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Especialista fala sobre o Transtorno Explosivo Intermitente: “Síndrome do Hulk”

15/02/2022 às 21:34
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Maria é desclassificada do BBB 22, por agressão. Foto: GShow
Maria é desclassificada do BBB 22, por agressão. Foto: GShow

A perda do controle emocional pode gerar muitos conflitos, como agressões verbais, físicas, aceleração dos batimentos cardíacos, suor excessivo, sem contar a vergonha e a sensação de culpa, que comumente acontece depois de um surto. Essas são características latentes em pessoas que sofrem com Transtorno Explosivo Intermitente (TEI), popularmente conhecido como “Síndrome do Hulk”. 

Na última segunda-feira, 14, um episódio de agressão dentro do BBB 22 chocou os brasileiros. Embora não seja de conhecimento popular e talvez nem da agressora, a atitude se assemelha bastante a de pessoas acometidas pela síndrome. Contudo, a participante em questão deve se submeter a uma avaliação profissional, para confirmar se de fato foi afetada pelo transtorno.

O psicólogo Alexander Bez – especialista em relacionamentos pela Universidade de Miami (UM), especialista em ansiedade e síndrome do pânico pela Universidade da Califórnia (UCLA) e especialista em saúde mental – esclarece o assunto. 

“O transtorno é fundamentalmente a perda do controle do impulso agressivo. Esses impulsos se manifestam através de agressões verbais, falas, discussões ou agressões físicas contra pessoas, animais ou objetos. Para ser diagnosticado com o transtorno, a pessoa não pode ter ações intencionais ou premeditadas, e sim impulsivas e sem um objetivo claro. Também é necessário que essas ações aconteçam com uma frequência grande, pelo menos duas vezes por semana, mesmo que as explosões sejam de menor gravidade (sem lesões ou destruição), ou pelo menos uma vez por ano, quando a agressão é maior, para que se faça este diagnóstico”. 

Portanto, as atitudes da Maria no BBB podem sim ser de uma pessoa com Transtorno Explosivo Intermitente, mas para afirmar isso precisaríamos avaliar os comportamentos da mesma antes de entrar no reality. 

De qualquer maneira, o TEI tem tratamento, o controle a longo prazo pode ser feito através de psicoterapias direcionadas no sentido de a pessoa aprender a detectar aquelas situações que desencadeiam as crises e evitá-las, ou aprender a enfrentá-las de modo menos agressivo. Em alguns casos também é indicado o uso de medicamentos como: estabilizadores de humor, antidepressivos ou ansiolíticos.

Em entrevista ao portal Mais Minas, Alexander Bez deu detalhes sobre a questão. Confira! 

Mais Minas: Como diferenciar um momento de raiva, que qualquer pessoa pode ter, com o transtorno?

Alexander Bez: A diferenciação se dá pela predominância e constância, um momento de raiva que qualquer pessoa pode ter, ele geralmente é uma ação isolada, intencional e pessoal, que não vai se repetir sempre, já quando se tem o transtorno as ações não são intencionais ou premeditadas, e sim impulsivas e sem um objetivo claro, e essas ações devem acontecer com frequência, há no mínimo 6 meses, para que possa ser diagnosticado o transtorno. Quando a pessoa tem o TEI, ela tem momentos de raiva que aparecem do nada e continuamente.

Mais Minas: O transtorno pode desencadear outros transtornos?

Alexander Bez: Não necessariamente, claro que isso pode desencadear diversos prejuízos como social, pessoal, conjugal e profissional, além de alguns prejuízos físicos, alteração de pressão, mas não necessariamente vai desencadear outros transtornos.

Mais Minas: Ele é hereditário?

Alexander Bez: Sim, pode ser hereditário também, ele pode passar geneticamente, o que chamamos de “componente do temperamento”, tudo que se herda geneticamente via DNA é temperamento.

Mais Minas: Conflitos familiares se relacionam com o transtorno?

Alexander Bez: Não só o conflito familiar, mas qualquer tipo de conflito pode imediatamente desencadear o transtorno sem que a pessoa pare para pensar. Então, acho importante ter em mente que não existe premeditação e não existe o raciocínio lógico, ele é motivado por um raciocínio ilógico, essa que é a grande diferença. Uma pessoa que tem um acesso de raiva comum e não tem o transtorno, ela sabe muito bem se controlar, aquela que tem o transtorno não sabe.

Mais Minas: O uso de álcool e drogas pode agravar as reações agressivas?

Alexander Bez: Quando você tem alguma configuração mental já alterada, adulterada por algum transtorno seja psíquico, psiquiátrico ou até mesmo psicológico, qualquer substância lícita ou ilícita potencializa esse transtorno imediatamente, isso é fato, é uma correlação totalmente íntima e associada, então pode sim.

Mais Minas: Esses ataques dependem de ações de outras pessoas ou podem acontecer aleatoriamente?

Alexander Bez: O Transtorno Explosivo Intermitente pode acontecer diretamente ou indiretamente, ele pode ser desencadeado por um conflito com outras pessoas ou não também, a pessoa pode ter um ataque de raiva do nada, sem nenhum motivo aparente, então não necessariamente precisa de um estímulo, depende muito de cada caso.

Mais Minas: Existe cura?

Alexander Bez: Ainda não se conhecem tratamentos específicos para uma cura definitiva, mas tratamento sim, o controle a longo prazo pode ser feito através de psicoterapias direcionadas no sentido de a pessoa aprender a detectar aquelas situações que desencadeiam as crises e evitá-las, ou aprender a enfrentá-las de modo menos agressivo. Em alguns casos também é indicado o uso de medicamentos como: estabilizadores de humor, antidepressivos ou ansiolíticos.

Última atualização em 19/08/2022 às 05:14