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Não somos mais os mesmos e não vivemos como os nossos pais

Não tiramos tempo para cuidar da saúde, da alimentação, mas estamos sempre belos, afinal somos empoderados, não temos aquele jeito “ultrajante” dos nossos antepassados, que só se preocupavam em trabalhar, afinal “somos livres”, somos intelectuais, vivemos “fora dos padrões”, mas passamos finais de semanas inteiros deslizando telas
16/08/2022 às 23:05
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Foto ilustrativa de uma família viciada em celular. Foto: banco de imagens livres do Canva
Foto ilustrativa de uma família viciada em celular. Foto: banco de imagens livres do Canva

Estamos em constante busca por individualidade. Cada vez mais fisicamente afastada fisicamente e próxima por meio de telas, a humanidade caminha rumo a uma crise de relacionamentos. Não somos mais os mesmos e não vivemos como os nossos pais. Há pontos positivos e negativos nessa mudança.

Dirigimo-nos sentido a pensamentos libertários, com ideais de igualdade, ainda que em passos de formiga de fato não seguimos as mesmas trilhas de nossos antecessores. Por outro lado, não sabemos o que é uma dança a dois, não rimos de piadas bobas ou situações cotidianas, somos sérios, estamos constantemente preocupados com o amanhã, com o crescimento do fascismo ou do comunismo, com as doenças, com as guerras, com a fome, com o preconceito.

Não tiramos tempo para cuidar da saúde, da alimentação, mas estamos sempre belos, afinal somos empoderados, não temos aquele jeito “ultrajante” dos nossos antepassados, que só se preocupavam em trabalhar, afinal “somos livres”, somos intelectuais, vivemos “fora dos padrões”, mas passamos finais de semanas inteiros deslizando telas, tentando entreter nosso cérebro já amortecido com tantos conteúdos cada vez mais intensos, como elementos visuais que aparecem todos ao mesmo tempo diante dos nossos olhos, com falsas brigas ou verdadeiros conflitos sociais, com lacrações ou discursos de ódio, afinal, precisamos de sempre uma intensidade diferente para conseguir ativar nossa dopamina. Conseguimos reduzir o uso da nicotina, mas temos outros tantos vícios que muitas vezes tentamos esconder de nós mesmos. Não suportamos a realidade da vida crua e nua. Sinceramente, não somos mesmo como os nossos pais.

Os nossos ídolos, eles não são os mesmos. Nossos ouvidos se acostumaram com músicas de 15, no máximo 30 segundos, temos pressa em viver, “só se vive uma vez”. E as aparências, elas em grande parte enganam sim Belchior! Estamos sempre consumindo para alimentar nossos castelos interiores, somos todos bem sucedidos, ouso dizer até ricos. A gente não quer saber daquela vida simples e “vazia” dos nossos pais. Nossas mães são “fúteis” porque só falam sobre afazeres domésticos, enquanto nossos pais, retrógrados, pois só souberam trabalhar para viver de seus próprios sustentos. Eles não tiveram essa maravilhosa e próspera vida que temos, por isso às vezes parecem até sentir inveja da nossa liberdade e alegria de viver.

Só que quando todas as luzes se apagam, nós não sabemos cerrar os olhos e dormir como eles. E isso é agonizante, nós vivemos intensamente. Nós vivemos intensamente? Vivemos dentro de dispositivos. Vivemos uma ilusão. No fundo somos sozinhos, não sabemos bater um bom papo que logo ficamos entediados. Temos dificuldades em ler um artigo ou um livro completo ou quando o fazemos é em caráter competitivo. E por falar em competição, os dias ficam ainda mais difíceis quando alguém com quem competimos publica alguma felicidade. Eles postam as mentiras de lá e nós daqui, e dessa forma nós formamos uma rede enorme, pesada, quase que sufocante.

Enquanto os nossos pais, eles se reúnem aos finais de semana e riem, eles dão gargalhadas altas. Como é que conseguem? Se a liberdade está em nós?

Talvez um bom caminho fosse rasgar o véu da disputa que tecemos contra aqueles que estão em casa  “contando vil metal “ e com aqueles que gostaríamos que fizessem parte de nosso convívio. Pode ser que levantar a cabeça e conseguir olhar para além das telas nos traga mais conteúdo para a vida, nos prepare para sentimentos como a frustração e o desencanto. Que tal mesclar o passado e o futuro? “O novo sempre vem”!