O maior desastre ambiental da história do país completa seis anos nesta sexta-feira, 5 de novembro. Foram 62 milhões de metros cúbicos de lama, vindos do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, que matou 19 pessoas, atingiu mais de um milhão de área florestada, 853 km do Rio Doce, acabou com os distritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo.
Na manhã de hoje, protestantes foram até a entrada da Samarco protestarem contra a empresa dona da barragem e, no início desta tarde, mais manifestantes foram até a Praça Minas Gerais, principal ponto turístico da cidade, protestar contra a falta de reassentamentos e impunidades envolvendo o crime ambiental.
Além dos membros do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), alguns atingidos de Paracatu de Baixo também estiveram presentes na manifestação e mostraram a sua indignação. Jerônimo Batista questionou a lentidão da Justiça brasileira, já que após seis anos nenhuma casa ainda ficou pronta no subdistrito de Mariana.
“Isso (o rompimento) não era para ter acontecido nunca, mas aconteceu. Parece que fizeram até de proposto, de tanta ganância. Não pensaram na população, se tivesse, não tinha acontecido isso. Eles não estão fazendo nada, só recorrem a tudo o que fala. Eu acho isso muito errado, a Justiça brasileira está muito fraca nesse respeito. Eu sou de Paracatu, tem seis anos que estamos sofrendo, não temos moradia ainda. Lá em Paracatu iniciaram apenas duas casas até o momento. Eu sou atingido direto, porque eu morava próximo ao rio. Se eu tivesse dormindo, eu teria ido embora também. Eles falam que pagam não sei quantos milhões, eu não recebi nada até agora”, disse o atingido.
Outros atingidos que falaram com os manifestantes falaram sobre parentes e amigos que morreram sem ver suas casas construídas.
“A minha mãe foi uma das que tinha esperança da nossa casa ficar pronta, a Renova batia na minha casa e dizia que a casa ia estar pronta. Ela foi embora sem a casa dela, meu avô morreu no sábado passado, minha tia e outras pessoas. Nós, até hoje, não temos nada, não tem nenhuma casa em pé. Nunca pensei que aconteceria isso. A barragem estoura e não acontece nada. A gente, para cobrar, tem que passar pela justiça e tudo mais, nós somos humanos e tem seis anos que não temos nossas casas”, disse Raiane Rosa de Oliveira, também atingida de Paracatu de Baixo.
De acordo com a Fundação Renova, entidade responsável pela reparação, seis residências tiveram obras iniciadas, mas apenas a montagem de instalação foi concluída.
A previsão é que o reassentamento abrigue 81 famílias em Paracatu de Baixo. A Renova informou que 64 projetos básicos foram protocolados na Prefeitura de Mariana. Foram liberados, até o momento, 51 alvarás de casas e emitidos cinco alvarás para bens coletivos.
Em Bento Rodrigues, apenas 10 das 203 casas foram finalizadas, de acordo com a Fundação Renova.
De acordo com o MPMG, o prazo inicialmente informado pela Fundação Renova para a entrega das casas era março de 2019. Depois, a partir de decisão judicial, foi fixado o dia 27 de agosto de 2020. Por fim, uma nova determinação da Justiça definiu o dia 27 de fevereiro deste ano como a data final para a entrega das casas.
Mesmo após seis anos desastre, ainda não houve nenhuma punição no processo criminal envolvendo a tragédia de Mariana. Em 2019, a 4ª Turma do Tribunal Regional Federal, da 1ª Região, no Distrito Federal, decidiu por unanimidade, retirar o crime de homicídio de dois acusados de envolvimento no rompimento da Barragem de Fundão, da mineradora Samarco. O mesmo foi feito com os outros réus.
O prefeito interino de Mariana, Juliano Duarte (Cidadania) utilizou as suas redes sociais para manifestar apoio aos atingidos pela tragédia da Samarco.
“Gostaria de mandar um abraço e a minha solidariedade a todos os atingidos que até hoje não tiveram as suas residências construídas. Paracatu e Bento Rodrigues andam a passos lentos pela Fundação Renova. Estamos nos reunindo mensalmente com as comissões de Bento Rodrigues e Paracatu para auxiliá-los e apoiá-los nas questões junto à Fundação Renova. Queremos que eles tenham todo o direito de indenização, construção de suas residências e de uma moradia”, disse Juliano.
Segundo o presidente da Câmara Municipal, Ronaldo Bento (PSB), Mariana segue com problemas de queda de receita, deixando de arrecadar cerca de R$ 60 milhões por conta do desastre da Samarco. Juliano Duarte, em seu pronunciamento, se atentou aos problemas com a economia gerados pelo rompimento da barragem de Fundão e destacou uma alternativa para as pessoas que foram lesadas financeiramente pela tragédia.
“A nossa cidade sofreu muito nesses últimos seis anos, tivemos uma queda brusca de receita, vários comércios fecharam as portas e muitas pessoas foram demitidas. Para todas as pessoas que tiveram prejuízos, peço que fiquem atentos. Foi distribuída uma nova plataforma, através da decisão da Justiça Federal, que todas as pessoas que comprovarem que tiveram prejuízos não deixem de procurar um advogado, acessem a plataforma e revejam os seus direitos”, salientou o prefeito.
Por fim, Juliano Duarte defendeu uma nova repactuação de reparação e também a extinção da Fundação Renova.
“Neste ano já estive pessoalmente com Romeu Zema e o presidente do Senado Rodrigo Pacheco. Defendemos que a repactuação seja nos mesmos moldes de Brumadinho, que o recurso seja repassado diretamente para as cidades atingidas e que ocorra a extinção da Fundação Renova, que possui um sistema burocrático e que não avança, não tem o apoio da cidade de Mariana”, finalizou.