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Lama nova, lembrança antiga

01/03/2020 às 08:00
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3 min

Já dizia Chico Science: “da lama ao caos, do caos à lama, um homem roubado nunca se engana”. Nada mais verídico para que quem vive em Minas Gerais, outrora terra das minas, hoje terra da lama, não é mesmo?

Em Governador Valadares, por conta das cheias que tivemos no mês de janeiro que levaram o rio Doce a transbordar, foi noticiado em diversos veículos da imprensa a presença de um pó preto, que além de impregnar nos locais, ao bater sol forte brilha.

Ora, para quem vive na região dos Inconfidentes isso não é nenhuma novidade, basta dar uma volta no centro de Mariana, Ouro Preto ou Itabirito com sol que o chão todo brilha, portanto, o novo problema relatado pelos atingidos pelas cheias de janeiro é um problema antigo aqui da nossa região.

Esse pó preto não é nada mais que o famoso óxido de ferro, um dos componentes do minério de…ferro, típico de regiões onde existe alta extração desse mineral. Talvez o que surpreenda seja sua ocorrência tão longe de nossas terras, algo que pode ser explicado, adivinha por quem? Claro, pela lama!

Essa ocorrência, na realidade é muito grave se formos pensar friamente, afinal a única forma de estar presente nas cheias do rio Doce é pela lama, logo podemos deduzir que o índice de contaminação por minério de ferro das águas do rio em questão não parece estar dentro dos parâmetros regidos por lei, afinal se nunca viram óxido de ferro na água e no barro e agora ele aparece só pode significar uma coisa: tem algo errado!

Antes de mais nada é importante entender como se dá a contaminação com essa substância, afinal ela é pesada e acaba por se sedimentar quando misturada à água, explicando o motivo de seu aparecimento após a enchente, afinal a cheia do rio movimentou a lama do fundo trazendo o rejeito de volta para o corpo hídrico, que ao transbordar, contaminou com minério de ferro todo o seu entorno. Também é provável que toda a captação de água da região tenha sido afetada, afinal as cheias dos rios sempre afetam também os centros de distribuição hídrica.

Apesar de não causar morte imediata, dizer que esses sedimentos não são tóxicos é exagero, pois aos poucos esse minério vai se concentrando novamente no fundo do rio e alterando as condições locais, sendo que, toda vez que tivermos cheia, veremos novamente o brilho do óxido de ferro nas ruas e nas casas dos cidadãos atingidos. Cabe destacar ainda que essa alteração da biota que este elemento causa, atinge diretamente plantas e animais, especialmente peixes, por isso toda vez que temos alteração das condições de um corpo hídrico aparecem peixes mortos, pois eles são os primeiros a sentir os efeitos tóxicos.

Bom, para concluir cabe mais uma vez afirmar o óbvio: levam nosso minério e nos deixam somente com a lama, ou seja, carregam nossa riqueza e nós, mineiros, que nos lasquemos. Até quando serviremos de bucha de canhão para grandes empresas que não se preocupam conosco?

Por um novo marco regulatório da mineração já! Abaixo a extração mineral irresponsável!

Até a próxima.

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