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Série ‘Pablo e Luisão’ acerta em cheio ao transformar vida comum em obra-prima da comédia

Série 'Pablo e Luisão' acerta em cheio ao transformar vida comum em obra-prima da comédia
Foto: Leo Rosário/Globo

Desde que chegou ao catálogo do Globoplay, a série “Pablo e Luisão” não só virou hit instantâneo como também virou assunto nas redes sociais. Mas a série criada por Paulo Vieira vai muito além do entretenimento: é um retrato cômico – e surpreendentemente comovente – da rotina de milhares de famílias brasileiras.

O que faz “Pablo e Luisão” tão única é o quanto ela é enraizada na nossa realidade. Paulo Vieira disse ao jornal O Dia que “pelo menos 80% do que se passa na série é verdade”, e é fácil acreditar quando se assiste à série. Os absurdos não parecem roteirizados, parecem tirados diretamente de causos de família contados à mesa, com risos e exageros que só o tempo e a memória justificam.

A série gira em torno de Luis Vieira da Silva, o Luisão (vivido por Aílton Graça), um sonhador incorrigível, e Pablo Xavir (Otávio Müller), seu parceiro de ideias malucas. A dupla vive inventando planos mirabolantes que quase sempre terminam em confusão – ou no mínimo em olhares exasperados de Conceição (Dira Paes), que tenta manter a casa em ordem enquanto lida com os dois e os filhos, Paulo (Yves Miguel) e Neto (João Pedro Martins).

Apesar das loucuras, há algo muito honesto no jeito como tudo é mostrado. A série é ambientada em Palmas, no Tocantins, o que traz um frescor raro à teledramaturgia nacional. E mesmo tratando de dificuldades financeiras, a abordagem é leve, mostrando como o riso pode ser uma resposta espontânea à dureza da vida.

Um dos acertos mais simpáticos da série é incluir, ao fim de cada episódio, os próprios Luisão, Pablo e a mãe de Paulo comentando os acontecimentos da trama. É um recurso quase documental, que tira o espectador da ficção e o joga de volta à realidade – e o curioso é que, mesmo sabendo que aquelas histórias aconteceram, elas continuam parecendo boas demais para serem verdade.

Essa metalinguagem brinca com o que é real e o que é exagero, reforçando o caráter familiar do projeto. Tem gosto de conversa de fim de tarde, quando a memória preenche as lacunas da história com graça e afeto.

Seria injusto falar de Pablo e Luisão sem destacar o elenco. Aílton Graça, no papel de Luisão, encarna um homem ao mesmo tempo teimoso e cativante. É fácil se ver ou ver alguém conhecido nele. Otávio Müller, como Pablo, está em estado de graça – sua entrega tem uma comicidade quase involuntária que torna tudo mais orgânico. A química entre os dois é natural, como amigos de infância que se entendem num olhar.

Dira Paes brilha como Conceição. Ela é firme, mas com um olhar cheio de ternura. Transita entre o drama e a comédia com fluidez impressionante. Já os atores mirins – Yves Miguel e João Pedro Martins – surpreendem pela maturidade em cena. Yves, em especial, carrega uma semelhança com o criador da série que vai além da aparência: é o tipo de atuação que convence pela simplicidade.

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As participações especiais, pontuais e certeiras, adicionam ainda mais cor à produção. Ver nomes como Lima Duarte, Solange Couto, Grace Passô e Miguel Falabella surgirem em meio aos episódios é um agrado aos fãs da boa TV brasileira.

A direção de Luis Felipe Sá mantém o ritmo ágil e dinâmico da série, sem abrir mão de pausas que valorizam os momentos mais emocionais. A escolha por gravar em 4K não é apenas técnica: é estética. Palmas ganha um brilho único, quase cinematográfico.

O investimento alto – segundo se comenta, o maior da Globo numa série de comédia até hoje – aparece em detalhes: figurino, trilha sonora, ambientação. Nada parece improvisado, mas tudo soa natural.

Embora a trilha não tenha destaque constante ao longo da série, a música de abertura, “Nois é Jeca Mais é Joia”, de Genésio Tocantins e Juraildes da Cruz, dá o tom. É simples, autêntica, e encaixa perfeitamente com o espírito da série. Quando bem usada, a trilha amplifica o riso ou a emoção, como na cena já comentada do hospital, que virou meme por arrancar gargalhadas espontâneas.

Na minha modesta opinião de mero espectador, os episódios “A cerca elétrica”, “Padre trambiqueiro”, “Sala comercial” e “Enterro do tio Zé” são os melhores. Um humor de raiz, com coração e criatividade.

E se há algo a se considerar, talvez seja a limitação da exibição na TV aberta. Apesar de todo o sucesso no streaming, ainda não há data definida para uma presença mais forte na grade tradicional da Globo. Uma pena, já que o alcance poderia ser maior, mas talvez isso mude se o público seguir pedindo.

Pablo e Luisão é uma comédia bem feita, um pedaço da memória coletiva transformado em narrativa audiovisual. Ao rir da vida de Pablo e Luisão, rimos da nossa própria vida, ou da vida de alguém que conhecemos. É esse tipo de identificação que torna a série tão marcante. Rara, cômica, comovente e, acima de tudo, brasileira de verdade. Altamente recomendada, não apenas por entreter, mas por fazer a gente se sentir em casa.