Marchando e com os rostos fechados, roupa branca, um pinico esmaltado branco na cabeça e um rolo de papel higiênico, o grupo folclórico Bandalheira passa ligeiro, fazendo os foliões correrem atrás dele pelas ruas de Ouro Preto (MG).
Há anos o grupo traz alegria aos foliões ouro-pretanos e turistas que vem de toda a parte do Brasil e do mundo prestigiar o carnaval da cidade histórica. São 48 anos embalando e encantando a todos em uma tradição que passa de pai para filho. “A Bandalheira foi criada pelo meu irmão Virgílio Augusto Alves. Nós somos quatro irmãos, todo mundo faz um pouquinho pelo bloco, cada um dá a sua parcela de colaboração, mas ele quem teve a ideia de criar a Bandalheira, isso foi em 1972, atualmente ele mora em Cachoeira do Campo”, disse Alcindo Alves Filho, atual presidente do bloco.
A Bandalheira passa marchando veloz, tão rápido que o público quase não consegue acompanhar. Só quem já ouviu “Ô Minas Gerais” e outros clássicos em ritmo de marchinha e já saiu correndo atrás tentando acompanhar, entende o porquê de tanto sucesso.
Neste ano a Bandalheira fará sua apresentação no domingo (23). A concentração do bloco é na Ponte Seca. Já na segunda (24) é a vez das crianças desfilarem com os trajes brancos, essa é a Bandalheira Mirim, que também passará correndo pelo Centro Histórico de Ouro Preto.
Embora Alcindo seja o presidente oficial, ele disse que já está passando responsabilidades para o filho Pedro Ivo Amaro Alves, que fez parte da Bandalheira Mirim desde 1976, ano em que ela foi criada. Ele lembra que o bloco Mirim foi criado justamente para isso, para que a tradição da Bandalheira não morra. “A minha gestão já está vencida, agora nós vamos fazer uma eleição para colocar o Pedro como presidente pra não sair da família, porque ele está tomando a frente em tudo, ele cuida da parte da internet e tá sempre fazendo tudo e me auxiliando, aliás, ele está fazendo mais do que eu hoje“, diz Alcindo. “Nós vamos fazer uma eleição com ata registrada, mas o bloco já escolheu o Pedro como presidente“, finaliza o atual gestor da agremiação.
Para esta edição do carnaval, o presidente avisou que já está tudo pronto. O grupo comprou com os próprios recursos os instrumentos que faltavam, e agora aguarda o repasse da Prefeitura. “Fizemos uma reunião, onde foi firmado um contrato, a bem da verdade tem uma empresa que está recolhendo os recursos para a Prefeitura através da Lei de Incentivo a Cultura, eles quem repassam para nós, blocos, escolas de samba, etc“.
“Aqui no bloco a gente nem convida as pessoas para saírem, é livre, não paga nada, o pessoal só tem que chegar aqui com o uniforme e a gente pede que as mulheres tragam flauta, pois os instrumentos que a gente tem aqui são muito pesados para carregar e tocar“, ressalta Alcindo.
Sobre a forma rápida na qual a Bandalheira passa, Alcindo deu a dica: “É uma ciosa interessante, a própria física explica isso, por exemplo, um soldado, se ele for andar, ele vai cansar mais, o que eles fazem, eles marcham, soldado marchando, banda tocando, a pessoa anda quilômetros e quilômetros sem cansar, você já ouviu falar que soldado cansou em desfile? Então, por isso é que o pessoal da Bandalheira cansa muito menos do que se tivesse saindo em um bloco qualquer balançando e requebrando. Mas, como Ouro Preto é uma cidade montanhosa, quem está na frente as vezes diminui o ritmo até para preservar a saúde daqueles que já estão com a idade um pouco mais avançada, não podemos brincar com isso não, inclusive nós pedimos para Prefeitura enviar um médico para nos acompanhar, todo ano nós pedimos, mas eles nunca mandam, se acontecer alguma coisa, nós temos registrado que o bloco pediu, então, não é responsabilidade nossa“, conta o presidente do bloco.
Sátira ou Homenagem a Bandas Civis e Militares?
“Somos uma sátira e uma homenagem às bandas civis e militares”, é assim que o grupo se auto-define. O grupo, que começou com 20 pessoas e hoje tem mais de 200 participantes, respeita a opinião de todos.
Segundo Alcindo, a sátira nunca incomodou a classe policial, com exceção de quando o bloco decidiu escrever no pinico branco a sigla BOP, que significa Bloco Bandalheira de Ouro Preto. Na ocasião, um capitão da polícia da época pediu que o nome (que foi colocado em fita isolante) fosse retirado, pois o B de Bandalheira poderia ser confundido com B de Batalhão. Prontamente Virgílio, Alcindo, seus irmãos e toda a bandalheira retiraram os dizeres e o bloco seguiu na sua normalidade.
Trabalho Social
No dia 16 de fevereiro de 2020, a Bandalheira, juntamente com a Sociedade Musical Senhor Bom Jesus das Flores, fez um carnaval para os idosos do asilo Lar São Vicente de Paula. Na ocasião a alegria do carnaval preencheu o local.
Bandalheira no Carnaval de Ouro Preto 2020
Para a festa de 2020, Alcindo manda o recado e convite a todos os leitores:
Convido o pessoal de Ouro Preto e da região dos Inconfidentes pra vir, participar, é uma brincadeira boa, sadia, ninguém briga, ninguém paga nada, não tem essa coisa de cobrar abadá, camisa branca, calça preta todo mundo tem, a pessoa vai gastar só um pouco mais com o pinico, porque infelizmente nessa época quem tem pra vender vai subir um pouco o preço. Mas aqui não tem que pedir pra sair no bloco, é só chegar uniformizado, o convite é o uniforme, é como se o uniforme fosse a entrada pra Bandalheira.
Datas:
Bloco Bandalheira
Dia: 23/02/2020
Horário: 13h
Local de concentração: Ponte Seca (Rua Cônego Simões)
Bloco Bandalheira Mirim
Dia: 24/02/2020
Horário: 13h
Local de concentração: Ponte Seca (Rua Cônego Simões)
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