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Moradores da Ocupação Chico Rei vivem momentos de tensão em Ouro Preto

11/03/2019 às 18:04
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5 min

Cerca de 70 famílias, moradoras da Ocupação Chico Rei, localizada na antiga Febem de Ouro Preto, vivem momentos de tensão com a possibilidade da reintegração de posse das terras ocupadas.

Wanderley Kuruzu, integrante e líder da ocupação, relatou ao Mais Minas nesta segunda-feira (11), que a ação de reintegração de posse das terras pode acontecer nesta terça (12) ou quarta (13), estando a polícia preparada para a desocupação. Ainda de acordo com Kuruzu, a Corporação tem a permissão de, inclusive, arrombar casas e entrar à força nas moradias e os técnicos da prefeitura estão se mobilizando para realizar o cadastro das famílias. Kuruzu disse ainda que as autoridades encontrarão resistência dos moradores.

“As famílias estão dispostas a resistir, até onde der, aqui dentro. Se não der pra resistir até a vitória aqui dentro, as famílias se manterão unidas e resistirão em algum lugar dentro da cidade. A disposição da comunidade é firme e amadurecida em mais de 20 horas de reunião, somadas nos últimos dias”, falou o líder e ex-vereador do município de Ouro Preto.

Segundo Kuruzu, algumas lideranças, entre elas o deputado federal Padre João (PT/MG), são esperadas na ocupação para fortalecer os coros de permanência nos próximos dias. O morador informou ainda que uma missa foi celebrada pelos padres Marcelo Santiago e Geraldo Barbosa na Chico Rei, no sábado (09), para orar pela continuidade das famílias nas terras.

 

A ocupação Chico Rei

Imagem aérea de parte da Ocupação Chico Rei em Ouro Preto – Foto: Rodolpho Bohrer/Mais Minas

A Ocupação Chico Rei começou no ano de 2015, quando cerca de 500 pessoas se instauraram nas terras da Novelis (ex-Alcan), transnacional produtora de alumínio que atua na região, para reivindicar políticas de moradia inclusivas e valores mais justos fora de áreas de risco para a população. Após ocuparem por um mês o terreno da empresa, os moradores migraram para a antiga Febem, onde estão até hoje.

A questão principal da ocupação vem da revolta dos moradores com o fato de a Prefeitura Municipal de Ouro Preto ter doado as terras para a empresa com o intuito de gerar emprego e renda para a população e, após a empresa fechar as portas, as terras terem sido colocadas a venda. O fato é tido como inaceitável pelos ocupantes, que exigem que as terras sejam devolvidas à comunidade, já que o motivo da doação destas já não é mais pertinente.

Já em respeito à atual ocupação, na antiga Febem, a população reivindica as terras, que são públicas. Segundo os moradores, as terras estão cedidas à Prefeitura da cidade, em regime de comodato, desde 1999. Mas que o poder público as abandonou e 98% do terreno, de 271,5 hectares (equivalente a 271 campos de futebol), foi grilado. Estando os ocupantes instalados nos 2% que restaram.

Wanderley Kuruzu tratou de enfatizar à nossa reportagem que os moradores não querem lotes gratuitos, apenas preços justos em locais seguros, dado o fato de que boa parte da cidade é fundada sobre locais que apresentam instabilidade.

“Temos feito questão de deixar bem claro que nenhuma família que está ali está querendo lotes de graça. Elas concordam em pagar um valor que caiba nos orçamentos delas. O lote mais barato aqui em Ouro Preto, fora de áreas de alto risco custa pelo menos R$ 150 mil, em áreas distantes do centro. Porque nos bairros mais próximos ao centro, custam R$ 300 mil para cima. Por isso os pobres e até mesmo os de classe média-baixa, ou ocupam ou vão construir em áreas de risco, correndo risco de serem soterrados em épocas de chuva, o que é muito comum na cidade”, frisou.

O líder da ocupação ainda falou sobre o fato de que todas as encostas de Ouro Preto terem sido ocupadas e esses locais, considerados de alto risco, não terem sofrido nenhum tipo de ação pública, diferentemente do que acontece com a Chico Rei.

“Onde é que a prefeitura quer que as pessoas morem? Então nas áreas de risco podem morar? Nas terras firmes não pode? As encostas de Ouro Preto foram todas elas, sem exceção, ocupadas pelo povo da cidade. Então, moral da história: o povo pode morar nos lugares onde há risco deles morrerem soterrados e não pode morar nas terras firmes que estão abandonadas, sendo que ambas são públicas”, falou.

A reportagem do Mais Minas tentou contato com a Assessoria de Comunicação da Prefeitura Municipal de Ouro Preto para saber o posicionamento do poder público sobre o caso, mas até o fechamento da matéria não houve resposta.

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Última atualização em 19/08/2022 às 08:52