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"Vidas Negras Importam" é o principal assunto da internet para refletir

05/06/2020 às 18:04
Tempo de leitura
5 min

Desde 25 de maio, quando o americano George Floyd foi brutalmente assassinado pela polícia dos Estados Unidos, em Minneapolis, uma onda de protestos radicais começaram no país e se estendeu no mundo inteiro. Recentemente, na última terça-feira (5), houve um manifesto nas redes socais, principalmente da classe artística, chamada “blackttuesday”, ou “terça-feira do apagão”, em valorização da vida das pessoas negras.
A mobilização teve proporção tão grande que a sensação era de que a internet tinha parado na última terça-feira. No Brasil, principalmente pelas redes sociais, as manifestações e posts informativos são constantes não só pelo caso de Floyd, mas também pela história de João Pedro, uma criança de 14 anos que foi morta pela polícia também no mês de maio com tiros nas suas costas, enquanto estava dentro de casa em São Gonçalo, no Rio de Janeiro.
Com a tamanha repercussão do tema e também por sua importância, o Mais Minas convidou a Diretora de Promoção de Igualdade Racial da Prefeitura de Ouro Preto, Sidneia Santos, para falar sobre as manifestações com o símbolo “Vidas Negras Importam” e sobre o racismo como um todo no Brasil.
Ouça a entrevista:

Protestos nos EUA e Brasil

"Vidas Negras Importam" é o principal assunto da internet para refletir

Crédito da foto: Smith/AFP


“As pessoas, por muitas vezes, questionam ‘ah, lá nos Estados Unidos o George Floyd morreu e as pessoas foram para as ruas e tacaram fogo, fizeram manifestações, e por que não é assim no Brasil?’ Não dá para comparar a situação de lá com as daqui. Isso começa lá no período colonial, a escravidão nos Estados Unidos acabou com guerra civil, aqui a abolição da escravatura se deu por uma assinatura de uma lei de dois parágrafos e só foi assinada porque já era impossível conter as revoltas e conter os movimentos abolicionistas. Não foi porque a princesa Isabel não foi boazinha não, mas sim porque o tráfico negreiro não era mais lucrativo.
Não dá para falar que os negros brasileiros não se rebelam ou se revoltam, desde que o primeiro navio negreiro chegou aqui, houve revolta e resistência, Palmares é um dos exemplos de quilombo, mas temos vários que nossa história oficial não conta. Em 1719 houve uma revolta escrava que deixou os portugueses aqui de cabelo em pé, a revolta de Felipe dos Santos de 1720, na verdade, quem morreu queimado no Morro do Ouro Fino, que depois vai ganhar o nome de Morro da Queimada, foram negros que se rebelaram um ano antes.
Então está aí em voga o ‘vidas negras importam’ e importam sim e não é de hoje, é de muito tempo, mas hoje isso ganho um destaque, hoje a gente tem um smartphone para gravarmos as cenas de violência e colocar elas na rede para todo mundo ver.”

Sérgio Camargo e Fundação Palmares

“Quando a abolição foi assinada e decretou ‘os negros estão livres no Brasil’, assinou-se uma lei, mas não foi desmontada a estrutura escravista. O privilégio das pessoas brancas continuaram no Brasil por causa disso e, pessoas como o Sérgio, é o que a gente chama lá no passado de ‘capitão do mato’, é um preto que não quer encarar a realidade e prefere defender as pessoas brancas. O Sérgio é um desserviço para a humanidade. Ele chama zumbi de esquerdista. É tão absurdo e cínico que as pessoas não acreditam que essa pessoa está falando isso, mas está. A fala dele não nos representa de jeito nenhum, ele nos causa vergonha e desprezo.”

#BlackLivesMatter

 "Vidas Negras Importam" é o principal assunto da internet para refletir

Crédito da foto: Reprodução / Instagram


“Nós, pessoas negras, sentimos que quando a população branca brasileira entender o privilégio que ela tem, como esse privilégio surgiu, e como ela pode saí da zona de conforto que esse privilégio dá e nos ajudar na nossa luta, aí a gente vai estar brilhando. Mas isso está começando, é uma semente que está sendo plantada. 
Mas essa #VidasPretasImportam é para a gente parar de ver um pai de família levar 88 tiros da polícia, ou o João estar dentro de casa e levar um tiro nas costas. Tem estatísticas que os brancos desconhecem e essa pandemia trouxe tudo isso à tona. Há cada 13 horas uma mulher negra está sendo violentada ou espancada, física e psicologicamente. Há cada 23 minutos tem um menino preto sendo morto no Brasil, isso é muito sério. 
Então é preciso que a pessoa branca tome consciência do que é a situação que as pessoas negras passam, pois estamos, a cada 24 horas, contrariando estatísticas. O branco precisa, pelo o menos, se por no nosso lugar.”

Obras de autores negros

“Um dos nomes mais em destaque hoje é a Djamila Ribeiro, porque ela trouxe livros de leitura fácil que qualquer pessoa consegue entender a mensagem. Eu cito ela, mas tenho Luana Tolentino, que toca no ponto da educação e temos vários outros. Mas hoje eu indico a Djamila para quem está começando, para quem quer começar a entender sobre racismo, lugar de fala, preconceito e sobre todas essas questões que a gente discutiu aqui hoje.”
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Última atualização em 28/08/2021 às 17:17