Em entrevista ao jornal Diário de Barão, a moradora da Vila Brandão, Marceli da Conceição Rodrigues da Silva, de 48 anos, disse que o clima na cidade de Barão de Cocais, devido à possibilidade de rompimento da barragem Sul Superior da mina de Gongo Soco, da Vale, é de morte. “Eu não durmo mais. Tenho uma deficiência na perna e qualquer barulho que escuto eu entro em pânico. Ontem à noite levantei desesperada de madrugada com ambulância passando. As nossas vidas acabaram. A gente vinha aqui na Fazenda Soledade tomar sorvete e hoje não tem como. Nossa cidade acabou por causa da barragem”, desabafou a moradora.
Marceli foi uma das moradoras que participa do preparatório de simulação de evacuação, no bairro Capim Cheiroso. Ainda ao Diário de Barão, ela relata que até hoje não foi procurada por ninguém da Defesa Civil ou da área de Saúde do Município, apesar da dificuldade de locomoção. “Não recebi ninguém. É uma situação muito triste”, concluiu.
Outro morador, Orlando Silva de Limas, de 59 anos, também reclama da situação vivida no município: “A Vale está tratando o povo de Barão igual lixo. Não somos ratos. A família de vocês (da Vale) está segura”, desabafou o morador, que reclama do tratamento dado pela Vale aos moradores locais.
Neste momento, a Vale, juntamente com a Defesa Civil e Bombeiros, está realizando um simulado de evacuação com os moradores de Barão de Cocais, devido ao risco de rompimento da barragem Sul Superior, da mina de Gongo Soco. Você pode acompanhar a transmissão ao vivo pela página do Diário de Barão.
Entenda o caso
A população de Barão de Cocais vive momentos de tensão com a movimentação do talude (parede) da Mina de Gongo Soco. O motivo do deslocamento da estrutura teria sido a queda de uma rocha no interior da cava (buraco) da mina. E a situação se tornou ainda mais preocupante com a divulgação, pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) de um documento da Vale, dona da estrutura, que afirma que a barragem pode ser romper até 25 de maio, se a movimentação se manter constante.
Segundo o documento da empresa, há uma deformação no talude norte da Cava de Gongo Soco, que poderia causar sua ruptura. A falha tem causado deformações que podem, assim, liquefazer a Barragem Sul Superior, levando, consequentemente, ao rompimento. A barragem Sul Superior é do mesmo tipo da que se rompeu em Brumadinho, em 25 de janeiro de 2019.
Movimentação na barragem
Uma das verificações apontou que a movimentação do talude foi de 4 a 5 milímetros em 12 horas. Se esse número se manter constante, seria suficiente para causar mais um rompimento de barragem. O deslocamento foi confirmado pela própria Vale e pela Defesa Civil. Atualmente, a barragem segue classificada no nível 3, o mais alto na escala de perigo de rompimento.
Na´ultima sexta-feira (17), a Agência Nacional de Mineração (ANM) interditou as atividades do complexo minerário Gongo Soco, em Barão de Cocais. De acordo com a ANM, até o talude da cava da mina romper, só poderão ser realizadas as operações seguras para recuperar a estabilidade das estruturas. “O talude da cava vai se romper com a gravidade, isso é um fato. O que estamos fazendo agora é minimizando os riscos, evitando que pessoas transitem dentro da cava ou que sejam atingidas”, diz o diretor da ANM, Eduardo Leão.