A BR-040, uma das mais importantes rodovias do Brasil, corta Minas Gerais de ponta a ponta, ligando o estado ao Rio de Janeiro e a Brasília. No entanto, ao longo de seu traçado, o trecho próximo à saída da capital mineira se tornou, nos últimos anos, sinônimo de insegurança, medo e tragédia. Quem trafega por essa estrada conhece bem os perigos: curvas sinuosas, sinalização deficiente, acostamentos estreitos e um fluxo intenso de caminhões e veículos leves disputando cada metro de asfalto.
O problema, infelizmente, não é novidade. Relatórios do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e estudos do Observatório Nacional de Segurança Viária vêm apontando a BR-040 como uma das rodovias mais perigosas do país. Próximo a Itabirito, os índices de acidentes são particularmente alarmantes, com registros frequentes de colisões frontais, tombamentos de caminhões e atropelamentos. A combinação entre infraestrutura precária e tráfego pesado transformou esse trecho em uma verdadeira armadilha para motoristas e pedestres.
As causas são múltiplas. Além da geografia acidentada da região, que exige atenção redobrada dos motoristas, há um claro abandono das autoridades responsáveis. Buracos, desníveis e falta de manutenção são problemas crônicos que comprometem a segurança viária. Não à toa, moradores locais e usuários frequentes da rodovia relatam, há anos, a sensação de que trafegar por ali é um “jogo de roleta-russa”. O aumento do tráfego, puxado pelo crescimento desordenado e desregulamentado do setor minerário e pelo transporte de cargas, agravou ainda mais a situação.
O impacto humano dessas condições precárias é devastador. De acordo com dados do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, os acidentes na BR-040, mais uma vez na altura de Itabirito, resultam em dezenas de mortos e centenas de feridos todos os anos. Famílias destroçadas, vidas interrompidas e um rastro de sofrimento marcam a paisagem ao lado da rodovia. As cruzes improvisadas à beira da estrada são testemunhas silenciosas de um problema que poderia ser prevenido com ações mais contundentes.

Um fator que agrava os riscos é a deficiência na sinalização e na iluminação, especialmente à noite e em dias de chuva. Quem dirige nesse trecho percebe rapidamente que a pintura de solo é muitas vezes apagada, as placas estão sujas ou mal posicionadas e a iluminação pública, quando existe, é precária. Isso cria um cenário propício para erros humanos e acidentes graves.
Além do aspecto físico, há também o fator comportamental. Excesso de velocidade, ultrapassagens proibidas e desrespeito às leis de trânsito são condutas comuns por ali, especialmente entre os que circulam diariamente pelo trecho e acabam subestimando os riscos. Como destacam estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a combinação de más condições viárias com comportamentos imprudentes eleva exponencialmente a probabilidade de acidentes fatais.
Moradores do entorno e usuários da BR-040 vêm cobrando há anos melhorias estruturais e ações efetivas para reduzir possíveis tragédias. Audiências públicas, abaixo-assinados e protestos já foram realizados, mas as respostas têm sido lentas e pontuais. As pequenas intervenções feitas, como operações tapa-buraco e instalação de lombadas eletrônicas, são paliativas e não resolvem o problema de fundo, que exige duplicação de pistas, construção de acostamentos adequados e melhoria da drenagem.
Do ponto de vista econômico, a precariedade desta estrada impacta diretamente a região. Empresas enfrentam dificuldades logísticas, agricultores perdem produtos em acidentes ou atrasos e o turismo local, que poderia se beneficiar do charme histórico das cidades e das belezas naturais ao redor, sofre com a sua má fama. O prejuízo coletivo não é apenas em vidas humanas, mas também em oportunidades desperdiçadas para o desenvolvimento regional.
O problema também traz à tona uma reflexão mais ampla sobre a infraestrutura no Brasil. A BR-040 é apenas um dos muitos exemplos de rodovias federais que não acompanham a evolução do tráfego e das demandas econômicas do país. O modelo de concessão adotado para trechos da rodovia, incluindo pedágios, nem sempre (quase nunca) se traduz em melhorias efetivas, gerando frustração e sensação de abandono entre os usuários.
Enquanto isso, as estatísticas continuam a crescer. Segundo levantamento da Polícia Rodoviária Federal, apenas em 2024 foram registrados mais de 300 acidentes neste trecho, com um aumento significativo em relação ao ano anterior. A cada nova tragédia, multiplicam-se as cobranças por investimentos mais robustos e por um plano estratégico capaz de transformar o local em um eixo seguro de integração e não em um símbolo de insegurança.
Os especialistas são unânimes em apontar a necessidade de um projeto de requalificação urgente para o trecho. Isso inclui, entre outras medidas, a duplicação de pistas, o alargamento de curvas perigosas, a melhoria na sinalização, a instalação de barreiras de proteção e o reforço na fiscalização eletrônica. A execução desse projeto, no entanto, esbarra em questões políticas (principalmente) e orçamentárias que precisam ser enfrentadas com seriedade.
Por fim, fica claro que a BR-040, especialmente em Itabirito, tornou-se um retrato cruel do descaso com a vida humana e com a infraestrutura estratégica do país. É preciso romper com o ciclo de promessas não cumpridas e intervenções paliativas. A cada dia de inação, novas vítimas são somadas à trágica contabilidade da rodovia. E enquanto a solução não vem, milhares de motoristas continuam apostando sua sorte no asfalto perigoso, entre curvas estreitas e buracos profundos, com o coração apertado e os olhos atentos ao risco que encontram a cada quilômetro.