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Rima em Prosa #9: Em entrevista exclusiva, Ecologyk fala sobre o disco Venturo

12/02/2020 às 13:50
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9 min

Lançado no fim de 2019, Venturo é o primeiro disco solo de Ecologyk. Com carreira longa na música, o produtor paulista iniciou na eletrônica, onde trabalhou como DJ durante muitos anos. Hoje, o artista mudou os rumos de sua carreira e trabalha com o rap, tendo se tornado um cara consolidado na cena. A Asfalto Rec, sua gravadora e estúdio, se tornou um local muito frequentado por músicos dos mais diversos estilos. Dudu, Leozin, MC Pedrinho, Konai, JaYa Luuck, Jade Baraldo, Duzz e outros, são figuras recorrentes por lá. 

Seguindo uma forte tendência da cena, “Eco” tem investido muito em seus trabalhos solo, buscando espaço e reconhecimento para todos os produtores musicais. Venturo é consequência disso. Composto de 12 faixas, o álbum foi considerado um dos mais versáteis dos últimos tempos. Apesar de ser um disco de rap, ele não se limita à isso e busca trazer novas sonoridades. 

Não nos siga

Ecologyk no clipe de Não nos Siga – Crédito da imagem: Reprodução/Youtube

Para falar um pouco sobre o processo de produção dessa obra, e sobre o atual momento de sua carreira, convidei Ecologyk para estar dando uma entrevista aqui na Rima em Prosa. Confira agora essa conversa.

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Processos de gravação e parcerias internacionais

MM: De forma geral, como funcionou o processo de gravação do Venturo? A maior parte das vozes foram gravadas no seu estúdio ou os MC’s enviaram pra você?

E: Um pouco de cada. Os artistas que estavam em São Paulo e os que já são daqui, gravaram no meu estúdio. O restante foi gravado na cidade de cada um mesmo, onde eu tive mais trabalho pra mixar e masterizar por terem vozes captadas em estúdios e microfones diferentes.

MM: O quão impactante é a diferença entre gravar com o artista dentro do seu estúdio, tendo contato direto, e gravar a distância?

E: Na maioria dos casos (não todos) o artista cria a letra no estúdio, então quando estou junto eu gosto de participar do processo criativo opinando e dando minhas ideias de flows/melodias também, além da direção para gravar a voz final.

Rima em Prosa #9: Ecologyk fala com exclusividade sobre o disco Venturo

Ecologyk no estúdio com as meninas do grupo Oshun – Crédito da foto: Divulgação

MM: Além de diversos nomes nacionais, você também trouxe participações internacionais para o disco. Como surgiu o contato com esses artistas? 

E: O Q. Lord eu conheci pelo YouTube. Ele tem um canal genial, com um quadro onde ele imita outros artistas e isso me chamou atenção para ouvir as músicas dele, que me deixaram de cara! Logo entrei em contato pelo Instagram e a parceria rolou. Já com a OSHUN, a ONErpm e a Creators Club me ajudaram na ponte, apresentando o projeto do meu álbum pra elas, que estavam com tour marcada no Brasil e toparam participar do disco. Gravamos os vocais e vídeos da vivência e depois elas convidaram a Tuyo para participar do show delas, cantando a música que fizemos. Tudo isso virou o clipe que foi produzido pela XOKO.

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Conceito e recepção do disco

MM: De onde veio a inspiração para o nome do disco? Qual o conceito por trás?

E: Eu sinto que todos os beats tiveram muita influência da minha história no eletrônico, trazendo algo novo e original com essa estética futurista. Então passei pra todos os primeiros artistas de cada faixa que deveriam falar no presente sobre o futuro ou se imaginar no futuro, seja ele próximo ou distante, abordando o tema que sentir na batida.

MM: Passados alguns meses do lançamento do disco, como tem sido o feedback do público? E em relação aos números no YouTube e plataformas digitais, tem sido dentro da sua expectativa ou você se surpreendeu positiva/negativamente? 

E: Eu sabia que era um projeto ousado e não tinha certeza sobre a aceitação do público, mas foi muito positivo dentro do esperado. Quem já me acompanhava gostou muito e consegui conquistar pessoas novas, isso é mais importante que qualquer número pra mim.

Reforma no estúdio

MM: 2019 trouxe para você, além do disco, uma grande reforma na Asfalto Rec, o seu estúdio. Fale um pouco pra gente sobre a sua relação com o estúdio, esse lugar que é praticamente a segunda casa dos músicos, principalmente de vocês produtores. 

E: No início de 2019 eu tive uma proposta de um investidor que ia construir um estúdio novo pra Asfalto. Já estava praticamente certo, quando ele teve alguns problemas pessoais e não tivemos como continuar, daí então eu decidi que eu ia construir um estúdio novo sem depender de ninguém. Isso se tornou realidade mais cedo do que eu esperava e em dezembro inauguramos a nova Asfalto Rec. Pensando em ser um estúdio confortável e com uma vibe única, eu mesmo, com ajuda do Diego Silveira, fiz toda a decoração. Os artistas têm aprovado bastante. Ninguém mais quer sair daqui (risos).

Rima em Prosa #9: Ecologyk fala com exclusividade sobre o disco Venturo

Ecologyk na Asfalto Rec com Leozin e Dudu – Crédito da foto: Divulgação

Projeto KM e trabalho com novos artistas e sonoridades

MM: Além de Venturo e de outros feats que você tem feito, no final de de 2019 você trabalhou bastante no projeto KM, onde traz artistas em clipes com uma estética similar e que buscam mostrar a identidade musical dos envolvidos. Em 2020, quais são as pretensões desse projeto? 

E: Criei esse projeto pra começar a trabalhar meu canal, trazendo artistas novos e artistas já renomados, com o intuito de mostrar que independente de hype, estamos aqui pra mostrar o melhor que temos! E que isso seja uma porta pro público começar acompanhar os novos talentos.

MM: Qual a importância que você vê em estar trabalhando com novos artistas e buscando trazer sonoridades diferentes das que o público está acostumado?

E: Quero ser lembrado por ser original, quero que as pessoas escutem um som e pensem “Isso é Ecologyk”. Mesmo que a tag já entregue (risos). Se eu fizer 100% o que o mercado pede, talvez eu consiga dinheiro, mas não estaria feliz por não ser eu mesmo. Desde a minha época no eletrônico eu gostava de misturar gêneros e timbres diferentes. E trabalhar com artistas novos é sempre uma troca de experiências. Eu tô aqui pra fazer músicas boas, não por números.

MM: Além das parcerias com artistas do rap, você está sempre trabalhando com artistas de outros gêneros, ligação que você levou para seu disco, que conta com a participação de nomes como Lucas, da banda Fresno, e Jade Baraldo, e foi considerado um dos mais ecléticos dos últimos tempos. Como foi conciliar e encaixar esses diferentes artistas na hora de produzir as músicas de Venturo?

E: No meu álbum eu queria tirar todos os convidados das suas zonas de conforto, então no fim foi bem natural. Apesar dos beats serem bem únicos, todos se adaptaram muito bem e fiquei feliz demais com a participação de todos!

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Valorização do produtor

MM: Recentemente no Twitter, rolou uma conversa sua com o também produtor WCnoBEAT, sobre a forma como os produtores musicais são vistos no Brasil, que acabam recebendo muito menos visibilidade do que merecem e não tendo seu devido reconhecimento como músico/artista. Quais as principais dificuldades que você encontra hoje nessa profissão? 

E: Depois de lutar muito pelo meu reconhecimento e ser o cara chato que militava sobre isso várias vezes, vejo que não tenho mais problemas com o cenário daqui, mas sei que isso se dá por eu ter conseguido uma certa visibilidade no mercado, então essa luta não pode parar. Empresários, gravadoras e outros artistas precisam ver o(a) beatmaker/produtor(a) como artista. Já imaginaram aquela música que vocês escutam tanto, sem o instrumental? 

Quero também que mais ouvintes se interessem em saber quem está por trás dos beats, começar a acompanhar esses artistas também.

MM: De todos os produtores que acompanho, você é o que mais vejo comentando a respeito, sempre enfatizando que busca por esse maior reconhecimento e também pelos seus direitos em royalties e participações na música. De uma forma geral, os rappers que você trabalha ou já trabalhou entendem isso e te respeitam ou você sente na pele essa falta de respeito? 

E: Eles entendem e me respeitam pela minha história e pela qualidade dos trabalhos. Hoje não tenho mais problemas com isso. Nessa era de royalties temos que saber dividir de forma justa para todos os participantes de cada projeto.

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Lançada semanalmente, a coluna Rima em Prosa traz todas as quartas-feiras entrevistas com grandes e promissores nomes do rap nacional. Para conferir as edições passadas, clique aqui.

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