Com exclusividade, o Mais Minas entrevista Jorge Victor, treinador do time feminino do Cruzeiro

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Hoje é um dia histórico para o Cruzeiro. Criada no ano passado, a equipe feminina do clube estreará nesta segunda (10), na primeira divisão do Campeonato Brasileiro da categoria. O adversário será o São Paulo, que na temporada passada venceu o time celeste na final do Brasileirão A-2, competição equivalente à segunda divisão nacional. A partida ocorrerá às 19h, no Sesc Venda Nova.

De forma exclusiva, o nosso colunista João Victor Pena conversou com Jorge Victor, treinador da equipe celeste. Nessa entrevista, o comandante do Cruzeiro falou sobre o início de sua carreira, suas expectativas para o Brasileirão 2020, sua paixão por livros, seu papel na luta pelo fim do racismo no futebol e muito mais. Confira:

Experiências na faculdade e início no futebol feminino

Cabulosas

Crédito da foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro

Formado em educação física pela Universidade Federal de Minas Gerais, Jorge é um jovem treinador bem jovem. Com apenas 24 anos, o belo-horizontino atuou como auxiliar-técnico de América e Cruzeiro, antes de virar o treinador da Raposa. Durante a entrevista ele nos contou um pouco de suas experiências durante a graduação. Confira:

“Durante a minha graduação em educação física eu tive experiência com equipes de base, nas categorias sub-14, 15 e 17. Além de ter trabalhado com escolas de esportes. Também tive experiências com futsal, tanto masculino quanto feminino e com o futebol universitário”.

Segundo o nosso entrevistado, a oportunidade para entrar no futebol feminino surgiu em 2018, logo após se graduar. O responsável pelo convite foi o treinador Raphael Brito, que na época estava à frente da equipe do América. Lá, Jorge ficou até 2019, quando se transferiu para o Cruzeiro.

Chegada ao Cruzeiro e mudanças no clube

Após o fim da temporada passada, ocorreram reformulações no futebol feminino do Cruzeiro. Uma dessas mudanças foi a saída do técnico Hoffman Túlio. Jorge, que era seu auxiliar, assumiu o cargo.

Durante a nossa conversa, Jorge Victor disse que a saída do treinador foi uma surpresa e que o convite para que ele assumisse surgiu por parte da Bárbara Fonseca, coordenadora de futebol feminino do Cruzeiro. Figura crucial na carreira do jovem técnico, ela também foi a responsável por levá-lo do Coelho pra Raposa.

Mais Minas entrevista Jorge Victor, treinador do time feminino do Cruzeiro

Crédito da foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro

“A transição do América para o Cruzeiro foi bem tranquila, porque quando a Bárbara foi contratada pelo Cruzeiro, ela conversou não só comigo mas com toda a comissão, fazendo o convite e explicando a proposta de trabalho”, disse Jorge.

Por conta da grave crise financeira que vem atravessando, o Cruzeiro acabou suspendendo as atividades das categorias de base do time feminino. O clube planeja retomar as atividades no futuro, mas em um projeto desenvolvido à longo prazo. Perguntado, Jorge comentou sobre e analisou os impactos dessa decisão em seu trabalho.

“Diretamente não há impacto, porque o departamento profissional segue um cronograma, uma diretriz diferente da base. A curta prazo não há impacto, mas a nível de médio-longo prazo terá um impacto muito grande, já que há poucas expectativas de atletas ascenderem das categorias de base pro time profissional”, respondeu o treinador.

Apreço pela leitura e influências no mundo da bola

Além da paixão pelo futebol, o treinador cruzeirense demonstra ter um grande apreço por livros. Em seu perfil no Instagram, é possível fotos de várias obras, de diferentes gêneros literários.

“Sim, eu tenho apreço pela leitura. Não sei dizer favoritos, gosto de leituras de diferentes assuntos. No futebol, um livro que me marcou muito é o Defesa à Zona no Futebol, escrito por um autor português chamado Nuno Amieiro. É um livro que, agora como treinador e antes como auxiliar, me faz e me fazia pensar muito sobre o jogo e as maneiras de lidar com ele. Além dele, os livros do Guardiola. Tanto o Confidencial quanto o A Evolução. Tem também o do Renê Simões (O Dia Em Que As Mulheres Viraram A Cabeça Dos Homens) que conta trajetória da Seleção feminina nas Olimpíadas de 2004”, disse Jorge, citando suas referências de livros sobre futebol.

Junto dos livros, o técnico também citou exemplos de outros profissionais que o inspiram. Confira:

“Além dos livros, estou constantemente assistindo jogos e conversando com outros profissionais, através de sites, blogs e todos esses tipos de coisas que a internet nos proporciona. Algumas pessoas que são referência e me inspiram dentro do futebol feminino… Eu diria o Arthur Elias treinador do Corinthians, pelo perfil vencedor e pelo trabalho de longa data desenvolvido; a Tatiele treinadora da Ferroviária, atual campeã brasileira, com um modelo de jogo muito interessante e que me chama muito a atenção; e a Emily treinadora da Seleção Equatoriana, que trabalhou no Brasil e foi a primeira mulher a treinador a Seleção Brasileira. Me chama atenção por sua personalidade e pela maneira com que seus times atuavam com muita coragem. Além de disso, outros grandes treinadores como Marcelo Bielsa, Diego Simeone, Jorge Sampaoli, Klopp e Guardiola. Todos eles são grandes inspirações”.

Mais Minas entrevista Jorge Victor, treinador do time feminino do Cruzeiro

Crédito da foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro

Seu papel na luta anti-racista no futebol

Na última edição do Brasileirão, os treinadores Roger (do Bahia) e Marcão (do Fluminense) fizeram história ao promoverem a luta anti-racista e vestirem a camisa do Observatório Racial no Futebol, órgão que luta pelo fim da discriminação racial no esporte. Naquele momento, os dois eram os únicos treinadores negros da Série A, um número muito baixo e que escancara o racismo estrutural presente em nossa sociedade. 

Mais Minas entrevista Jorge Victor, treinador do time feminino do Cruzeiro

Crédito da foto: Divulgação

Na época, a ação rendeu discussões extremamente valiosas e fez com que Roger Machado abrisse seu coração, dando uma aula sobre o assunto. Perguntado sobre, Jorge nos contou um pouco de como se enxerga dentro dessa luta. Veja:

“Sim, eu acompanhei essa ação. Ela foi bastante divulgada nas redes sociais e lá é o meu canal de acompanhar futebol, principalmente masculino. Eu me enxergo dentro dessa situação como alguém oriundo de escola pública, de universidade pública e negro. Eu me vejo como mais uma das pessoas que precisam trabalhar e lutar pra alcançar o que querem. Eu tive o privilégio de minha família sempre ter tratado a educação como prioridade, então o estudo foi a maneira que sempre procurei pra vencer meus desafios com muito conhecimento e muita coragem”.

Expectativas para 2020

“As expectativas pra temporada são as melhores possíveis. É o primeiro ano da equipe na primeira divisão, primeiro ano da equipe do Cruzeiro, primeiro ano da comissão técnica, primeira ano meu como treinador de um clube do tamanho do Cruzeiro. As expectativas são as melhores possíveis. Tanto no Campeonato Brasileiro quanto no Mineiro alcançar as melhores colocações possíveis”, disse o treinador celeste, se mostrando motivado com o ano de sua equipe.

Após enfrentar o São Paulo, “As Cabulosas” terão mais dois jogos nos próximos dias. O Cruzeiro enfrentará o São José no dia 13 e o Santos no dia 16. Ambas as partidas serão disputadas fora de casa. Após o carnaval, a equipe celeste retorna à Minas para enfrentar o Palmeiras, na última partida do mês de fevereiro, no dia 29. 

O jogo será transmitido na Bandeirantes, na TV aberta, e no site da CBF e Twitter oficial do Brasileirão Feminino.

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