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Mulheres organizadas contra o assédio no carnaval: “Cadê meu celular, eu vou ligar pro 180!”

11/02/2018 às 23:17
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4 min

Ainda estamos em fevereiro, mas as mulheres já travaram muitas lutas neste ano de 2018. O calendário de lutas feministas inicia com uma grande mobilização dos movimentos de mulheres sobre o tema “assédio” no carnaval. 

Mulheres organizadas contra o assédio no carnaval: “Cadê meu celular, eu vou ligar pro 180!”

Segundo dados da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres (SPM) do governo federal, as denúncias de violência sexual no Carnaval do ano passado aumentaram 87,9% em comparação à folia de 2016. 

O que comumente chamamos de assédio são condutas ou manifestações grosseiras, que independem independente da vontade da pessoa a quem é dirigida e que pode ser configurado como crime, dependendo do comportamento do assediador. É o famoso “fiu fiu” e suas variações mais vulgares, que se tornam muito mais corriqueiros nos dias de folia. 

Segundo informações do site justificando: 

“Paquera ou assédio? Quando um homem tem interesse em conhecer uma mulher, ou elogiá-la, ele não lhe dirige palavras que a exponham ou a façam sentir-se invadida, ameaçada ou encabulada. Caracteriza-se como assédio verbal (artigo 61, da Lei das Contravenções Penais n. 3.688/1941), quando alguém diz coisas desagradáveis ou invasivas (como podem ser consideradas as famosas “cantadas”) ou faz ameaças. Apesar de ser considerado um crime-anão, ou seja, com potencial ofensivo baixo, também é considerado forma de agressão e deve ser coibido e denunciado.”.

Felizmente, a maior parte das mulheres já compreende que não deve entender estes comportamentos como normais e tem se unido, em campanhas frequentes, para enfrentar a naturalização da cultura machista no carnaval. 

Uma destas campanhas é a #aconteceunocarnaval, de iniciativa dos Mete a Colher, Women Friendly e redes Meu Recife, Minha Sampa, com o apoio de outras redes. O principal objetivo da campanha é registrar denúncias de casos de assédio no carnaval para construir um Mapeamento dos locais onde acontece maior incidência de violência de gênero. O gráfico a seguir mostra o resultado do Mapeamento feito no ano passado na cidade de Olinda (PE). 

Figura 01 – Tipos de assédio mais sofridos no carnaval de 2017

Fonte: Relatório da Campanha de conscientização contra o assédio sexual durante o Carnaval de Recife e Olinda.Disponível em: https://s3-sa-east-1.amazonaws.com/instintodevida/assets/aconteceunocarnaval_imprimir3.pdf

Este número possui abrangência nacional e funciona 24 horas por dia. Ao ligar neste número, o denunciante (sendo a vítima ou alguém que presenciou uma violência) é atendido por profissionais treinados que dão orientações de forma gratuita, abrem um protocolo e encaminham os casos para as autoridades competentes. 

No último Carnaval, o Disque 180 registrou 2.132 queixas de mulheres. A violência física foi o principal motivo das ligações (1.136). Em seguida, vem a violência psicológica (671), sexual (109), violência moral (95), denúncias de cárcere privado (68), violência patrimonial (49) e tráfico de pessoas (4). 

Por considerar este canal de extrema importância para o enfrentamento à violência contra as mulheres, é que em Ouro Preto, a União Brasileira de Mulheres busca tornar obrigatória a colocação de placas com o número do Disque 180 no município. A entidade feminista vem coletando assinatura para o projeto de lei de iniciativa popular, que necessita de aproximadamente 3.000 assinaturas para ser enviado à Câmara Municipal de Ouro Preto. 

Paralelamente a isso, a Rede Municipal de Enfrentamento à Violência contra as mulheres (lançada em Novembro/2017) começa a difícil tarefa delinear um protocolo para atuação nos casos de violência. Estas duas iniciativas são complementares, e caracterizam o protagonismo da sociedade civil organizada de Ouro Preto na formulação de políticas públicas voltadas à prevenção da violência contra a mulher.

Finalmente, destacamos o quanto é incipiente a estrutura de nosso município em políticas para as mulheres. É preciso dar um grande passo e instituir uma política municipal efetiva voltada para as mulheres, que considere que a maior parte delas é negra (70% da população ouro-pretana se reconhece como negra) e trabalhadora. Estas mulheres sofrem múltiplas violências estruturais e cotidianas. 

É preciso seguir em frente, organizando as mulheres para o enfrentamento da cultura machista… Lutando contra a violência e a cultura machista, lutando por uma outra sociedade. Organizando para desorganizar.

Por todas as mulheres, nenhum passo atrás!  

Última atualização em 18/05/2022 às 23:20