Uma década das cores rosa e dourado será comemorado no carnaval deste ano, em Belo Horizonte. O famoso bloco “Então, Brilha“, traz para as ruas mineiras a luta pelo direito de ir e vir, pelo acesso à cidade e por mais políticas de lazer, arte e cultura. Pensando na comemoração dos dez anos e na expectativa do público para essa época do ano, o Mais Minas realizou uma entrevista exclusiva com o vocalista do bloco, Rubens Aredes, para contar um pouco mais da essência brilhante do carnaval.
O característico rosa e dourado
Quem vê rosa e dourado no carnaval de Belo Horizonte já sabe: foliões à caminho do bloco “Então, brilha”. Essas cores já ficaram marcadas como característica deles e dos carnavalescos apaixonados.
E se você quer saber o significado das cores, o bloco explica: diversidade e sol! “O rosa tem a ver com a diversidade. É como se naquele momento disséssemos: ‘Meninos usam rosa se quiserem sim!’ Já o dourado é a representação do sol e da Estrela da Manhã, o nosso maior símbolo”, conta Rubens.
Gente é para brilhar
“Brilhar para sempre, brilhar como um farol, brilhar com brilho eterno. Gente é pra brilhar, que tudo mais vá pro inferno, este é o meu slogan e o do sol”.
Essa é uma parte do hino do bloco, inspirado no Poema “Gente é pra Brilhar”, escrito pelo poeta Maiakóvsky, que exalta e reafirma a importância em se fazer ser brilho e brilhar na vida. “Gente é para brilhar” é o maior lema do grupo que faz as pessoas brilharem há 10 anos.
“Desde que fui presenteado pelo universo como sendo cantor do Então Brilha, que eu recebo constantemente, e principalmente todo ano após o cortejo, relatos diversos via redes sociais, de desconhecidos, dizendo que ‘O Então Brilha mudou a minha vida’ ou que ‘O Então Brilha salvou a minha vida’”, explica o vocalista do bloco.
A ideia de brilhar na vida é o que os move. De acordo com eles, a humanidade foi feita para brilhar através de sua capacidade intelectual, cultural, artística, científica, social e ambiental. Além disso, o cortejo luta para que a humanidade alcance seu brilho através de transformações sociais. “Somos um bloco que luta pela diversidade, ou seja, de cada um possa ser o que quiser, também pela igualdade social e acreditamos na necessidade de uma revolução profunda na sociedade. ‘Gente é pra brilhar!’ é um grito de guerra contra tudo aquilo que ofusca o brilho da humanidade”, afirma.
O brilho na vida do outro
Muito além de lutar por causas e objetivos, em seus dez anos o “Então, Brilha!” também mudou a vida de muitos. O brilho do bloco fez com que algumas pessoas em situações difíceis enxergassem a vida de uma outra maneira. O vocalista Rubens Aredes conta que a energia que o cortejo promove, levou à algumas pessoas uma nova perspectiva de vida.
“Eu tenho duas alunas que vieram pra minha Escola de Canto e Consciência Corporal por conhecerem meu trabalho no Brilha. Não é que ambas, ao longo do nosso trabalho, tomaram decisões que mudaram suas vidas pra melhor? Elas até tatuaram no corpo a expressão ‘Arrasa na Vida!’ que é um jargão que eu uso com as pessoas tanto no Brilha, nos meus outros blocos, alunos e amigos. Isso trás muita felicidade pra gente”, conta.
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Temática 2020
A purpurina rosa e dourada para o ano de 2020 vem com a temática “Esperança de um Tempo Melhor”, evidenciando e denunciando o momento atual brasileiro de repressão, desigualdade, violência e preconceito.
“Esse presente nos mostra um possível futuro sem brilho. Esse ano vamos dizer que não aceitamos esse futuro sombrio que os donos do poder estão construindo pra gente. Nós queremos um futuro de justiça social, igualdade, liberdade e respeito à diversidade, ou seja, queremos um futuro onde a humanidade brilhe em todo o seu potencial e vamos afirmar isso no nosso cortejo. Queremos que as pessoas se mobilizem pela construção desse futuro humano brilhante”, explica Rubens.
Para além, os dez anos vem cheio de novidades e representatividade. A ala de dança do bloco representará a primavera, o nascer do dia e a esperança de transformação. O trio representará o outono e o inverno, com uma estrutura metálica, além de representar o futuro com a ideia de espaçomáquina do tempo. A bateria trará a ideia do verão e do passado, com cores douradas, relembrando o sol e o calor.
A alegoria “O louco na bicicleta e os 11 cavaleiros do apocalipse” finalizará o desfile do bloco. “O louco vem da carta do tarot de mesmo nome que não tem número, ela é o arcano maior que vem depois do último e antes do primeiro, simbolizando aquilo que está fora do tempo e o encontro do início com o final de toda história. Buscar uma referência no tarot tem a ver com o desejo humano de conhecer o futuro e entender seu destino. O louco também homenageia nosso fundador Rafael Gonçalves. A bicicleta em que o louco virá montado, é uma forma de lembrar o primeiro trio elétrico do bloco construído por Glauco Dias e Leandro César, este último já trabalhou com o Uakti, que era uma bicicleta sonorizada. Além disso as rodas da bicicleta representam a circularidade do tempo. Já os cavaleiros do apocalipse representam cada pessoa que junto ao Rafael fundou o bloco”, explica o cantor.
A representatividade musical
É comum que o carnaval seja marcado pelo axé, samba e funk, entretanto, o “Então, Brilha” leva para as ruas este ano, o rock, flertando com a Tropicália. “A inserção do rock é interessante porque faz lembrar de quando o rock chega ao Brasil e gera um incômodo nos musicólogos e músicos tradicionais. Foi um conflito entre passado e futuro que acabou sendo muito bem sintetizado no tropicalismo”, conta o integrante.
Juntando a proposta de reflexão sobre tempo, e a necessidade de lutar por um futuro melhor, artistas tropicalistas farão parte da representatividade musical do bloco.
“Tempos Modernos” de Lulu Santos será exaltado durante o cortejo em busca de “uma vida melhor no futuro”, ou por meio de um “novo começo de era”. Além dele, a canção “Oração ao tempo” de Caetano Veloso, trará uma reflexão muito além do físico.
“Muita gente não sabe, mas Tempo nesta canção não é só o tempo físico, é também uma divindade afro cultuada nos Candomblés de Nação Angola, onde também recebe o nome de Kitembo, uma divindade vinculada ao tempo físico. Nesta canção, Caetano pede a Tempo que sua alma ‘ganhe um brilho definido’ para que ele possa ‘espalhar benefícios’. Achamos que será uma importante forma de abrir o cortejo com essa oração”, finaliza a Rubens Aredes.
Encontro marcado
Os dez anos já tem encontro marcado para o ponto de partida. Com a temática “Esperança de um tempo melhor”, o cortejo sai no dia 22 de fevereiro, sábado, na Esquina da Avenida do Contorno com rua Curitiba. E o horário? Concentração a partir das 4h da manhã e saída marcada junto com o sol, para então brilharem juntos – astros, público e banda, porque “gente é para brilhar”!
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