Apesar da bomba ter estourado só agora, com veiculação de matéria que aponta inúmeras irregularidades na administração do Cruzeiro, os problemas do clube não foram criados exclusivamente pela gestão atual.
O crescimento da dívida do clube, não pagamento de atletas e negociações no mínimo estranhas vem também da diretoria anterior.
Com 500 milhões em dívidas e vários processos acumulados na FIFA, o Cruzeiro vive o pior momento financeiro da sua história.
E a matéria veiculada no domingo (28), pelo Fantástico, serviu para esquentar ainda mais a panela de pressão em que vive o clube.
Vindo de maus resultados em campo e fora dele, o clube celeste precisará de muito fôlego para superar o momento.
A diretoria inclusive convocou uma entrevista coletiva para a tarde desta segunda-feira (27), para falar das acusações.
Mas apesar das irregularidades terem vindo à tona, de fato, só agora, não se pode esquecer que a cova azul vem sendo cavada há muito tempo.
Os problemas são diferentes, tanto que na matéria do Fantástico, mal se cita as dívidas cruzeirenses, mas a situação do clube preocupa em várias frentes.
Gestão Gilvan A gestão Gilvan de Pinho Tavares, que antecedeu a atual, trouxe bons frutos dentro de campo (dois títulos Brasileiros e um da Copa do Brasil).
Mas, fora das quatro linhas a situação se deteriorou.
A dívida do clube aumentou exponencialmente e algumas contratações no mínimo estranhas colocaram uma pulga atrás da orelha do torcedor.
Caso Latorre A situação que mais indigna o torcedor é o caso de Gonzalo Latorre.
O atacante uruguaio veio para o Cruzeiro como venda casada, juntamente com o meia Giorgian de Arrascaeta.
Na época, o antigo camisa 10 celeste veio por um valor próximo aos R$ 12 milhões.
Até aí tudo bem.
O meia era, no momento, um dos principais jogadores de seu país e tinha levado o modesto Defensor, seu ex-clube, às semifinais da Libertadores da América.
Sendo assim, um investimento válido.
Já Latorre veio quase sem mídia.
Inicialmente contratado para atuar nas categorias de base, o ex-atleta do Atenas do Uruguai chegou ao clube sem valor divulgado.
Era de consenso geral que este havia chegado de graça.
Passou o tempo e o atleta não se adaptou.
Reserva no sub-20, reserva quando foi emprestado à um time da terceira divisão italiana.
Reserva nos aspirantes do Cruzeiro.
Enfim, o jogador inicialmente contratado para a base, mas que recebia salário de profissional, mostrou não ter condição mínima de vestir a camisa celeste.
O uruguaio passou então de um jogador esquecido a uma dor de cabeça das grandes.
Sem aceitar rescindir o contrato ou ser emprestado, o atacante foi até a imprensa reclamar do clube e acabou criando caso.
Mas o pior estava por vir.
Nesse período, o Cruzeiro foi acionado na FIFA por uma dívida milionária referente ao jogador que sequer havia vestido o a camisa celeste.
A diretoria atual bateu o pé e disse que não ia pagar.
Que o caso parecia lavagem de dinheiro.
Mas nesse ano não foi possível.
Correndo risco de perder pontos se não quitasse a dívida até 15 de maio atual, o Cruzeiro foi lá e pagou.
R$ 18,5 milhões.
R$ 6,5 milhões a mais no que se pagou em Arrascaeta, jogador que se tornou a maior transferência da história do futebol Brasileiro.
Latorre, da segunda divisão uruguaia, sem um jogo pelo Cruzeiro, custou mais que o ex-craque do clube e camisa 10 da Seleção do Uruguai.
A tranferência do ex-jogador do Atlas, inacreditavelmente, se tornou a mais cara da história do clube.
Até hoje, não se sabe porque. O valor pago pelo Cruzeiro por Latorre colocou a negociação como a mais alta da história do clube.
Um absurdo – Crédito da foto: Cruzeiro/ Divulgação Caso Careca Outro caso bizarro é o de Raianderson Careca.
O jogador foi contratado em meados de 2017 após se destacar na Série, não você não leu errado, na Série D, com a camisa do Atlético do Acre.
Oportunidade de negócio?
Promessa?
Não.
Careca realmente é um jogador jovem, com 21 anos a época da contratação.
Mas apesar de novo, essa idade já é considerada alta para uma aposta dessa estirpe.
O jogador jamais tinha se destacado, jamais tinha atuado por um time grande.
Na verdade, jamais jogou fora do Acre.
Mas aí você se pergunta: vindo de graça, que mal tem em apostar?
E a questão está aí.
Careca não veio de graça.
Gilvan de Pinho concordou em pagar R$ 400 mil reais pelo empréstimo de um ano, isso mesmo, empréstimo, de um jogador do Atlético do Acre.
Para se ter uma ideia, esse ano, o Cruzeiro pagou R$ 850 mil pelo empréstimo do lateral Dodô.
O ala esquerda que já atuou por Corinthians, Inter de Milão, Roma e que na última temporada foi um dos melhores jogadores da posição no país atuando pelo Santos.
A proporção assusta.
E para constar, careca foi mais um que não jogou uma partida sequer no clube.
Outras dívidas do Cruzeiro Durante o mandato de Gilvan inúmeras dívidas surgiram.
Rafael Sóbis com o Tigres, Ramón Ábila (que bizarramente foi vendido posteriormente para pagar a si mesmo), Ezequiel e seu irmão em mais uma venda casada, vindos do Criciúma, Duvier Riascos, Luis Caicedo, (que posteriormente sairia de graça do clube, simbolizando um prejuízo de mais de R$ 10 milhões) entre outros.
Justificativas Sempre que questionada pela mídia, a atual diretoria cruzeirense credita os problemas à diretoria anterior.
Mesmo que a gestão Gilvan realmente tenha muita culpa no cartório, esse não é o caminho.
Um trabalho bem feito, como o realizado no Grêmio, por exemplo, seria suficiente para diminuir as dívidas.
O aumento destas passa a impressão de apenas a continuidade de um trabalho ruim.
Política mais eficaz no Cruzeiro Mas parece evidente que a diretoria anterior do Cruzeiro tem que ser investigada tal qual a atual.
Milhões de premiação por competições, vendas de atletas e bilheteria simplesmente deram lugar à um rombo financeiro enorme.
Isso não pode ser considerado normal.
Mas infelizmente essa é a tônica do futebol brasileiro.
Mandatários saem dos times e somem no mundo deixando os clubes à deriva.
Políticas como a atual do Flamengo, onde dirigentes arcam do próprio bolso com qualquer prejuízo que deem ao clube, tem de ser adotadas imediatamente. “Cartolas” vem e vão, mas a camisa e o torcedor ficam.