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‘O Silêncio do Céu’: segredos e conflitos frente a frente

15/04/2020 às 20:46
Tempo de leitura
3 min

O medo está em toda parte. É uma função de suporte à vida que a evolução nos deu. Ele acorda, nos torna vigilantes. Mas o choque e a rigidez do pensamento que geralmente se seguem são fatais. É basicamente o medo do desconhecido, do imprevisível, do medo de não termos “ele” sob controle. O medo provoca dor.

Em nossos relacionamentos íntimos, em nós mesmos, podemos amadurecer com a dor. No entanto, isso requer que não apenas compreendamos intelectualmente, mas também possamos experimentar com todas as emoções que estamos inseridos no grande segredo da vida.

Em algumas pessoas, porém, o medo é exagerado, provocando traumas irreparáveis que vão da vergonha em excesso a um forte complexo de inferioridade.

Em “O Silêncio do Céu”, o medo é a engrenagem que move a história. De um lado, o medo de revelar a verdade; do outro, o medo de enfrentar a verdade. Entre o céu e a terra, a dor da impotência e a dor do medo provocam crises internas que refletem na parte externa.

O filme, lançado em 2016, mostra a personagem Diana, interpretada por Carolina Dieckmann, sendo imobilizada e estuprada por dois homens, sob a ameaça constante de uma faca. Uma sensação horrível. Logo na sequência, seu marido, Mario, interpretado pelo ator argentino Leonardo Sbaraglia, vê toda a cena, do lado de fora da casa, mas não consegue reagir.

A partir daí, o casal passa a viver um terrível trauma. Ela não conta ao marido a situação pela qual passou e ele não revela à esposa que viu o que aconteceu, embora ele se esforce para fazer com que ela lhe conte.

Mario é um personagem traumático, cheio de medos e fobias. Ao ver a esposa sendo estuprada, tentou de diversas formas tomar coragem para enfrentar os dois homens que cometiam o ato, mas o medo parecia o puxar para trás. Pegou uma pedra para atacar os algozes, mas sentiu medo; pegou uma tesoura, mas não conseguiu ir adiante.

“Eu não sei quando foi que eu comecei a sentir medo. Minha mãe repete muitas vezes a história de como era difícil me fazer dormir. Minha infância inteira. Eu lutava muito contra o momento de cair no sono. Me desesperava. Ela achava que eu tinha medo de não voltar. Mas eu não sei se era isso, não consigo lembrar.”, diz o personagem em um momento de reflexão.

O peso do silêncio e a aflição das lembranças do terrível ato parecem consumir o casal no decorrer do filme. Segredos e conflitos frente a frente. A mesma dor vista por ângulos diferentes. Uma história de amor que já quase não tem diálogo, que vive sufocada pela dor. No decorrer da trama, os dois pontos de vista são desenvolvidos.

“O Silêncio do Céu” é baseado no livro “Era el Cielo”, de Sergio Bizzio, e é uma coprodução Brasil-Chile. A direção é de Marco Dutra. O filme está disponível no catálogo da Netflix.

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