O que era para ser uma tranquila e amistosa reapresentação, se tornou motivo de calafrios ao torcedor celeste. O camisa 10 e craque do time, Giorgian de Arrascaeta, foi retirado da Toca da Raposa II por seu empresário, o uruguaio Daniel Fonseca. O motivo: a recusa da proposta de 10 milhões de euros do Flamengo ao atleta, onde “Arrasca” receberia um salário três vezes maior do que recebe no Cruzeiro.
Apesar de surpreendente, a postura de Arrascaeta e seu empresário não é algo incomum no futebol e essa situação evidencia algumas das piores situações no futebol, quando o assunto envolve transferências.
Primeiramente, o grande poderio de empresários no mundo do futebol. Não é raro jornalistas, dirigentes e vez ou outra atletas arrependidos. Daniel Fonseca, agente de Arrascaeta, parece ser o grande pivô do embate entre atleta e clube e talvez o maior beneficiado numa negociação. E segundo Itair Machado, vice-presidente de futebol do Cruzeiro, não é a primeira vez que o camisa 10 e seu representante tem atitude como essa. Não tão conhecido no Brasil, Fonseca já é figurinha conhecida no Uruguai, negativamente. O empresário já se envolveu em problemas com diversos atletas, que incluem craques como Luís Suárez e Edinson Cavani. Outro fato bizarro sobre o agente é que o Liverpool, equipe tradicional do Uruguai, não permite que seus atletas sejam agenciados pelo procurador, devido a suas práticas questionáveis.
Outro fator, relacionado com o citado acima, é a omissão de jogadores que entregam sua vida na mão de empresários e muitas vezes acabam se frustrando com isso. Arrascaeta iria para seu quinto ano de Cruzeiro, onde chegou aos 19 anos, é ídolo do clube, o estrangeiro com mais gols e partidas na história, além de artilheiro do novo Mineirão, mas pretende jogar tudo fora por um salário maior em um rival nacional (mesmo por muitas vezes tendo enfatizado seu desejo de jogar no exterior). No futebol, propostas, negativas e negociações são parte do dia-a-dia. O atleta poderia ter apenas afirmado seu compromisso com clube, torcida, companheiros e comissão técnica e treinado, abrindo conversas como normalmente acontece. Se o problema é salário, o Cruzeiro poderia propor um aumento, mesmo que não chegasse ao oferecido pelos rubro-negros. A questão era vontade de sair e respirar novos ares? As três partes poderiam negociar um acordo bom para todos, o que seria inclusive ético da parte do camisa 10, por tudo que o clube fez por ele.
Um fato que chama atenção também é o abismo financeiro entre as equipes. O Flamengo ofereceu um salário três vezes maior, o que, levando em conta o teto salarial celeste e a informação vinda de Itair Machado de que Arrascaeta está no top 3 de salários do clube, deve ser maior que R$ 1,5 milhão, um valor totalmente destoante da realidade do futebol brasileiro. É uma realidade que começa a se apresentar e assusta aos torcedores dos times com menos poderio econômico. Será a tão falada “espanholização” chegando?
Só que também não podemos culpar apenas o clube com maior renda pelo abismo financeiro. As más administrações do Cruzeiro têm grande parcela de culpa pela falta de competitividade celeste no mercado. Dívidas e mais dívidas, processos e mais processos fazem o clube não conseguir contratar por carregar o estigma de mal pagador e nem de fazer ofertas boas a seus próprios atletas por não ter de onde tirar fundos. Algumas declarações irresponsáveis, como as de Itair Machado, também só tumultuam o ambiente do clube. Um gestor tem de saber quando ficar calado e resolver questões internamente. As declarações do dirigente, divulgando inclusive o telefone do empresário de Arrascaeta, apenas prejudicam o clube, mesmo que numa venda.
O camisa 10 celeste já se manifestou no seu Instagram afirmando que irá tomar medidas legais contra o vice-presidente celeste. E aí, há alguma chance de conciliação? Eu acho que não. Infelizmente, ao meu ver, não voltaremos a ver Arrascaeta com o manto celeste novamente.
E você leitor, qual sua opinião sobre o “caso Arrascaeta”? Deixe seu comentário.