
Os bebês reborn, bonecas hiper-realistas feitas para se assemelhar a recém-nascidos, estão se tornando uma febre cultural no Brasil. Produzidos com materiais que imitam textura de pele, peso e cor de bebês humanos, os reborns atraem colecionadores, entusiastas e até mesmo consumidores em busca de conforto emocional.
O termo “reborn” vem do inglês e significa “renascido”, remetendo à intenção de criar uma representação viva de um bebê. Em geral, muitas pessoas colecionam esses bonecos e os guardam como peças de arte. Outras, porém, interagem com eles como se fossem crianças reais, levando-os para passeios, criando rotinas fictícias e atribuindo a eles histórias de vida.
A relação intensa com bebês reborn pode, em alguns casos, revelar necessidades emocionais profundas. Para alguns, o contato com essas bonecas tem função terapêutica, como em casos de luto por perda de filhos ou em processos de ansiedade e depressão. No entanto, se houver a incapacidade de diferenciar fantasia e realidade, pode ser sinal de sofrimento psíquico que merece atenção profissional.

Conforme a definição clássica da Medicina, patologia é o estudo das doenças e seus efeitos. Embora, em si, o interesse por bebês reborn não configure uma patologia, a maneira como a relação se estabelece pode indicar desequilíbrios emocionais, especialmente quando substitui vínculos humanos reais.
A confecção de bebês reborn é considerada uma forma de arte. O artista, ao criar uma obra hiper-realista, entrega ao público algo que vai além do brinquedo lúdico tradicional (aliás, não tem nada de lúdico). O uso que cada pessoa faz dessa obra, no entanto, é particular.
O mercado brasileiro para esses bonecos cresce rapidamente. Segundo informações do portal G1, uma loja de Curitiba especializada em reborns foi alvo de furto, com prejuízo de R$ 55 mil. Já o portal UOL relatou que uma moradora de São Paulo mantém uma coleção de bonecas reborn avaliada em R$ 28 mil. Quiosques de shoppings também aderiram à tendência, vendendo modelos variados desses bebês realistas.
Em uma era de hiperconexão, por que nos apegamos tanto a representações silenciosas de afeto? O que há de errado?

João Paulo Silva, nascido em Barueri/SP e bacharel em Letras pela Universidade Estácio de Sá, pós-graduado em Revisão de Texto e em Linguística e Análise do Discurso. Contato: joaopaulobarueri@outlook.com