Lançado no fim de 2019, Venturo é o primeiro disco solo de Ecologyk. Com carreira longa na música, o produtor paulista iniciou na eletrônica, onde trabalhou como DJ durante muitos anos. Hoje, o artista mudou os rumos de sua carreira e trabalha com o rap, tendo se tornado um cara consolidado na cena. A Asfalto Rec, sua gravadora e estúdio, se tornou um local muito frequentado por músicos dos mais diversos estilos. Dudu, Leozin, MC Pedrinho, Konai, JaYa Luuck, Jade Baraldo, Duzz e outros, são figuras recorrentes por lá.
Seguindo uma forte tendência da cena, “Eco” tem investido muito em seus trabalhos solo, buscando espaço e reconhecimento para todos os produtores musicais. Venturo é consequência disso. Composto de 12 faixas, o álbum foi considerado um dos mais versáteis dos últimos tempos. Apesar de ser um disco de rap, ele não se limita à isso e busca trazer novas sonoridades.
Para falar um pouco sobre o processo de produção dessa obra, e sobre o atual momento de sua carreira, convidei Ecologyk para estar dando uma entrevista aqui na Rima em Prosa. Confira agora essa conversa.
Veja também: Budah fala com exclusividade ao Mais Minas sobre lançamentos, cena capixaba e nova fase solo
Processos de gravação e parcerias internacionais
MM: De forma geral, como funcionou o processo de gravação do Venturo? A maior parte das vozes foram gravadas no seu estúdio ou os MC’s enviaram pra você?
E: Um pouco de cada. Os artistas que estavam em São Paulo e os que já são daqui, gravaram no meu estúdio. O restante foi gravado na cidade de cada um mesmo, onde eu tive mais trabalho pra mixar e masterizar por terem vozes captadas em estúdios e microfones diferentes.
MM: O quão impactante é a diferença entre gravar com o artista dentro do seu estúdio, tendo contato direto, e gravar a distância?
E: Na maioria dos casos (não todos) o artista cria a letra no estúdio, então quando estou junto eu gosto de participar do processo criativo opinando e dando minhas ideias de flows/melodias também, além da direção para gravar a voz final.
MM: Além de diversos nomes nacionais, você também trouxe participações internacionais para o disco. Como surgiu o contato com esses artistas?
E: O Q. Lord eu conheci pelo YouTube. Ele tem um canal genial, com um quadro onde ele imita outros artistas e isso me chamou atenção para ouvir as músicas dele, que me deixaram de cara! Logo entrei em contato pelo Instagram e a parceria rolou. Já com a OSHUN, a ONErpm e a Creators Club me ajudaram na ponte, apresentando o projeto do meu álbum pra elas, que estavam com tour marcada no Brasil e toparam participar do disco. Gravamos os vocais e vídeos da vivência e depois elas convidaram a Tuyo para participar do show delas, cantando a música que fizemos. Tudo isso virou o clipe que foi produzido pela XOKO.
Conceito e recepção do disco
MM: De onde veio a inspiração para o nome do disco? Qual o conceito por trás?
E: Eu sinto que todos os beats tiveram muita influência da minha história no eletrônico, trazendo algo novo e original com essa estética futurista. Então passei pra todos os primeiros artistas de cada faixa que deveriam falar no presente sobre o futuro ou se imaginar no futuro, seja ele próximo ou distante, abordando o tema que sentir na batida.
MM: Passados alguns meses do lançamento do disco, como tem sido o feedback do público? E em relação aos números no YouTube e plataformas digitais, tem sido dentro da sua expectativa ou você se surpreendeu positiva/negativamente?
E: Eu sabia que era um projeto ousado e não tinha certeza sobre a aceitação do público, mas foi muito positivo dentro do esperado. Quem já me acompanhava gostou muito e consegui conquistar pessoas novas, isso é mais importante que qualquer número pra mim.
Reforma no estúdio
MM: 2019 trouxe para você, além do disco, uma grande reforma na Asfalto Rec, o seu estúdio. Fale um pouco pra gente sobre a sua relação com o estúdio, esse lugar que é praticamente a segunda casa dos músicos, principalmente de vocês produtores.
E: No início de 2019 eu tive uma proposta de um investidor que ia construir um estúdio novo pra Asfalto. Já estava praticamente certo, quando ele teve alguns problemas pessoais e não tivemos como continuar, daí então eu decidi que eu ia construir um estúdio novo sem depender de ninguém. Isso se tornou realidade mais cedo do que eu esperava e em dezembro inauguramos a nova Asfalto Rec. Pensando em ser um estúdio confortável e com uma vibe única, eu mesmo, com ajuda do Diego Silveira, fiz toda a decoração. Os artistas têm aprovado bastante. Ninguém mais quer sair daqui (risos).
Projeto KM e trabalho com novos artistas e sonoridades
MM: Além de Venturo e de outros feats que você tem feito, no final de de 2019 você trabalhou bastante no projeto KM, onde traz artistas em clipes com uma estética similar e que buscam mostrar a identidade musical dos envolvidos. Em 2020, quais são as pretensões desse projeto?
E: Criei esse projeto pra começar a trabalhar meu canal, trazendo artistas novos e artistas já renomados, com o intuito de mostrar que independente de hype, estamos aqui pra mostrar o melhor que temos! E que isso seja uma porta pro público começar acompanhar os novos talentos.
MM: Qual a importância que você vê em estar trabalhando com novos artistas e buscando trazer sonoridades diferentes das que o público está acostumado?
E: Quero ser lembrado por ser original, quero que as pessoas escutem um som e pensem “Isso é Ecologyk”. Mesmo que a tag já entregue (risos). Se eu fizer 100% o que o mercado pede, talvez eu consiga dinheiro, mas não estaria feliz por não ser eu mesmo. Desde a minha época no eletrônico eu gostava de misturar gêneros e timbres diferentes. E trabalhar com artistas novos é sempre uma troca de experiências. Eu tô aqui pra fazer músicas boas, não por números.
MM: Além das parcerias com artistas do rap, você está sempre trabalhando com artistas de outros gêneros, ligação que você levou para seu disco, que conta com a participação de nomes como Lucas, da banda Fresno, e Jade Baraldo, e foi considerado um dos mais ecléticos dos últimos tempos. Como foi conciliar e encaixar esses diferentes artistas na hora de produzir as músicas de Venturo?
E: No meu álbum eu queria tirar todos os convidados das suas zonas de conforto, então no fim foi bem natural. Apesar dos beats serem bem únicos, todos se adaptaram muito bem e fiquei feliz demais com a participação de todos!
Valorização do produtor
MM: Recentemente no Twitter, rolou uma conversa sua com o também produtor WCnoBEAT, sobre a forma como os produtores musicais são vistos no Brasil, que acabam recebendo muito menos visibilidade do que merecem e não tendo seu devido reconhecimento como músico/artista. Quais as principais dificuldades que você encontra hoje nessa profissão?
E: Depois de lutar muito pelo meu reconhecimento e ser o cara chato que militava sobre isso várias vezes, vejo que não tenho mais problemas com o cenário daqui, mas sei que isso se dá por eu ter conseguido uma certa visibilidade no mercado, então essa luta não pode parar. Empresários, gravadoras e outros artistas precisam ver o(a) beatmaker/produtor(a) como artista. Já imaginaram aquela música que vocês escutam tanto, sem o instrumental?
Quero também que mais ouvintes se interessem em saber quem está por trás dos beats, começar a acompanhar esses artistas também.
MM: De todos os produtores que acompanho, você é o que mais vejo comentando a respeito, sempre enfatizando que busca por esse maior reconhecimento e também pelos seus direitos em royalties e participações na música. De uma forma geral, os rappers que você trabalha ou já trabalhou entendem isso e te respeitam ou você sente na pele essa falta de respeito?
E: Eles entendem e me respeitam pela minha história e pela qualidade dos trabalhos. Hoje não tenho mais problemas com isso. Nessa era de royalties temos que saber dividir de forma justa para todos os participantes de cada projeto.
Lançada semanalmente, a coluna Rima em Prosa traz todas as quartas-feiras entrevistas com grandes e promissores nomes do rap nacional. Para conferir as edições passadas, clique aqui.