Conheça Mariana, a cidade primaz de Minas Gerais

“A Primaz de Minas Gerais”. Assim é conhecida a bela, imponente e importante Mariana, por ser a primeira cidade e capital de seu estado, berço de muita história e de lindas paisagens que misturam quadros naturais e tocados pelo homem, sejam eles do período colonial ou recentes. Além de seu acervo histórico e natural, o município também é um importante pólo minerador e educacional, contando inclusive com dois campus da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

Hoje, com 325 anos de existência, Mariana tem uma população estimada de 61.830 pessoas, divididas num território que ocupa 1.194,208 km², estando a cidade localizada na Região dos Inconfidentes, sendo abrangida pela mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte. Por sua importância histórica, Mariana recebe grande número de turistas anualmente, sendo um dos destinos preferidos dos viajantes que passam por Minas Gerais.

É impossível, inclusive, falar da história mineira sem citar Mariana, afinal, como diz uma placa em uma das entradas da cidade: “Minas Gerais começou aqui”. A Região dos Inconfidentes, que também abriga Ouro Preto e Itabirito, foi ponto chave na história do estado, desde seu nascimento como local até a Inconfidência Mineira.

História de Mariana

A fundação de Mariana se deu no dia 16 de julho de 1696, nos anos finais do século XVII, sendo ela 15 anos mais velha que sua vizinha, Ouro Preto. Minas Gerais, à época, não se encontrava dentro do espaço colonizado pelos portugueses e foram os bandeirantes que em sua incessante busca pelo ouro, começaram a explorar a área de mata atlântica que futuramente viria a se tornar o município. Até então, o território mineiro era habitado por índios falantes de línguas macro-jês.

O primeiro núcleo colonial de Minas Gerais foi fundado já na segunda metade do século XVII, como arraial do Ribeirão do Carmo. Este foi receber o status de Vila em 8 de abril de 1711, concedido pelo então governador do Rio de Janeiro, Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, passando a receber o nome Vila do Ribeirão de Nossa Senhora do Carmo, mudança confirmada por Carta Régia de 14 de abril de 1712 com o nome mudado para Vila Real de Nossa Senhora.

O nome Mariana

A cidade viria a se chamar Mariana, nome que carrega até os dias atuais, somente em 23 de abril de 1745, passados 51 anos de sua fundação, sendo uma homenagem do rei dom João V de Portugal à sua esposa, a dona Maria Ana de Áustria.

Com a criação da cidade, primeira em solo mineiro, esta tornou-se também capital do estado. Todo o processo de eleição da Câmara e a nomeação de diferentes oficiais municipais se deu após reunião entre os “homens-bons” da localidade. Esse termo “homem-bom” era a denominação dada, a partir da Idade Média, em Portugal e no Brasil Colonial, a membros da comunidade aldeã e das vilas que tinham certa relevância social, seja esta por posse de bens, propriedades ou pela execução de atividades não manuais. Uma outra exigência é que estes fossem “cristãos-velhos”, ou seja, que tivessem pais e avós já cristãos. Essa “casta” era quem possuía o direito de votar e ser votado para integrar as câmaras municipais.

Pontos turísticos de Mariana

Mariana é uma das cidades mais buscadas pelos turistas em Minas Gerais, tendo rico acervo histórico barroco, entre belas igrejas, museus e outras construções coloniais, sem contar seus picos e demais belezas naturais, como cachoeiras. Não é atoa que seu Centro Histórico foi tombado pelo Iphan, em 1945. Além disso, a cidade é bastante procurada para a prática de esportes radicais, como o mountain bike e o montanhismo. Listamos abaixo alguns dos principais pontos turísticos marianenses:

Praça Minas Gerais

Na Praça Minas Gerais estão localizadas a Igreja de São Francisco de Assis e a Igreja de Nossa Senhora do Carmo – Foto: Maic Costa/Mais Minas

Um dos principais cartões postais de Minas Gerais, a Praça Minas Gerais impressiona pelo conjunto de imponentes obras agrupadas num espaço relativamente pequeno. Apesar do nome, a praça não é como aquelas praças que logo vem à mente, com banquinhos e chafariz. Esta possui dois gramados, em um deles se encontra a Igreja de São Francisco de Assis e o Pelourinho, e no outro a Casa de Câmara e Cadeia, onde está sediado o poder legislativo municipal. Além disso, do outro lado da rua, está a Igreja de Nossa Senhora do Carmo. É considerada uma das Sete Maravilhas da Estrada Real.

Igreja de São Francisco de Assis

Igreja de São Francisco de Assis, em Mariana – Foto: Maic Costa/Mais Minas

Sua construção se estendeu entre os anos de 1762 a 1794, com projeto arquitetônico, risco da portada e elementos ornamentais como púlpitos, retábulo-mor, lavabo e teto da capela-mor da lavra de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e suas pinturas ficando a encargo de Manuel da Costa Ataíde, dois dos mais importantes nomes da arte colonial brasileira.

A obra é magnífica e colossal, remetendo ao ápice da história de Mariana, sendo ela um marco religioso, social, artístico da cidade e do estado. É nela, inclusive, que Mestre Ataíde está enterrado. Atualmente, após muitos anos fechada, a Igreja de São Francisco de Assis passa por grande processo de restauração. Construída no estilo rococó, a igreja possui o status de Património de Influência Portuguesa.

Igreja de Nossa Senhora do Carmo

Igreja de Nossa Senhora do Carmo e o Pelourinho – Foto: Maic Costa/Mais Minas

Apesar de menor que sua vizinha, a Igreja de Nossa Senhora do Carmo impressiona por sua beleza e pelo poder do badalar de seus sinos. Seu projeto tem autoria de Félix Antônio Lisboa, meio-irmão de Aleijadinho e teve sua construção iniciada em 1784.

Em 1999, a igreja foi acometida por um incêndio, que destruiu o tapa-vento (espécie de biombo de madeira colocado diante das portas para proteger o ambiente), a pintura do teto da nave, os púlpitos, o piso de madeira, os altares laterais e o telhado, além de ter danificado várias imagens e o douramento do altar-mor. Após a fatalidade, o edifício passou por um grande processo de recuperação de patrimônio, que restaurou as partes danificadas e um novo tapa-vento instalado. As imagens e altares atingidos também foram restaurados.

Pelourinho

Réplica do Pelourinho – Foto: Maic Costa/Mais Minas

Na Praça Minas Gerais também fica localizado o Pelourinho. Pelourinhos eram construídos como Marcos de Jurisdição e usados para castigar os infratores. O Pelourinho que existe hoje em Mariana não é o original e sim uma réplica, construído na década de 1970. Originalmente, o monumento foi executado por José Moreira Matos em 1750 e demolido 121 anos depois, em 1871.

No topo do Pelourinho da Praça Minas Gerais se encontra um globo, que representa as conquistas marítimas portuguesas, o Brasão Português e dois braços. No esquerdo está uma balança, que representa a justiça, e o direito segura uma espada, que simboliza a condenação. Mais abaixo, próximo da base do monumento estão duas correntes.

Casa de Câmara e Cadeia

Casa da Câmara – Foto: Maic Costa/Mais Minas

Mais uma obra do século XVIII, com seu projeto apresentado em 1768 e construção concluída em 1795, a Casa de Câmara e Cadeia já funcionou como sede de funções administrativas e legislativas, o local funcionou também como casa de fundição de ouro e senzala.

Atualmente, o prédio sedia a Câmara Municipal de Mariana, mas em seu primeiro andar ainda é possível ver suas grossas pedras, portas e grades, além dos três espaços que outrora era destinados a encarcerar homens pretos, homens brancos e mulheres.

No andar superior, três salões e cinco salas dividem o espaço, ornamentados com diversos quadros e mobiliário com estilo colonial. É lá que está localizado o Plenário da Câmara Municipal de Mariana, onde acontecem as reuniões dos vereadores marianenses. Ao lado esquerdo da construção está um vasto gramado.

Igreja de São Pedro dos Clérigos

Igreja de São Pedro dos Clérigos – Foto: Mais Minas

A Igreja de São Pedro dos Clérigos é única na Região dos Inconfidentes, por sua arquitetura diferente em relação às outras igrejas. Foi construída pela irmandade que a nomeia, tendo suas obras sido iniciadas em 1753, 22 anos após a fundação de seu templo. As obras ficaram sob responsabilidade do construtor português José Pereira dos Santos com a colaboração de Manuel Francisco de Araújo.

Apesar da preparação, as obras seguiram de forma bem lenta, avançando até o século XIX, sem nunca terem sido finalizadas. Para se ter ideia, em 1820 as obras foram abandonadas sem que as torres fossem construídas. A continuidade do projeto só se deu no século XX, entre 1920 e 1922, sob a supervisão do padre e arquiteto Arthur Hoyer, num estilo um tanto quanto diferente.

Sua decoração interna também jamais chegou a ser concluída, com o altar-mor sendo a parte mais avançada em decoração, mas ainda assim sem nunca ter recebido douração e pintura. Apesar da não conclusão, a madeira utilizada na parte interior da igreja é de alta qualidade. Há também uma grande e sofisticada estátua de São Pedro. Sua arquitetura é extremamente rara no Brasil, por ser tradicionalmente preferida nas irmandades de São Pedro, por lembrar a rotunda da Basílica de São Pedro no Vaticano. A torre da esquerda é original, sendo feita de pedra, enquanto a da direita foi erguida com tijolos, por já ter caído duas vezes.

De frente à Igreja de São Pedro dos Clérigos se destaca um cruzeiro de madeira e uma linda vista elevada sobre boa parte da cidade de Mariana, incluindo seu centro histórico. A rua que leva da parte central do município para a igreja é rodeada de lindas casas históricas e capelas, fazendo a caminhada ser ainda mais prazerosa.

Praça Gomes Freire (Jardim de Mariana)

Um dos locais mais queridos pela população de Mariana e admirados pelo Twitter, a Praça Gomes Freire, ou simplesmente Jardim, é uma linda praça no coração da cidade, que contém um coreto, um pequeno lago com chafariz, um bebedouro para animais que remete a época colonial, diversos banquinhos e, como o apelido já infere, uma quantidade enorme de flores e árvores. É sem dúvidas um dos locais mais belos da região e costuma ser ponto de encontro para famílias, casais e amigos, além de receber muitos eventos culturais realizados na cidade.

Ao redor do Jardim de Mariana se encontram diversos estabelecimentos comerciais e casas, todas com arquitetura colonial, além de haver uma bonita vista das partes lateral e de trás da Igreja de São Francisco de Assis e da Igreja da Sé, o que faz a estada no local uma experiência completa. A Praça Gomes Freire passou por grande revitalização entre 2020 e 2021.

Catedral de Nossa Senhora da Assunção (Catedral da Sé) e Praça da Sé

Catedral de Nossa Senhora da Assunção (Catedral da Sé) – Foto: Mais Minas

Ainda no centro histórico de Mariana pode-se encontrar a Catedral de Nossa Senhora da Assunção (Catedral da Sé) e a Praça da Sé, em Mariana. Este é um dos mais antigos templos religiosos de Minas Gerais, datado de 1703, quando a Região dos Inconfidentes passou a receber grande afluência de viajantes em busca de ouro.

Anteriormente, quando a cidade era apenas um povoado chamado Vila do Carmo, no local da atual catedral havia uma simples capelinha, iniciativa dos bandeirantes, expandida para andar em consonância com o crescimento vindouro da localidade que seria possível por meio da mineração do ouro.

Sua fachada sóbria não revela de antemão a sofisticada decoração da capela-mor e dos altares laterais. A capela conta, ainda, com o órgão alemão Arp Schnitger, construído em 1701 e incorporado à Sé em 1753. Diversas obras adornam a parte interior do templo, incluindo pinturas assinadas por Mestre Ataíde e Manuel Rabelo de Souza.

Atravessando a rua, há um amplo espaço chamado de Praça da Sé, onde são realizados diversos eventos culturais e esportivos em Mariana. O local abriga relíquias e casarios coloniais, além de um chafariz e um pelourinho.

Museu da Música

Um pouco afastado do Centro Histórico de Mariana, está o Museu da Música da Arquidiocese de Mariana, enorme casarão que abriga um acervo gigantesco de instrumentos e acervos musicais históricos, originários principalmente da Arquidiocese de Mariana. Fundado em 1973 pelo arcebispo de Mariana, Dom Oscar de Oliveira, o local sedia um módulo expositivo para visitantes, oferece cursos e realiza eventos e projetos científicos, sociais, culturais e educacionais na área de música, com ênfase no patrimônio histórico-musical brasileiro, especialmente mineiro.

Igreja do Rosário

A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos fica localizada no bairro Rosário, em Mariana, e conta com uma fachada sóbria. Sua localização numa parte alta da cidade, somada ao seu grande tamanho, faz com que ela seja vista de vários pontos da cidade. A igreja conta com obras de Aleijadinho, Mestre Ataíde e seu filho, Francisco de Assis Pacífico da Conceição. O altar da capela-mor da igreja, classificado como “monumental”, é de responsabilidade de Francisco Vieira Servas. A construção passou por processo de restauração na segunda metade dos anos 2010.

Seminário Menor e Capela de Nossa Senhora da Boa Morte/ICHS

Outro lindo ponto turístico da cidade de Mariana é o Seminário Menor e Capela de Nossa Senhora da Boa Morte, casa de instrução mais antiga de Minas Gerais, com data de fundação de 20 de dezembro de 1750. Os edifícios presentes no local atualmente foram erguidos para substituir o imóvel particular conhecido como Chácara da Intendência, este sim presente na fundação, por uma necessidade de expansão e adaptação do seminário. A capela, apesar de já ter sido bastante modificada, preserva a fachada original daquela construída no século XXIII.

Atualmente, o terreno está cedido em comodato à Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), e lá funciona o Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS), onde estudam cerca de 1.500 alunos.

Estação Ferroviária de Mariana e Trem da Vale

Crianças embarcando no Trem da Vale, em Mariana – Foto: Prefeitura de Mariana/Reprodução

Também revitalizada na última década, a Estação Ferroviária de Mariana é outro simpático ponto na Primaz de Minas. Contando com uma biblioteca, um playground temático e um centro de mídia para a população, o local é excelente para se conectar com o período onde os trens estavam entre os principais meios de transporte para a população.

Ainda na cidade, é possível refazer parte do trajeto que os antigos percorriam, utilizando do Trem da Vale, passeio que leva os visitantes de Mariana à Ouro Preto num lindo passeio turístico de trem por entre as montanhas da região.

Mina de Ouro da Passagem

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Outro destino turístico muito procurado em Mariana é a Mina de Ouro da Passagem, localizada no distrito de Passagem de Mariana, que separa a Primaz de Minas da vizinha Ouro Preto. O alto número de visitas ao local é explicado por esta ser a maior mina de ouro aberta à visitação pública do mundo.

O percurso de 315 metros de extensão chega a incríveis 120 metros de profundidade e é feito num trolley, uma espécie de carrinho que roda sobre trilhos semelhantes aos de trem. Dentro da mina é possível ver um lindo lago de água cristalina, formado por aquíferos que causaram inundações em quilômetros de túneis. Desde a fundação da Mina da Passagem, no século XVIII, foram retiradas dela nada menos que 35 toneladas de ouro.

Capela de Nossa Senhora dos Anjos

Capela de Nossa Senhora dos Anjos – Foto: Biblioteca de imagens do Canva

Mais um templo construído no século XVIII, a Capela de Nossa Senhora dos Anjos é uma das mais simpáticas de Mariana. Teve sua capela-mor construída em 1784 e conclusão total em 1875, sendo restaurada pelo Iphan na década de 1980.

Sua decoração é levemente despojada, mas possui talha sofisticada em seus altares, estátuas e pinturas murais. Ela mescla diversos estilos em seus adornos, o que infere a presença de obras de diversos artistas em diferentes períodos.

A localização da capela também é privilegiada, estando essa na Rua Dom Silvério, que liga a Praça Minas Gerais à Igreja de São Pedro dos Clérigos e que é quase que totalmente composta de casarões históricos.

Capela de Santo Antônio – a primeira capela de Minas Gerais

Outra construção de valor histórico incalculável é a Capela de Santo Antônio, nada menos que a primeira capela de Minas Gerais. Foi construída em 1701, pelo fundador de Mariana, Salvador Fernandes Furtado.

Com visual bem menos suntuoso que das outras igrejas da cidade, a Capela de Santo Antônio se destaca pela simplicidade e sua feição atual data do final do Século XIX. A capela fica localizada fora do Centro Histórico de Mariana, no bairro Santo Antônio (Prainha), às margens do Ribeirão do Carmo, e nela foi celebrada a primeira missa em solo mineiro.

Museu de Arte Sacra de Mariana

Inaugurado em 22 de setembro de 1962, o Museu de Arte Sacra de Mariana possui um acervo trazido de paróquias, igrejas, capelas, seminários, do Palácio Episcopal, da Arquidiocese de Mariana, e outros adquiridos através de doações e legados. Entre as obras mais icônicas está a Fonte da Samaritana, uma escultura excepcional em rococó que fazia parte dos Jardins do Palácio dos Bispos, atual Museu da Música.

Belezas Naturais de Mariana

Localizada numa área dominada pela mata atlântica e com a presença de cerrado e mata de transição, Mariana ostenta diversos cartões postais naturais, o que permite que seus moradores e visitantes que desfrutem de uma proximidade maior com a natureza se sintam contemplados assim como os apreciadores das obras históricas presentes.

Mariana divide com Ouro Preto o Parque Estadual do Itacolomi, sendo que o Pico do Itacolomi, ponto mais alto do parque (1772 metros de altura) fica localizado dentro do território marianense.

Pico do Itacolomi – Foto: Biblioteca de imagens do Canva

Outro pico bastante procurado em Mariana é o Pico da Cartuxa (1343 metros de altura), onde se praticam esportes radicais como paraquedismo e escalada. No local, há um conjunto de blocos de hematitas que alcançam 30 metros de altura. Um ponto positivo é que pelo próprio caminho há água potável, própria para o consumo.

Mariana também não deixa a desejar quando o assunto são cachoeiras. A impressionante Cachoeira do Brumado é localizada em distrito de mesmo nome e sua queda despenca de uma altura de 14 metros, rodeada de árvores. No local ainda há toda uma infraestrutura de banheiros, mesas, restaurante e estacionamento, para melhor atender os visitantes.

O visitante da Cachoeira do Brumado também pode interagir com a história dos Tropeiros no Memorial dos Tropeiros, um espaço criado para relembrar a história de homens que viajavam por dias no lombo dos burros levando as panelas fabricadas com a pedra-sabão. Além disso, o local conta com grande tradição no artesanato e na arte, com artefatos produzidos em materiais como pedra-sabão, madeira, pita e sisal, com acabamento de tirar o fôlego.

A Cachoeira da Serrinha é outro local muito buscado na cidade e a trilha feita para chegar até ela é mais um atrativo. São várias quedas d’água, com piscinas naturais, algumas rasas, outras mais fundas.

Mariana na atualidade

Atualmente, a cidade de Mariana conta com uma população que ultrapassa as 60 mil pessoas, sendo uma cidade pacata. Parte da população da cidade é “rotativa”, com trabalhadores que se deslocam para atuar na área de mineração, parte importante da economia do município, e estudantes dos dois campus da UFOP na cidade.

Mariana faz parte das cidades que compõem o Quadrilátero Ferrífero, região responsável por 60% de toda produção nacional de minério de ferro, tendo grande parte de sua arrecadação vinda do setor. Apesar de importante, o turismo não tem um impacto tão grande na cidade como tem na vizinha Ouro Preto, por exemplo.

Rompimento da barragem em 2015

Área afetada pelo rompimento de barragem no distrito de Bento Rodrigues, zona rural de Mariana, em Minas Gerais – Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Tal dependência econômica da mineração levou a cidade de Mariana a uma crise enorme em 2015, quando na tarde de 5 de novembro de 2015, uma barragem de rejeitos de minério da Samarco Mineração S.A., um empreendimento conjunto das maiores empresas de mineração do mundo, a brasileira Vale S.A. e a anglo-australiana BHP Billiton, se rompeu no subdistrito de Bento Rodrigues, localizado a 35 km do centro marianense.

O rompimento, classificado como o maior desastre ambiental do Brasil, vitimou 19 pessoas e dizimou os sub-distritos de Bento Rodrigues e Paracatu. A lama de rejeitos percorreu mais de 600 km, contaminando o Rio Doce, cuja bacia hidrográfica abrange 230 municípios, e chegando até o Espírito Santo. Uma cena do tipo voltaria a se repetir em 2019, quando uma barragem da Vale S.A. se rompeu na cidade mineira de Brumadinho.

Bairros e Distritos

Além do impressionante Centro Histórico, Mariana possui diversos bairros que diferem totalmente da parte central da cidade, com destaque aos gigantes Cabanas, São Gonçalo, Prainha, Chácara e Colina. Como boa parte da cidade cresceu com ocupações, a região periférica do município é extensa e guarda diversas atividades e um modo de vida que difere da parte antiga. Nestes locais, o asfalto predomina, deixando para trás o chão de pedras do centro e espaços para prática de esportes, como quadras poliesportivas são mais comuns, encontrando-se pelo menos uma por bairro.

Em Mariana também existem nove distritos, com particularidades e histórias que tornam cada um destes locais únicos. São eles: Águas Claras, Santa Rita Durão, Monsenhor Horta, Camargos, Bandeirantes (Ribeirão do Carmo), Padre Viegas (Sumidouro), Cláudio Manoel, Furquim, Passagem de Mariana e Cachoeira do Brumado.

Em Águas Claras é possível encontrar a linda Cachoeira do “Ó”, que se assemelha a uma praia, além de diversos doces tradicionais preparados pelos moradores. Em Bandeirantes é possível conhecer uma das mais antigas paróquias de Minas Gerais. A Cachoeira de Camargos, que fica no distrito que a nomeia, é um delicioso point para quem quer aproveitar bons banhos naturais. Em Cláudio Manoel, localidade que data de 1704, é possível observar incríveis obras arquitetônicas e paisagens belas, coroadas com um mirante natural, na Serra do Coco.

Também do século XVIII, Furquim apresenta um conjunto de casarões históricos e uma linda igreja central. O distrito é bastante conhecido por seus festejos, em especial o de Ano Novo. Em Monsenhor Horta se destacam a Sociedade Musical São Caetano, a 4ª banda mais antiga do Brasil, a 3ª de Minas Gerais e a Banda mais antiga da Região dos Inconfidentes, a Festa do Vinho e as magníficas construções da estação ferroviária, da antiga Capela de Nosso Senhor dos Passos, junto a Igreja Matriz de São Caetano, além de seus grandes casarões.

Cercado de belezas naturais, Padre Viegas, ou Sumidouro, tem em seu Festival de Cuscuz um espetáculo à parte, sendo tudo incrivelmente delicioso, podendo ser confirmado por este que vos escreve, um fã de carteirinha do evento. Distrito mais próximo da sede, Passagem de Mariana divide a Primaz de Minas de Ouro Preto e possui na Mina da Passagem seu grande atrativo. Mas não para por aí, o chamado “distrito cultural” abriga duas antigas corporações musicais, ateliês e produtores culturais. Lá também é possível conhecer a Igreja de Nossa Senhora da Glória, datada do século XVIII e da linha do trem, com casarões construídos por escravizados.

Já Cachoeira do Brumado se orgulha da queda d’água já citada neste texto. Em Santa Rita Durão, as paisagens naturais se misturam com pontos que contam a história mineira. O local, também rico em artesanato, é a terra natal do frei Santa Rita Durão, que se tornou pioneiro da Literatura Brasileira por ser autor de um dos maiores poemas épicos brasileiros, o “Caramuru”.

Educação

Como já citado anteriormente, Mariana é um importante pólo educacional, sediando Seminários e a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Por isso, na cidade, o fluxo de estudantes é intenso, inclusive com estes trazendo consigo uma forte cultura republicana. São diversas repúblicas estudantis na cidade, sejam as mais tradicionais, que seguem certos padrões, como a posse de bandeiras e hinos, ou aquelas perenes, que existem enquanto grupos de amigos precisam dividir casas.

Por essa presença forte de repúblicas, é comum a realização de eventos organizados por estudantes: os famosos “rocks”. Tais tradições se assemelham em partes com as praticadas em Ouro Preto, mas não chegam a se igualar, visto que em Mariana o contigente de estudante é menor e estes não estão diretamente envolvidos na organização de eventos municipais como o carnaval.

Cultura

Mariana é uma cidade de forte apelo cultural, contando com vasta programação anual. Desde o carnaval da cidade, que tem forte apelo histórico e familiar, com a presença de blocos com dezenas de anos de existência, incluindo o bicentenário Bloco Zé Pereira da Chácara, o mais antigo bloco carnavalesco em funcionamento do Brasil, até eventos como Encontro Internacional de Palhaços, promovido pelo Circo Volante, que em uma vez por ano abarrota a cidade de artistas circenses vindos de todo o planeta.

A cidade, como não havia de ser diferente, também apresenta forte influência religiosa em seus eventos, com as procissões, festas da padroeira Nossa Senhora do Carmo, festa de São Roque, festa de Nossa Senhora das Mercês, do Divino Espírito Santo, de São Francisco de Assis, de Nossa Senhora da Assunção, de Nossa Senhora do Rosário, entre outras. Mariana possui uma das mais tradicionais e belas Semanas Santas do Brasil e é uma das poucas cidades em que ainda se conservam os ritos em Latim, nas novenas e Missas solenes.

Não há dúvidas de que Mariana é uma das mais importantes cidades brasileiras e é daqueles locais que tem de se visitar pelo menos uma vez na vida, de preferência com tempo livre, pois são tantas atrações e história que uma rápida visita servirá somente para deixar aquela sensação de “quero mais”.