Na verdade, eu gostaria de começar este texto melhorando seu título, na verdade Ouro Preto não é um município degradado pelas chuvas, mas sim pelo pouco caso da administração pública que teve mais de um ano para tomar providências acerca das tragédias de 2022 e que, infelizmente, seguem mais vivas do que nunca.
Para quem observa as redes sociais da prefeitura, além de parecer que está tudo normal, é possível perceber que o tema do momento é o carnaval. A festa momesca nas cidades históricas é algo famoso em Minas Gerais, não só por aqui, mas em Diamantina, Pompéu e outras que fazem parte deste circuito.
Sem dúvida que o fortalecimento dos blocos carnavalescos em Belo Horizonte diminuiu um pouco o ímpeto da festa no interior, mas ela ainda permanece, em especial pela sua tradição, em nosso caso, sejam nas ruas ou nas repúblicas estudantis, onde está uma parcela importante dos foliões.
Em tempos normais, a festa recebe o apoio de quase toda a comunidade, haja vista o aumento de renda para o comércio, a rede hoteleira, bares, restaurantes e, em especial, dos ambulantes, catadores de latinha, seguranças de festa, churrasqueiros, entre outros bicos que os trabalhadores fazem para aumentar sua renda e que, muitas vezes, são invisíveis para quem vem de fora.
Outro beneficiado são os estudantes, que cobrando valores elevados para os turistas saírem em seus blocos, com direito a shows famosos e open bar, conseguem se manter, reformar suas residências (muitas inexplicavelmente abandonadas pela UFOP) e organizar festas ao longo do ano.
Bom, o problema deste ano é que não estamos falando de um tempo normal, estamos observando um cenário de guerra em Ouro Preto, com o Morro da Forca podendo desmoronar a qualquer momento, o asfalto da curva do vento rachando, entre outros problemas.
A UFOP, através de seu conselho universitário, se manifestou contrária ao uso de seu estacionamento para a folia, demonstrando o nível de preocupação com o cenário que estamos vendo.
O que deve acontecer, mais uma vez, é a migração das concentrações dos blocos estudantis para outras áreas da cidade, evidenciando, inclusive, uma clara privatização do espaço público para favorecer alguns.
A primeira pergunta que fica é: a comunidade foi consultada? Ou a prefeitura ou o dono do espaço está alugando para outrem sem ouvir alguns dos que sofrerão impactos diretos e indiretos com a folia? Me parece que nada, nem ninguém, está sendo consultado…
Outro ponto que chama a atenção é o transporte público. É uma odisseia sair do São Cristóvão e chegar em Saramenha haja vista o monte de vias impedidas de circular, com a cidade recebendo milhares de pessoas por uma semana, como vai funcionar o trânsito? Vai ser possível circular onde já não está sendo possível?
Daqui sete dias vamos observar o retorno das aulas nas escolas, aumentando a circulação de pessoas significativamente. Será um bom teste para vermos se damos conta do que está sendo proposto pelos gestores públicos de maneira, no mínimo, irresponsável.
Ano passado não tivemos folia por conta da pandemia e a cidade estava (e segue) um caos, será que é hora de irmos por este caminho? Não seria mais fácil criar no município um carnaval fora de época? Inclusive que não tenha a concorrência de outras cidades do interior e da própria capital?
Será que vale o risco de assistirmos uma tragédia nunca antes vista por aqui para garantir a tradicional festa de momo?