Eis que no apagar das luzes de 2017 tivemos a notícia que a palavra do ano, segundo as pesquisas no site Merriam-webster, foi “feminismo”. A palavra do ano é decidida baseada nas pesquisas no site, considerando o aumento ano-a-ano no número de pesquisas de uma dada palavra e nos picos de pesquisas ao longo do ano. A palavra teve um crescimento na busca de 217%.
A notícia reafirma uma tendência à popularização do movimento feminista e um crescimento do interesse pela luta da igualdade de gêneros, que hoje ultrapassou as fronteiras do movimento organizado, com a multiplicação de coletivos não organizados e mesmo um grande número ativistas virtuais.
Obviamente que o interesse pelo movimento feminista nas redes não está descolado do que acontece nas ruas. Podemos dizer inclusive, que a atuação decisiva dos movimentos de mulheres durante o ano de 2016, em especial nos pós-golpe, delineou o caminho para que neste ano as mulheres ocupassem de vez as ruas, protagonizando grandes lutas e debates.
Já em Janeiro, as mulheres estavam nas ruas para protestar contra o Governo de Donald Trump, na Marcha das Mulheres, em que participaram aproximadamente 500mil pessoas. Dentre elas a popstar Madonna, que apareceu repentinamente e clamou que as pessoas “não aceitem esta nova era de tirania em que não apenas as mulheres estão em perigo, mas todas as pessoas marginalizadas”. “A revolução começa aqui, este é o começo de uma mudança muito necessária”, disse. Outro grande destaque nas mídias o discurso proferido pela ativista feminista e comunista negra Angela Davis.
Em Março, as mulheres ocuparam as ruas de todo o mundo, numa Greve Internacional, cujo slogan foi: “se nossas vidas não importam, produzam sem nós.”.
O ato ficou conhecido como #8M e foi um grande sucesso no país e no mundo e nos fez relembrar a greve das tecelãs russas de 1917, que é considerado marco da Revolução Russa.
As mulheres também estiveram nas ruas nas inúmeras greves chamadas pelas centrais sindicais, protestando contra as consequências da imposição do teto de gastos públicos, a famosa PEC da Morte (PEC 95/2016), combatendo as (contra)reformas do presidente golpista e ilegítimo, Michel Temer. Tudo isso porque tais reformas afetam negativamente a vida de nós mulheres com a retirada de direitos duramente conquistados.
Outra pauta com grande destaque foi o combate ao assédio sexual. Neste caso, a mídia teve uma participação significativa, com a divulgação de inúmeros casos de assédio em Hollywood e até mesmo do ator da Globo (golpista) José Mayer, que assediou a figurinista Su Tonami. O ator, além de ser afastado das novelas por tempo indeterminado, o ator fez uma carta aberta pedindo desculpas. Nas redes muitas mulheres famosas e não famosas tiveram coragem de relatar suas vivências de abusos e para apoiar as denúncias ou detalhar o que viveram por meio da #Metoo ou #eutambém.
Outro caso de grande repercussão nacional foi o de um homem que fora detido após ejacular em uma mulher no ônibus, na cidade São Paulo. A Justiça soltou o acusado, Diego Ferreira de Novais, causando grande comoção e protestos. Na semana seguinte, ele foi preso novamente ao repetir o crime.
Nos últimos meses outra luta de extrema importância para as mulheres foi o enfrentamento à PEC 181 (PEC Cavalo de Troia), que ao ampliar a licença maternidade, traz embutidos artigos que inviabilizam o aborto inclusive nos casos já permitidos em lei (estupro e feto anencéfalo). A PEC foi aprovada na Comissão por 18 (de homens) votos contra 01(uma mulher), causando grande mobilização nas ruas e nas redes. Uma comitiva de mulheres ocupou o Congresso em protesto e foram negociar com o Presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, que se comprometeu em não colocar a PEC em votação em plenário, assim como pela não retirada de direitos conquistados.
Como pudemos ver através do aumento da popularidade do feminismo, assim como do aumento de sua visibilidade, muitas mulheres puderam descobrir o que realmente é o Feminismo. Assim, podemos dizer que houve uma aproximação do movimento feminista de camadas sociais ainda não muito próximas, contribuindo para que mais mulheres se autodenominem feministas.
Entretanto, é preciso compreender que o que feminismo não se limita a um movimento cultural ou individualista, a um debate de saias ou apenas ao enfrentamento de “falas machistas”. Tampouco, deve se limitar a uma guerra de sexos ou no apoio irrestrito a toda e qualquer mulher. O feminismo é um movimento político que busca subverter as relações desiguais de poder historicamente constituídas. Em especial o feminismo emancipacionista acredita na emancipação da mulher através de sua autonomia econômica e social que, obviamente não está descolada das estruturas de poder da sociedade, da vida pública.
Por isso, esperamos que em 2018 as mulheres continuem se organizando nas ruas e nas redes e se rebelando contra este sistema capitalista, patriarcal, escravocrata e colonial que propaga todas as opressões.
Vai ter muita luta em 2018! Boas festas!