O menino Ney que virou símbolo: cinebiografia mergulha na alma de Ney Matogrosso

O menino Ney que virou símbolo: cinebiografia mergulha na alma de Ney Matogrosso

Esse é um daqueles filmes que você começa a assistir sabendo que vai chegar ao final com o peso de uma vida inteira sob você. “Homem com H” não é uma biografia convencional, muito menos um atestado de virilidade, como talvez você imagine pelo significado idealizado na expressão do título. O longa é uma imersão na vida do menino Ney. Não aquele, o jogador, mas o artista multifacetado que desafiou convenções desde o primeiro pé no palco e deixou o seu nome cravado na história da música brasileira.

O roteiro do cineasta Esmir Filho apresenta a trajetória autêntica do ícone brasileiro de maneira cronológica, a partir da infância nômade, sem simplificar dilemas, permitindo-se à complexidade, proporcionando ao espectador o desconforto de uma trajetória de lutas até a glória, se é que o Ney quer ser substantivado assim, com algo que sempre esteve mais próximo da transgressão do que da consagração clichê.

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Esmir Filho também dirige a biografia e se abstém de espetacularizar os eventos e aposta em uma encenação mais complexa, que permite ao público respirar junto com o protagonista. É um trabalho que confia na inteligência de quem assiste, insinuando sentidos por meio de gestos, olhares e silêncios que gritam mais do que qualquer diálogo.

Nem o roteiro, nem a direção, por mais primorosos que sejam, alcançariam tamanha potência sem a entrega de Jesuíta Barbosa no papel de Ney Matogrosso. Ele traz um mergulho interior, ora abafado, ora vibrante, refletindo o estado de espírito em relação ao mundo. O ator se entregou emocionalmente e fisicamente, já que chegou a perder 12kg para o papel. Já a trilha sonora, composta por 17 faixas, é pontual, nunca excessiva e se complementa à história que está sendo contada, às vezes doce, às vezes cortante.

Apesar de todos os seus pontos positivos, a cinebiografia é relativamente previsível e isso já era perceptível já a partir do trailer, que tem uma estrutura semelhante ao trailer de “Meu nome é Gal”, por exemplo, que por sinal pertence à mesma produtora: a Paris Filmes. Os atritos do protagonista com o pai, militar, pelo desejo de ser artista se perde no meio do caminho, mas nada que prejudique o andamento.

“Homem com H” é, ao mesmo tempo, singular e plural. Não há, e nem haverá outro igual e tão talentoso, subversivo e autêntico quanto Ney. A cinebiografia se esforça para proporcionar ao espectador uma experiência além do interesse pelo “fato real”. O filme provoca algo mais duradouro: uma espécie de reconhecimento, não do personagem em si, mas daquilo que há de humano, contraditório e vulnerável em todos nós.

O filme estreou nos cinemas brasileiros na última quinta-feira (1) e segue em cartaz. Confira o trailer:

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