Nessa primeira quinzena de junho, fomos todos surpreendidos com a óbvia, mas inédita, constatação do tráfico de influência do ministro Sérgio Moro junto a membros do Ministério Público, evidenciando o grande jogo de cartas marcadas que foi o julgamento e prisão do ex-presidente Lula.
Já era bem estranha a relação do ex-juiz com o atual presidente Bolsonaro, afinal de contas, não é muito comum o responsável pela condenação de um adversário político ser nomeado para o superministério da justiça com promessa de vaga futura no Supremo Tribunal Federal (STF).
Entretanto, mais do que tudo isso, o que mais me chama a atenção é o fanatismo de alguns, que mesmo com tantas provas, insistem em acreditar na índole de Moro e seus asseclas. É muito preocupante este período histórico que estamos vivendo, pois ele evidencia algo gravíssimo, que é duvidar dos fatos, chegando a alguns pontos extremos, como no caso dos chamados terraplanistas, que querem retomar um debate vencido a mais de 500 anos, que é o formato geoide do planeta Terra.
O fanatismo, seja político ou religioso, mostra-se em um estágio avançado preocupante, refletindo, inclusive, na necessidade da criação de ídolos e super-heróis, como é o caso do ministro Sérgio Moro.
Criado pela mídia e surfando na onda conservadora que avançou em nosso país desde 2013, o atual ministro parece estar seguindo o mesmo caminho que um dia seguiu Eduardo Cunha, Joaquim Barbosa, Aécio Neves, etc. Ou seja: sobre o grito de somos milhões de Cunhas, Barbosas e, mais recentemente Moros, todos esses falsos heróis foram sendo construídos e destruídos, como verdadeiros tigres de papel, manipulados e descartados de acordo com o interesse das classes dominantes.
Essa relação de uso e descarte por parte dos poderosos não é surpreendente, mas enxergar essas pessoas como referências a serem cultuadas e, em alguns casos até idolatradas, de fato é curioso. Por que isso ocorre? Somente pela ação da mídia?
Eu até concordo que a mídia hegemônica joga um importante papel nisso, mas não é só. É perceptível uma grande carência de parte importante de nosso povo por ídolos, e é onde ocorre o uso comercial de pessoas comuns, nem sempre exemplos de qualquer coisa que seja, rumo a esse objetivo alienante, que é o de adorar seres humanos como se fossem semideuses.
Não faltam exemplos disso também fora da esfera política. O jogador de futebol Neymar ou mesmo diversos atores e atrizes de novela são também prova desse raciocínio, ou seja: adorar, adorar e adorar. E, no caso do espelho se quebrar, como no caso de Moro, trocar por outro espelho, até esse novamente se quebrar.
Para concluir, cabe então refletir: nós somos responsáveis pelo que pensamos ou apenas reproduzimos o que querem que pensemos?
Vale refletir…
Até a próxima.