Nesta terça-feira (5), se completaram quatro anos do rompimento da barragem da Samarco em Mariana. Mesmo depois desse tempo, os estragos deixados pela lama ainda permanecem, e, talvez, fiquem ainda muitos e muitos anos. Além da perda de vidas, material e sentimental, rios e solos também foram prejudicados. Por isso, a Fundação Renova, responsável pela reparação dos danos da tragédia, encomendou um Estudo de Avaliação de Risco à Saúde Humana (ARSH), realizado pela empresa Ambios Engenharia e Processos, que comprovou que o solo e a poeira proveniente da lama estão contaminadas com altos índices de metais pesados.
O estudo coletou amostras em oito distritos que pertencem à Mariana e à Barra Longa, ao longo de 2018. Os de Mariana são: Bento Rodrigues, Camargos, Ponte do Gama, Paracatu de Baixo, Paracatu de Cima, Pedras, Borba e Campinas. E os de Barra Longa: Barretos, Mandioca, Gesteira, Volta da Capela.
A pesquisa feita pela empresa teve sua conclusão e envio para à Renova no dia 22 de março de 2019. Logo após, no dia 17 de maio, os dados foram enviados para a Secretaria de Estado de Saúde de Minas, que também fizeram estudos das amostras.
Até hoje, os moradores de Mariana e Barra Longa ainda não têm conhecimento oficial do risco a que estão expostos. Eles não sabem dos danos à saúde que o contato com os rejeitos de minério, que fazem parte da terra, e das águas poluídas do Rio Doce, podem causar a curto, médio e longo prazo.
A Agência Pública teve acesso ao arquivo completo do estudo. Veja.
Resultados
Na poeira, foram encontrados cádmio, níquel, zinco e cobre, que estão acima dos limites de segurança permitidos na legislação do país. As concentrações de cádmio, estão 17 vezes maiores do que o valor aceito. Esse metal é considerado tóxico e cancerígeno para os seres humanos, segundo a Agência Internacional para Pesquisa do Câncer. A concentração de níquel está presente 5 vezes acima dos padrões.
Esses metais podem causar diversas alergias, que possuem coceira, vermelhidão na pele, tosse e congestão nasal como sintomas, de acordo com a pesquisa feita.
Na pesquisa, também foram analisados alguns alimentos que possuem contato direito com o rejeito, (como frutas), e também em alimentos provenientes de animais (leite e ovo). As águas do Rio Doce também foram analisadas. Em nenhum deles foi encontrado uma quantidade alarmante de metais pesados para a saúde. Mas os pesquisadores alertam que a longo prazo pode haver sim algum risco.
Ainda de acordo com o relatório, as cidades foram classificadas como “Local de Perigo Categoria A: Perigo urgente para a Saúde Pública”, que significa “que existe um perigo para a saúde das populações expostas aos contaminantes definidos através da ingestão, inalação ou absorção dérmica das partículas de solo superficial e/ou da poeira domiciliar contaminadas”.
Omissão das informações
Desde agosto deste ano, foi solicitado pelo Ministério Público Federal (MPF), que a Renova e o governo tornassem públicos os resultados aos atingidos, porém, isso não aconteceu. Com isso, adiaram ações necessárias que poderiam minimizar os impacto à saúde dos moradores.
Estava previsto que a comunicação aos atingidos deveria acontecer entre os dias 22 a 25 de setembro. Porém, a pedido do Estado, as atividades foram adiadas por noventa dias. Com isso, a informação só chegará aos atingidos no dia 22 de dezembro.
Em nota, a Renova justifica o atraso. “Em cumprimento à Nota Técnica 11/2017, todos os dados, informações e relatórios produzidos pelo estudo são proibidos de serem publicados pelas instituições contratadas e pela Fundação Renova, sem autorização das autoridades públicas.
Danos à saúde
No ano passado, de acordo com pesquisas independentes, já havia fatos que comprovavam que cerca de 11 pessoas tinham sido contaminadas por metais pesados. E agora, com o resultado da primeira fase do estudo, é possível entender e justificar o aumento do número de problemas respiratórios e dermatológicos da população.
“Estes metais têm diferentes graus de potencial tóxico, ou lesivo, à saúde humana. Ações de saúde específicas devem ser implementadas para a prevenção, diagnóstico e tratamento dos possíveis agravos à saúde. A população deve ser monitorada para a exposição que ocorreu no passado, ainda ocorre, e pode vir a ocorrer no futuro, caso medidas de interrupção da exposição não venham a ser adotadas”, recomendam.
A Ambios destacou no estudo que o desastre em Mariana trouxe consequências na saúde e qualidade de vida da população estudada, e que essas consequências superam o efeito danoso específico dos metais pesados na saúde, e que essas consequências continuam fazendo vítimas.
*Com informações da apublica.org.
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