Renato Zoroastro foi exonerado do cargo de secretário de Educação de Ouro Preto na terça-feira, 22 de março. Para os seu lugar, foi nomeada Deborah Etrusco Tavares, que era secretária adjunta da pasta.
Coincidentemente, a exoneração de Renato Zoroastro aconteceu no mesmo dia em que houve uma grande manifestação na Câmara de Ouro Preto dos servidores, professores, mães e alunos da Escola Monsenhor Castilho Barbosa, do bairro Barra, em conjunto com os grevistas da rede estadual de ensino.
Renato Zoroastro era vereador pelo MDB em Ouro Preto no ano passado. Em janeiro deste ano, aceitou o convite do prefeito Angelo Oswaldo (PV) para ser secretário municipal de Educação. Em dois meses de trabalho, ele se deparou com vários problemas relacionados à área na cidade, tendo destaque para os desafios do retorno presencial das atividades escolares. Isso porque algumas escolas não estão aptas para receber aulas, tendo como exemplo a Escola Monsenhor Castilho Barbosa e Escola Municipal Aleijadinho (no distrito de Santo Antônio do Salto), que estão em obras. Além disso, a secretaria também teve problemas para fornecer transporte para os alunos dos distritos irem para outras escolas ou mesmo disponibilizar um lugar provisório para que houvesse as aulas presenciais, enquanto as intervenções nas unidades de ensino estão em andamento.
Na Tribuna Livre da 14ª reunião ordinária da Câmara de Ouro Preto, dezenas de pessoas foram manifestar a indignação da comunidade da Barra sobre o atraso na obra da Escola Monsenhor Castilho Barbosa, que iniciaram no dia 18 de janeiro e tinha previsão de ser entregue em 18 de abril. Houve a paralisação das intervenções no dia 11 de março e, de acordo com a direção da unidade de ensino, o motivo foi a falta de repasse do dinheiro para a empresa Sinarco, responsável pela obra.
No dia 18 de março, a direção da escola informou que o empenho para a continuidade das obras havia ficado pronto e que Renato Zoroastro deu a assinatura apenas naquele dia.
Isabella Alexandrina do Carmo, mãe de alunos da Escola Monsenhor Castilho Barbosa, disse na Câmara de Ouro Preto que, no mesmo dia da grande mobilização da comunidade, às 14h40, retomou-se a obra na unidade escolar. Ela disse que foi colocada uma placa com informações não tão claras sobre as intervenções.
“Hoje retornaram as obras, mas vai até quando? Vão realocar nossas crianças? Todas as nossas crianças têm acesso à internet? Os professores têm celulares para dar aula online? Nós ficamos dois anos por conta da pandemia e agora vamos ficar mais um ano por conta de reforma? Infelizmente, é um descaso com os nossos alunos. A nossa escola já teve uma defasagem de 100 alunos e não temos respostas. É simples ir na rádio e dizer que só sabemos reclamar, mas temos que lutar pelos direitos das nossas crianças”, disse Isabella na tribuna.
Ingrid da Silva Borges, mãe de dois alunos da escola na Barra, disse que não era contra a obra, mas que é preciso maior agilidade para que os estudantes não saiam prejudicados no retorno presencial.
“Se vai demorar muito tempo, qual a solução que temos para as crianças? A aula online tem sido uma carga para as famílias, porque estamos voltando com as nossas atividades presenciais e as crianças precisam do convívio. O que está acontecendo não é justo com a comunidade e já houve relatos de pais que procuraram a Secretaria de Obras e a resposta de uma servidora foi para que mudasse o filho de escola. Isso não é solução. A solução é a escola estar reformada e entregue”, protestou Ingrid.
Erika Fernandes, mãe de uma aluna da escola, lamentou o fato de precisar ir até a Câmara de Ouro Preto reivindicar algo que é direito do cidadão, que é a educação.
“É um desrespeito a gente precisar vir aqui. Isso tinha que ser prioridade. Antes era a pandemia que afastou as crianças da escola, hoje é a prefeitura com o descaso. Teve aula online e não nos ofereceram um notebook, celular, internet e nem nada, se virou do jeito que podia. A gente não aguenta mais, precisamos de uma solução. Estamos vivendo em uma cidade que troca a educação pela televisão e o povo está achando que é bom, que trocamos o livro pelo celular, porque quanto mais o povo burro fica dentro de casa, melhor, aí na hora de votar, faz de qualquer jeito”, Manifestou Erika sob muitos aplausos da comunidade presente na Casa Legislativa de Ouro Preto.
A 14ª reunião ordinária da Câmara Municipal também marcou a volta da vereadora Lilian França (PDT), que estava há dois meses afastada sob licença médica. Ela propôs, como solução paliativa, a realocação das atividades da Escola Monsenhor Castilho Barbosa para outro local.
“Ouro Preto tem vários prédios federais que podemos conversar e conseguir acolher os alunos durante esse período. Aula online é uma dificuldade danada, nem todas as mães têm internet. Acho que dá para migrar para um outro estabelecimento até resolver esses problemas das obras”, sugeriu a vereadora.
O Mais Minas tentou entrar em contato com Renato Zoroastro, que não atendeu às tentativas feitas via chamada telefônica e WhatsApp. Porém, seu substituto provisório na Câmara de Ouro Preto, Celsinho Maia (MDB), disse na reunião que apresentou as demandas para o então secretário municipal de Educação e que ficou muito satisfeito com a resposta que recebeu.
O vereador e professor de Ouro Preto, Matheus Pacheco (PV), sugeriu que fosse feito um Requerimento em conjunto com os demais vereadores, solicitando o cronograma da obra na escola da Barra, solicitando prazos, com a assinatura de todos os membros do poder Legislativo.
“Gostaríamos de viver dias melhores em relação à educação, discutindo, talvez, horário integral nas escolas, projeto de tecnologia ou algum que pudesse mudar a vida dos alunos, principalmente depois das atividades remotas, mas, infelizmente, nós seguimos pautando o nosso debate em condições mínimas para o funcionamento da escola. Fui até a escola na última sexta-feira (18), não tinha piso nas salas, faltava telhado e parte elétrica. Precisamos reverter esse cenário o quanto antes”, disse o vereador.
O MM também tentou contato com o secretário de Obras de Ouro Preto, Antônio Simões, porém não houve retorno até o momento desta publicação. Veja imagens da escola registradas no dia 18 de março:
Greve na educação estadual
Desde o dia 8 de março, os servidores da educação estadual estão em greve, reivindicando o pagamento do piso salarial, que é de R$ 3.845 para o professor inicial. No dia 15 de março, houve uma grande manifestação da classe no centro de Ouro Preto e, durante a 14ª reunião ordinária da Câmara Municipal, em meio às discussões sobre a educação municipal, Rosana Maria Gonçalves também utilizou a Tribuna Livre para representar os grevistas e falar sobre a situação dos educadores que trabalham para o Governo de Minas Gerais.
“Em Ouro Preto há 11 escolas estaduais, todas estão em greve, porque estamos com fome, não temos condições de cuidar de suas responsabilidades financeiras, porque o salário é uma miséria. As funcionárias que fazem as merendas dos alunos, lavam e arrumam as escolas, recebem menos de um salário mínimo. A categoria está doente e endividada. Cada dia que passa, recebemos menos salários e menos respeito”, disse Rosana.
A representante do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (SIND-UTE) disse que o governador do estado, Romeu Zema (Novo), não prioriza o diálogo com os servidores e trata o bem público como um bem privado.
“O vendedor de geladeira teve a ousadia de levantar de uma mesa de negociação e falar que não conversava mais com o SINDI-UTE“, finalizou.
Matheus Pacheco, que é professor de geografia da Escola Estadual Dom Pedro II e apoiador da greve também se pronunciou sobre a paralisação dos servidores. Ele disse que os funcionários do Estado estão sendo forçados a paralisar para conseguirem seus direitos.
“Queríamos estar em sala de aula, estamos com saudade dos nossos alunos, não ficamos felizes de paralisar. Mas se não fizermos nada, quem fará? Tenho certeza que se fosse qualquer outra categoria que tivesse o seu salário congelado desde 2016, já tinham paralisado muito antes do que nós, não aceitariam nem dar aula remota. Tem professores e servidores que tem nove meses de férias para tirar e não consegue. É o sucateamento da educação pública estadual, o retrocesso que Zema nos coloca”, declarou Matheus Pacheco.
Do lado de fora da Câmara Municipal, na Praça Tiradentes, ponto de maior visibilidade do centro de Ouro Preto, um varal com os contra-cheques dos servidores da educação estadual foi feito, em uma ação que também faz parte da manifestação da classe. Veja fotos: