Uma arte que circula nas redes sociais e aplicativos de mensagem pode prejudicar a imunização de crianças contra o coronavírus. Ela mostra a foto embaçada de uma criança, acompanhada por um texto dizendo que uma menina de 10 anos está internada na UTI porque teve hemorragia nos dois ovários após tomar a primeira dose da vacina.
A falsa notícia pode confundir internautas, pais e responsáveis por alguma criança que ainda não foi vacinada, pois no início do texto foi usada uma expressão comum no Brasil.
“Peço oração milagre urgente, minha sobrinha Maria Eduarda primeira dose da vacina deu hemorragia nos dois ovários dela e está na UTI hoje, eu preciso que ore por ela, Deus entra com providência. De Lençóis”.
A prefeitura de Neves Paulista divulgou na tarde de quinta-feira, 20, sobre a não veracidade do texto em questão, “É falsa essa mensagem que está circulando em grupos de Whatsapp e outras redes”, publicou.
Na quarta-feira, 19, a Secretaria de Saúde de Lençóis Paulista suspendeu a vacinação após uma criança ter parada cardíaca 12 horas depois de ter tomado a primeira dose da vacina da Pfizer.
O caso foi investigado e a conclusão do Centro de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo foi que a parada cardíaca sofrida pela criança não tem relação com a vacina contra o coronavírus.
Mais de 10 profissionais trabalharam na investigação científica. Exames foram realizados e a equipe clínica descobriu que a criança é portadora de uma doença congênita rara chamada Wolff-Parkinson-White (WPW), condição que pode provocar crises de taquicardia e até mesmo morte súbita. Os responsáveis pela criança, até então, não tinham conhecimento da doença.
Mais vacina para as crianças no Brasil
Apesar das fake news e do negacionismo de muitos em relação à ciência, temos uma boa notícia. Vai ter mais vacinas para as crianças no Brasil.
Nessa quinta-feira, 20, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a aplicação da Coronavac em crianças e adolescentes entre 6 e 17 anos.
Portanto, a vacina já está liberada para o público com comorbidade. O sistema vacinal será de duas doses com intervalo de 28 dias. Porém ainda não poderá ser aplicada em imunossuprimidos.
O imunizante em questão foi desenvolvido pelo Instituto Butantan e pelo laboratório chines Sinovac.
Depois de receber a notícia, o Instituto Butantan não se excitou em transportar as 4 milhões de doses da vacina para o Governo do Estado de São Paulo, que será responsável pela distribuição das doses. Na tarde de quinta-feira (20) mesmo já publicou vídeos transportando o primeiro lote de imunizantes que já estava pronto e o nome das primeiras crianças que foram imunizadas com a Coronavac.
Politização da vacina
A vacina da Coronavac é atacada no Brasil pelos políticos e público com viés de extrema direita. Por se tratar de uma vacina criada pela China, país que o presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores atacam constantemente, inclusive a apelidando de “VaChina”, foi veementemente atacada e alvo de fake news na internet.
Na última quinta-feira, mesma data em que a notícia sobre a autorização da Anvisa para a aplicação da Coronavac em crianças entre 6 e 16 anos foi dada, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga e a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves foram até Botucatu (SP), no Hospital da Unimed, onde a criança que mora em Lençóis Paulista e teve parada cardíaca 12 horas depois de tomar a vacina da Pfizer está internada.
No mesmo dia, depois de realizar exames, a Vigilância do estado de São Paulo descartou a hipótese de relação do caso com a vacina.
Ainda assim, o caso é usado como argumento por Queiroga e Damares para uma campanha paralela à científica, eles são contra a imunização de crianças. Tal qual Bolsonaro, que disse que não vai autorizar que sua filha de 11 anos seja vacinada.
Fake News
Como teremos uma nova pauta para “alimentar” a polarização política, evidente no Brasil, sobretudo, por se tratar de ano político, em que comumente os conflitos aumentam, provavelmente teremos acesso a muitas notícias falsas, que serão disseminadas para descredibilizar políticos ou posicionamentos como o apoio à ciência, cultura, entre outros.
A população precisa estar em constante alerta para essas falsas divulgações, que podem prejudicar a integridade física e emocional de outras pessoas ou mesmo resultar em mortes.
Ao receber uma notícia por aplicativo de mensagem, se certifique da origem da notícia, por qual veículo de imprensa ela foi produzida e se vale a pena compartilhar. Vale ressaltar que o compartilhamento de fake news é crime no Brasil.