Começaremos o ano ainda no clima de nosso último artigo de 2017: “Feminismo, a palavra do ano de 2017: Mulheres nas ruas e nas redes.” Mas a pergunta que fica é: que mulheres?
Como dissemos, no artigo anterior, em 2017 a palavras do, segundo as pesquisas no site Merriam-webster, foi “feminismo”.
Como pudemos ver através do aumento da popularidade do feminismo, assim como do aumento de sua visibilidade, muitas mulheres puderam descobrir o que realmente é o Feminismo. Assim, podemos dizer que houve uma aproximação do movimento feminista de camadas sociais ainda não muito próximas, contribuindo para que mais mulheres se autodenominem feministas.
Entretanto, é preciso compreender que o que feminismo não se limita a um movimento cultural ou individualista, a um debate de saias ou apenas ao enfrentamento de “falas machistas”. Tampouco, deve se limitar a uma guerra de sexos ou no apoio irrestrito a toda e qualquer mulher. O feminismo é um movimento político que busca subverter as relações desiguais de poder historicamente constituídas. Em especial o feminismo emancipacionista acredita na emancipação da mulher através de sua autonomia econômica e social que, obviamente não está descolada das estruturas de poder da sociedade, da vida pública. Neste sentido, é de fundamental importância mudar a inexpressiva participação das mulheres na política e nos cargos de decisão.
Abordando a questão no estado de Minas Gerais, os índices são desanimadores: temos atualmente uma das menores taxas de participação das mulheres na política brasileira. Dos 8613 cargos eletivos disponíveis, somente 993 têm mulheres como titulares, um percentual inferior a 12%, sendo esta a 23a posição no País.
Se formos abordar os números das mulheres na Câmara dos Deputados, também temos números decepcionantes: Das 53 vagas reservadas a Minas Gerais na Câmara, somente CINCO foram ocupadas por Mulheres em 2014 (9,43% do total), tendo sido eleitas: Brunny (PTC, hoje PR), Dâmina Pereira (PMN, hoje PSL), Jô Moraes (PCdoB), Margarida Salomão (PT) e Raquel Muniz (PSC, hoje PSD).
Além disso, não podemos abordar as questões que vão além da representatividade. Basta qualquer mulher para nos representar? E as mulheres que atuam notoriamente contra a pauta das mulheres? Seriam estas nossas legítimas representantes?
Em 2017, tivemos votações importantes no Congresso, onde podemos notar a quem estas mulheres servem. Vejamos:
Na votação da Reforma Trabalhista, que traz grandes prejuízos as mulheres, empurrando-as para a informalidade do trabalho intermitente e trabalho precarizado, permitindo inclusive grávidas trabalharem em locais insalubres, veja como votaram as parlamentares do sexo feminino mineiras: Jô Moraes (PCdoB-MG), Dâmina Pereira (PSL-MG) e Margarida Salomão (PT-MG) votaram contra a Reforma Trabalhista; enquanto Raquel Muniz (PSD-MG) e Luzia Ferreira (PPS-MG) votaram sim à Reforma.
Já na votação de denúncia contra o Presidente Golpista Michel Temer, destas deputadas acima citadas, apenas Jô Moraes e Margarida Salomão votaram contra o relatório do Deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG). Ou seja, apenas estas votaram pela investigação contra Michel Temer.
Por isso mulheres, devemos lembrar que a questão vai muito além de uma representatividade pura e simples. A questão deve ser: que mulher defende nossas pautas com legitimidade?
Feminismo liberal x feminismo emancipacionista.
Em especial, nossas representantes devem dialogar com a maior parte das mulheres brasileiras, que são negras e trabalhadoras e que sofrem cotidianas e múltiplas violências. Nossas representantes devem compreender a necessidade de pautas básicas como saúde, educação, emprego, transporte e moradia.
Mulher que representa oligarquia não nos representa! Mulher que perpetua nossa cultura escravocrata não nos representa!
Nossa luta é paralela à luta de classes. Nossa luta é com a mulher trabalhadora.
Continuamos no próximo artigo. Até mais!