“Inacreditável” (“Unbelievable”) atrai fortemente porque conta fatos que realmente aconteceram, uma história forte, incrível por suas implicações e pelas grandes verdades que esconde. Mas, tendo superado a parte que torna a história mais envolvente, porque é verdadeira, ela foi escrita muito bem, com personagens bem definidos e com um ritmo narrativo que quase parece que, desde o início até o final de cada episódio, o tempo voa literalmente sem que você perceba. Um recurso que, para qualquer devorador de séries, é fundamental.
Sobre a história
Estamos em 2008, em Lynnwood, no estado de Washington, Estados Unidos. Uma jovem de dezoito anos chamada Marie Adler começou sua vida sozinha depois de uma infância difícil: abandonada por seus pais ainda criança, ela passou por vários orfanatos diferentes e famílias de acolhimento, com todos os problemas e questões sociais e psicológicos que se seguem, até quando ela vai morar em uma área de uma comunidade para crianças em dificuldades, onde encontra apoio e amizade.
Numa determinada noite, no entanto, enquanto Marie está dormindo, um homem encapuzado entra furtivamente em seu apartamento, ameaçando-a, amarrando-a e estuprando-a por várias horas. Depois que o estuprador sai de casa, Marie toma coragem e liga para a polícia para denunciar o fato.
Marie é uma garota difícil, com uma história complicada por trás, e seu temperamento, seus modos de fazer as coisas, parecem estranhos, tanto para os agentes que acolhem sua queixa quanto para as pessoas ao seu redor. Na mente de muitos, a ideia de que a garota pode ter inventado tudo para querer atrair atenção para si mesma começa a ganhar forma. Um caminho errado, que leva os agentes a pressionar as inseguranças de Marie e a psique traumatizada, até que ela a convence a registrar uma declaração na qual explica que inventou tudo: o estupro nunca aconteceu, exceto em sua imaginação.
Quando a notícia começa a aparecer na mídia, Marie também recebe uma queixa por falso testemunho, é julgada e considerada culpada. No entanto, o dano não é apenas legal; todos os amigos e pessoas próximas também lhe dão as costas, tratando-a como uma mentirosa e uma farsa.
Algum tempo depois, do outro lado do país, as detetives Stacy Galbraith e Edna Hendershot se vêem seguindo os rastros de um estuprador em série que, no final, mais de dois anos após seu depoimento, será o mesmo que violentou Marie. O como e o porquê você vai ter que descobrir assistindo os oito episódios da série.
A história de Marie Adler, que trata de questões muito importantes e exemplares, como estupro, abuso de poder policial, mau trabalho de investigação com vítimas de estupros, além da falta de sensibilidade. O caso deveria estar na primeira página de todos os jornais,, no entanto, isso nunca aconteceu. Em 2015, dois jornalistas, T. Christian Miller e Ken Armstrong, escreveram um relatório chamado “Uma história inacreditável de estupro” detalhado os fato. O relatório foi publicado nos sites Pro Publica e Marshall Project e, mais tarde, deu origem a um livro, publicado pela Editora Leya no Brasil. É nesse relatório que a série foi inspirada.
Inacreditável: uma série que fala de mulheres para mulheres
A história contada em Inacreditável é, sob todos os aspectos, uma história de mulheres. Não é que não haja homens que sejam decisivos para a história, mas o que a série quer sublinhar é que, às vezes, a abordagem feminina e a capacidade de sintonizar as emoções de outras mulheres são fundamentais.
A história traz à tona questões ainda muito delicadas e às quais pouca importância é dada, como a das mulheres vítimas de estupro. Muitas vezes, ouve-se que “a mulher procurou ou provocou o ato”. Não é necessariamente uma leitura misógina dos fatos, mas ainda é uma realidade com a qual estamos lidando.
Uma história de mulheres para mulheres, portanto, mas não apenas, porque todo mundo precisa refletir sobre essas questões porque, como bem reforça a série, o estupro é “algo que você sempre carregará com você, como uma bala na coluna ” .
Por fim, Inacreditável é uma história que fala de amizade, compartilhamento e cooperação entre mulheres. Se você ainda não viu a série, recomendo que veja o quanto antes.
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