A especialista, mestre e doutora em odontopediatria Juliana Arid conversou com a reportagem do portal Mais Minas e destacou a importância do diagnóstico precoce da agenesia dentária, ressaltando também que a saúde bucal das crianças merece uma atenção maior.
Agenesia Dentária ocorre quando falta um ou mais dentes na arcada dentária. Quanto mais cedo ela for identificada, mais rapidamente o profissional poderá trabalhar para reparar essa falta. Há pressa, tendo em vista que a falta de um dente prejudica diretamente a estética e pode deixar a criança com baixa-autoestima.
Porém, a agenesia dentária, assim como cáries e outras doenças do cunho bucal, só pode ser identificada e tratada mediante o acompanhamento da criança junto a um odontopediatra, isto posto, é extremamente importante que as crianças sejam levadas periodicamente a um consultório para que seus dentes e boca sejam examinados.
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Confira a entrevista com a Odontopediatra Juliana Arid
Mais Minas: Muitas pessoas acreditam que devem procurar odontologista somente após uma determinada idade, ou na fase adulta. Gostaria que você esclarecesse sobre a importância do tratamento dentário ainda na fase da infância.
Dra. Juliana Arid: O tratamento odontológico em crianças deveria ser iniciado durante a gestação, é o que a gente chama de pré-natal odontológico. Onde a gestante vai passar em consultas regulares, com cirurgião dentista para acompanhar a saúde bucal durante a gestação. Dessa maneira, o dentista, a gestante trabalhando juntos eles vão conseguir manter a saúde bucal da gestante em ordem, evitando assim problemas até pro bebê. Hoje em dia tem muitos estudos que mostram que problemas periodontais, ou seja problemas com a gengiva podem até levar a indução de um parto prematuro, antes do tempos.
Falando já sobre a criança, o mais correto é que a mãe busque um tratamento, um atendimento com odontopediatra antes do primeiro dentinho do bebê nascer. Dessa maneira ela já vai receber todas as informações, instruções sobre como realizar a higiene bucal antes dos dentinhos nascerem, quando nascerem os primeiros dentinhos e dessa maneira ela vai fazer tudo bem certinho, seguindo as orientações do odontopediatra.
É muito importante essas consultas periódicas, regulares para que a gente possa fazer uma prevenção. Hoje em dia na odontologia e principalmente na odontopediatria a gente valoriza muito a prevenção para a criança não ter cáries. Então passar em consultas de tempos em tempos, fazer uma limpeza, uma aplicação de flúor quando necessário, pra que assim as lesões de cáries sejam prevenidas, elas não se instalem na boca da criança. É importante que a criança aprenda com o odontopediatra a maneira correta de passar o fio dental, de escovar os dentinhos, que os pais aprendam quais os melhores produtos, como utilizar os produtos, pra que a criança nunca venha a ter carie, a gente chama “geração zero cárie”.
Mais Minas: Poderia explicar um pouco sobre a agenesia dentária, Dra.?
Dra. Juliana Arid: A agenesia dentária acontece muito mais do que a gente imagina, ela é a falta de um ou mais dentes na boca. Ela acontece mais em dentes permanentes, mas acomete também dentes de leite. Pode ser que a criança não tenha um dentinho de leite na boca. Quando ela não tem um dente de leite na boca, a chance dela não ter um permanente aumenta um pouco, pode ser também que ela não tenha o de leite, e tenha o permanente, pode ser que ela não tenha o de leite e também não tenha o permanente.
Quando tem uma história de Agenesia na família, a chance da criança ter essa “anomalia dental”, que a gente fala, aumenta, porque tem um fator genético e um fator hereditário.
A gente só consegue comprovar uma agenesia por meio de radiografia, porque as vezes o dente está impactado, ou em uma posição errada, uma posição chamada de ectópica e ele não irrompe, mas não é que a criança não tenha o dente, ele está em uma posição errada.
Quando os dentes da frente são os afetados pela Agenesia, quando não tem um canino ou incisivo, é muito fácil de perceber, os pais logo percebem. Quando é um dentinho de trás, principalmente os pré-molares já fica mais difícil, então o dente de leite fica persistindo, não cai, a pessoa não fica sabendo e deixa o dente ali, só que uma hora ele vai dar algum problema, pois o dente de leite foi feito para cair.
É muito importante ter o diagnóstico precoce, descobrir que não tem um ou mais dentes durante a infância. Assim pode ser feito um tratamento bem planejado, com odontopediatra, ortodontista, que é o dentista do aparelho e mais pra frente, muitas vezes é necessário até um implantodontista.
A Agenesia é um problema que afeta um grande número da população, o dente que sofre mais Agenesia seria o terceiro molar, o dente do ciso, muitas vezes pode acometer os pré-molares, e os incisivos: lateral, superior, inferior. É uma anomalia bem comum, mas se bem discutida e bem planejada tem um tratamento muito eficaz, sempre com trabalho em equipe.
Mais Minas: Quem é pai, mãe ou responsável, sabe da dificuldade na hora de levar a criança ao dentista, muitas crianças tem medo. Existe uma maneira de convencer os pequenos a irem ao odontologista?
Dra. Juliana Arid: Na verdade tem muita gente, crianças e adultos que tem medo de ir ao dentista. Isso pode ser decorrente de traumas na infância, então quando era menor, passou com algum dentista que forçou um pouco a barra, que fez algum procedimento que aquela dorzinha agravou. Então a gente tenta criar um mundo lúdico pra atender a criança. A gente coloca filmes, a gente tem brinquedos no consultório que remetem ao tratamento odontológico, então tudo antes de fazer a gente mostra pra criança, tenta deixar a criança o mais à vontade o possível na clínica. A criança tem que confiar no profissional, sentir que ele não vai mentir, que ele não vai enganar, sentir que vai ser uma coisa suave, vai ter um tratamento bem tranquilo.
É muito importante que os pais ajudem o odontopediatra. Nunca a gente deve usar o dentista ou um profissional da saúde como castigo, então falar “se você não ficar quietinho eu vou te levar no dentista”, porque isso assusta a criança, isso remete ao dentista, ao médico ser uma coisa ruim.
Outro ponto importante, é os pais controlarem os seus próprios medos. Tem muito pai e mãe que durante o atendimento falam “nossa, eu tenho pavor de dentista”, isso não é legal, porque a criança pensa “poxa, se meu pai, minha mãe que são adultos tem medo de dentista, é porque legal não é, coisa boa não é”. Controlar os próprios medos e passar segurança pra criança, entrar naquele mundo lúdico, naquela brincadeira da criança com o odontopediatra, entrar na “dança”, dando suporte para a criança é muito importante.
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