Morador dos EUA de 72 anos supera sintomas de Parkinson com ultrassom aprovado em mais de 70 centros neurológicos

Por Rodolpho Bohrer
Morador dos EUA de 72 anos supera sintomas de Parkinson com ultrassom aprovado em mais de 70 unidades de saúde

Orlando Avendaño, 72 anos, foi curado dos tremores causados pela doença de Parkinson após conviver com os sintomas por três décadas. O tratamento, realizado no Delray Medical Center, na Flórida (EUA), utilizou uma nova técnica não invasiva que aplica raios de ultrassom no cérebro para atingir os focos da enfermidade. O procedimento, já autorizado em 79 centros neurológicos norte-americanos, não exige cirurgia ou anestesia.

Terapia com ultrassom substitui cirurgia e tem efeito imediato

A nova técnica terapêutica que beneficiou Orlando é baseada em ondas sonoras de alta frequência, guiadas por exames de imagem. O procedimento é realizado em uma única sessão e o paciente permanece acordado durante toda a aplicação.

No caso de Orlando, os tremores foram eliminados logo após a aplicação dos feixes de ultrassom. “Meu Deus, é inacreditável”, afirmou o paciente. Ele voltou a realizar tarefas simples, como escrever e usar talheres, sem apresentar tremores nas mãos.

O capacete utilizado no procedimento é chamado Neuravive. Ele se assemelha a um equipamento de ressonância magnética e é acoplado à cabeça do paciente para direcionar as ondas ao ponto exato do cérebro afetado pela doença.

Segundo o neurocirurgião responsável pelo caso, Lloyd Zucker, a tecnologia permite aplicar energia com extrema precisão em até 22 áreas diferentes do cérebro, atingindo apenas as regiões identificadas como geradoras do tremor. “É a coisa mais maravilhosa. Eu faço isso há anos, e como você pode ver, começo a sorrir, não dá para parar, quando você vê os pacientes e as famílias e o que isso faz por eles”, afirmou Zucker ao site Good News Network (GNN).

Como funciona o tratamento com ultrassom

O método terapêutico é conhecido como ultrassom focalizado guiado por ressonância magnética (MRgFUS, na sigla em inglês). Ele se baseia na convergência de feixes de ultrassom em pontos específicos do cérebro para destruir pequenas áreas de tecido que causam os sintomas de tremor.

Entre os principais diferenciais da técnica estão:

  • Não exige cirurgia aberta
  • Não há necessidade de anestesia geral
  • Aplicação ocorre em ambiente ambulatorial
  • Recuperação imediata
  • Não há incisões nem risco de infecção

Durante o procedimento, imagens obtidas em tempo real por ressonância magnética permitem mapear com precisão as regiões afetadas. Ao focar a energia na área determinada, o ultrassom gera calor suficiente para interromper a atividade anormal do tecido cerebral sem comprometer as estruturas vizinhas.

O paciente é monitorado a cada etapa. No caso de Orlando, o médico pediu que ele levantasse o braço e respondesse a perguntas durante a aplicação, para avaliar em tempo real os efeitos do tratamento. O próprio paciente pôde indicar a melhora imediata da condição motora.

Zucker chamou o processo de “trilha mágica”, uma vez que os efeitos costumam ser sentidos poucos minutos após o término da aplicação. A maioria dos pacientes tratados apresenta melhora significativa ou total dos sintomas motores, principalmente o tremor essencial e os tremores causados pela doença de Parkinson em estágio inicial.

Parkinson e tremor essencial: quando a terapia é indicada

A doença de Parkinson é um distúrbio neurodegenerativo progressivo, que afeta o controle dos movimentos. Estima-se que mais de 10 milhões de pessoas no mundo vivam com Parkinson. Entre os principais sintomas estão:

  • Tremores involuntários, principalmente nas mãos
  • Rigidez muscular
  • Lentidão nos movimentos
  • Alterações na fala e na escrita
  • Perda do equilíbrio

Além do Parkinson, outro quadro comum é o tremor essencial, que também provoca movimentos involuntários, mas tem causas e evolução diferentes. Ambas as condições podem ser tratadas com a nova técnica, dependendo do estágio da doença e da localização dos sintomas.

Segundo informações clínicas dos centros que utilizam a tecnologia, a terapia de ultrassom é recomendada para pacientes que:

  • Não respondem bem aos medicamentos convencionais
  • Apresentam tremores localizados e persistentes
  • Não desejam realizar cirurgia cerebral invasiva
  • Buscam uma alternativa com recuperação rápida

Nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA) autorizou o uso do ultrassom focalizado para tratar tremores essenciais em 2016 e para tremores parkinsonianos em 2018. Desde então, o número de centros que oferecem o tratamento vem crescendo.

Avanços e limitações da técnica

Apesar dos resultados promissores, a terapia ainda possui limitações. Não é indicada para todos os pacientes com Parkinson, especialmente aqueles em estágios avançados, que apresentam sintomas motores múltiplos ou comprometimento cognitivo.

Além disso, o custo do tratamento pode ser elevado, especialmente em países onde ainda não foi regulamentado ou incluído em planos de saúde. Nos EUA, o procedimento pode custar entre 25 mil e 35 mil dólares, a depender da clínica e da complexidade do caso.

A tecnologia utilizada no capacete Neuravive foi desenvolvida por uma empresa de tecnologia médica com foco em neurocirurgia não invasiva. O equipamento continua passando por estudos clínicos para avaliar sua eficácia em outras condições neurológicas, como distúrbios obsessivo-compulsivos e dor neuropática.

Ainda assim, para milhares de pacientes como Orlando, a possibilidade de controlar os tremores sem bisturi e sem longas recuperações representa uma mudança significativa na qualidade de vida.

Pesquisa e regulamentação fora dos Estados Unidos

O ultrassom terapêutico começa a ser testado em outros países, inclusive em centros de pesquisa na Europa, Japão e América Latina. O Brasil, por ora, ainda não possui regulamentação aprovada pela Anvisa para essa aplicação neurológica específica, mas estudos de viabilidade estão em andamento.

Pesquisadores ligados a instituições brasileiras de neurologia avaliam a viabilidade técnica, os custos de implantação e os efeitos clínicos da terapia em pacientes com tremor essencial. A expectativa é que, nos próximos anos, a técnica possa ser oferecida em caráter experimental ou expandida por meio de parcerias internacionais.

Enquanto isso, muitos brasileiros continuam a buscar tratamentos em centros estrangeiros, especialmente nos Estados Unidos, onde a infraestrutura médica e a legislação permitem o uso mais amplo de tecnologias emergentes.

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