Fazer Ciência em um país onde a profissão de cientista não existe é um grande desafio. Digo isso, pois se antes esses estimados profissionais tinham o mínimo de respeito da sociedade, com o avanço do obscurantismo, são taxados como bruxos, demônios e, até mesmo, comunistas.
É curioso pensar que os avanços para a cura de variadas doenças, conquistadas por anos de pesquisa e dedicação, sejam tratadas como bobagens e que coisas sérias, como as vacinas, sejam vítimas de fake news, diminuindo o número de cidadãos imunizados e trazendo de volta doenças praticamente erradicadas, como o sarampo e a paralisia infantil.
É bem verdade que isso, de fato, é um projeto, afinal de contas, congelar os investimentos em educação, saúde e ciência, só podem significar uma coisa: colocar em colapso o sistema público. Bem como demonizar a Ciência, afinal de contas quem não aprende a questionar, repete o que os donos do poder querem. A importância do conhecimento crítico em nossa sociedade é cada vez menor, o que é revoltante!
Voltando ao nosso tema, é muito estranho o ato de ser cientista. A maior parte das pessoas, não entende, gerando inúmeras brincadeiras de mau gosto. O curioso é que só por conta das pesquisas, é que esses mesmos gracistas tem como caçoar de alguém que vive disso.
Além de não existir, na prática, a profissão de cientista, para fazer Ciência, na maior parte das vezes, o pesquisador precisa se sujeitar a inúmeras humilhações, sendo a principal viver atrás de financiadores para conseguir o mínimo de condições materiais para seguir com sua contribuição social.
É impossível imaginar como seria nossa sociedade sem os variados avanços científicos, mas poucos se perguntam de onde eles saíram. A resposta é simples: quase sempre dos laboratórios das universidades públicas, onde se concentra a maior gama desses profissionais, afinal e contas no nosso país só é possível pesquisar em ambientes como esses, já que a iniciativa privada pouco aproveita a mão de obra qualificada dos que dedicaram a vida acadêmica ao ato de pesquisar.
É preciso repensar essa lógica ilógica, como é possível o mercado de trabalho não aproveitar os recém-formados, em especial doutores, e deixar esses sujeitos altamente qualificados irem embora do país a troco de banana? Esse é o resumo do que comumente é chamado “fuga de cérebros”. Todo um investimento do Estado no indivíduo e por falta de oportunidades ele vai construir Ciência em outra nação. Surreal!
Com os inúmeros cortes nas agências de financiamento, todas essas cenas que passamos no dia a dia tendem a aumentar ainda mais, diminuindo cada vez mais o número de jovens dispostos a dedicar sua vida para a construção da Ciência, o que é lastimável.
Se a vida imita a triste sina do cientista, eu não sei, mas que lembra bastante o método científico, lembra! Afinal de contas, a gente tenta, tenta, erra, tenta de novo, quase acerta, acha que acerta e erra. Erra de novo, segue errando e o que nos dá alento é pensar que um dia ainda iremos acertar, mesmo que para isso seja preciso tanto errar.
Até a próxima.