Tive muitas dúvidas sobre quando fazer esse texto, que exaltaria aquele que é o mais recente ícone do clube mais amado de Minas Gerais, o lendário Fábio. Pensei em fazer após a partida contra o Santos, mas era muita emoção para escrever algo minimamente coerente. Pensei em fazer logo após a partida contra o Grêmio, mas poderia parecer oportunista. Pensei em deixar para o fim da temporada, mas o julgamento poderia ser alterado de acordo com o desenrolar da temporada e das competições que o Cruzeiro disputa.
Então resolvi deixar a poeira baixar e escrever de uma vez. No meio da temporada, ainda sem nada ganho, para mostrar que independentemente de qualquer coisa, o camisa 1 que, defende nossa meta ao longo de 13 anos, é histórico para o clube.
Fábio Deivson Lopes Maciel, nascido em 30 de setembro de 1980, no Mato Grosso, iniciou sua carreira no União Bandeirante-MT, passando depois por Atlético Paranaense, Cruzeiro (num rápido empréstimo onde foi reserva) e Vasco. Até que, em 2005, voltou ao clube azul celeste para nunca mais sair.
O goleiro voltou à equipe mineira com um status bem diferente da primeira passagem, sendo um goleiro que, apesar de instável, já despontava como um dos principais arqueiros do futebol brasileiro. Suas duas primeiras temporadas foram muito boas, tanto que renderam convocações à seleção brasileira, em 2005, e prêmios individuais como o “Troféu Telê Santana” entregue aos destaques do futebol mineiro, no mesmo ano.
Mas apesar do bom início, o ano de 2007 começou sendo um calvário para o camisa 1. Tudo por conta de um clássico, em que o Cruzeiro foi goleado pelo seu arquirrival, onde o goleiro acabou levando um gol quando estava de costas, se dirigindo para sua meta. A revolta do goleiro na saída de campo e as provocações ao Cruzeiro seriam o início de um difícil período na vida de Fábio.
E nada é tão ruim que não possa piorar. Logo após o fatídico jogo, o goleiro se lesionou seriamente e perdeu boa parte da temporada, enfrentando juntamente com os problemas físicos, alguns problemas psicológicos. Foi a partir dessa situação que surgiu a tão falada fé de Fábio, que o ajudou a superar esse momento e dar a volta por cima. Apesar de já ter criticado ou reclamado muitas vezes da questão religiosa do Fábio, hoje entendo que sua crença o fez mudar e deu um direcionamento para sua carreira. Então Fábio voltou.
Ele não mais parecia aquele goleiro inseguro de antes. Nos anos de 2008 e 2009, Fábio passou a ser chamado de Muralha Azul. Sua grande fase assombrou comentaristas e torcedores em todo o país e os pedidos de seleção para o arqueiro celeste ecoaram mais alto.
Só que para Fábio sempre parecia faltar um algo mais. Primeiro, estabilidade. Depois, títulos relevantes. E, quando estes vieram, em 2013 e 2014, a decisiva Copa Libertadores de 2013 feita pelo goleiro do time rival, criou uma sensação de que Fábio não era um atleta para decisões. Foram muitas as vezes que ouvi falar que com o Fábio no gol o Cruzeiro jamais ganharia um mata-mata.
Mas Fábio seguiu se destacando. Com o Cruzeiro disputando títulos ou lutando para não cair, ele estava lá. Sempre sendo decisivo. Foi quando, no fim de 2016, ele se lesionou seriamente em meio a briga do time estrelado contra o rebaixamento. Rafael entrou e tomou conta da posição, ajudando a equipe celeste a permanecer na elite brasileira. E quando mais uma vez todos apostavam que este seria o fim de Fábio, mais uma volta por cima.
O goleiro recuperou a posição, ainda na primeira parte da temporada 2017, e de lá não saiu mais. De quebra foi talvez o principal jogador da equipe na conquista do pentacampeonato da Copa do Brasil, daquele ano, com atuações decisivas. Fábio não se dava bem com mata-matas? Mais um estigma quebrado.
Em 2018 ele segue assombrando o Brasil. Talvez, desde 2009 não vejo o arqueiro tão bem. Parece vinho que, quanto mais velho, melhor. Além de uma sucessão de milagres, Fábio parece cada vez mais especialista em defender pênaltis. Foram quatro defesas nas últimas quatro penalidades cobradas contra ele. A fase é tão boa que ele voltou a ser cogitado para a Seleção, mesmo com seus 37 anos de idade.
Suas atuações, sua dedicação, sua identificação e amor ao clube o colocam em um patamar diferente. Sua capacidade de superação e de calar repetidas vezes os críticos também. Fábio é o Cruzeiro! E seu jeito discreto dentro de campo esconde o líder que é no vestiário e o “tiozão da zoeira” que é no tempo livre e nas redes sociais. Enfim, somos agraciados por poder ver uma lenda ao vivo. E que isso aumente ainda mais com mais e mais títulos. Obrigado, meu camisa 1.
Muralha azul é um apelido batido. Para ele se encaixa melhor o termo Lenda.