosa licitou e foi para R$ 9,10, se eu não me engano. Esse foi um problema gerado pela alta de preço dos recursos alimentícios e, em contrapartida, nosso orçamento não foi aumentado, pelo contrário, ele foi suprimido”, explicou Eleonardo.
Porém, o Pró-reitor reforçou que a administração da UFOP já garantiu dentro do plano de retomada a alimentação dos alunos em situação de vulnerabilidade socioeconômica.
De acordo com a Reitora da UFOP, Cláudia Marliére, em 2017 o orçamento da universidade era de cerca de R$ 3,9 milhões. Atualmente, esse valor é de R$ 1,3milhões. Ainda segundo ela, esse recurso já foi de R$ 40 milhões em 2010, durante um período de expansão das universidades públicas brasileiras.
Importância do R.U para os estudantes
A comida fornecida pelo R.U da UFOP inclui o fomento da economia da agricultura familiar, utilizando alimentos orgânicos. Há uma nutricionista que faz o cardápio para que a alimentação do estudante seja balanceada e que forneça aos alunos a energia necessária para realizar as atividades pertinentes à universidade.
“É inquestionável que o R.U é importantíssimo para nós, estudantes, uma porque o preço condiz com a nossa realidade e traz uma praticidade. É desgastante, com uma rotina muito corrida, ter que parar para fazer almoço, por exemplo. O aumento no R.U prejudica e muito aos estudantes, é mais do que o dobro. Fora que estamos sendo pegos de surpresa, não esperávamos por isso”, disse Pedro Henrique, estudante, de 23 anos, do sétimo período de Jornalismo da UFOP.
Matheus Oliveira, de 32 anos, está no sétimo período de Letras na UFOP e faz parte da classe dos estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Além da cobertura integral do RU, ele também recebe uma bolsa permanência de R$ 400 para contribuir com os custos de moradia, internet, mobilidade e etc.
“Isso reduz bastante a quantidade de dinheiro necessário para sobrevivência dos estudantes, possibilitando que o estudante consiga estudar mais. Com esse subsídio da universidade é possível que um estudante sobreviva aqui em Mariana, se ela morar nos conjuntos habitacionais da UFOP, com R$ 400, o que é uma política de ação afirmativa bastante eficaz, porque com as políticas de implementação de cotas, muitas pessoas são inseridas no ensino superior. É crucial o funcionamento do R.U para a existência das pessoas aqui”, conta o estudante.
Atividades remotas mantidas para pessoas com comorbidades
Cláudia Marlieri destacou que o trabalho remoto está garantido para os servidores técnicos administrativos, professores e estudantes com comorbidades.
“Lógico que nós vamos garantir dentro da lei todas aquelas pessoas, independente do segmento, que têm algum tipo de comorbidade, que garante a ele o trabalho remoto, assim como os estudantes”, disse a Reitora da UFOP.
Por fim, Cláudia afirmou ainda que a pandemia evidenciou a importância da universidade pública brasileira e destacou os cortes que atingiram o orçamento da UFOP nos últimos anos.
“Eu sempre disse que a pandemia descortinou o nosso trabalho dentro da universidade, porque na verdade mostrou a importância não só da pesquisa, como da extensão e do ensino nas universidades, em relação a como lidar e pesquisar o vírus, como orientar melhor a população. Foi uma resposta muito positiva, inclusive isso foi avaliado pela própria sociedade brasileira, que parece ter nos visto de uma forma diferente. Isso, para nós, é muito importante, porque são aliados que precisamos ter neste momento de crise, principalmente orçamentária”, finalizou.