Os filmes “A Menina que Matou os Pais” e “O Menino que Matou meus Pais” têm sido um sucesso da Prime Video, sendo a produção que mais cresceu no Google na última semana e tendo grande repercussão nas redes sociais.
Os dois longas-metragens contam a história do assassinato dos pais de Suzane von Richtofen (interpretada por Carla Diaz), Manfred Albert von Richthofen e Marisia von Richthofen.
Em “A Menina que Matou os Pais” é contado a versão de Daniel Cravinhos (interpretado por Leonardo Bittercourt) sobre o caso.
Ele era namorado de Suzane e foi o autor do assassinato junto de seu irmão, Cristian Cravinhos.
Em seu relato, sua companheira é apresentada como uma garota gentil e simpática, mas com comportamentos peculiares e que fazia uso abusivo de drogas.
Na versão de Daniel, Suzane falava na morte dos pais constantemente, já que eles eram muito rígidos nas regras de convivência e tinham uma cobrança excessiva nos estudos para passar em uma faculdade renomada.
Manfred e Marisia tinham um poder aquisitivo considerável, viviam em uma casa luxuosa e faziam viagens pelo Brasil e Europa.
Daniel conta que os pais nunca aprovaram o seu namoro com Suzane, principalmente pelo fato de ser de classe média baixa e não cursar faculdade.
Mas Andreas von Richtofen, irmão de Suzane, era fascinado por aeromodelismo e recebia aulas de Daniel (foi assim que Daniel e Suzane e conheceram, inclusive).
“A Menina que Matou os Pais”, portanto, mostra a história de uma garota rica, com problemas psicólogos e que fazia abuso no uso de drogas, com pais muito exigentes que reprovavam o seu namoro.
Daniel ainda conta que Manfred, além de ser infiel no casamento, abusava sexualmente de Suzane desde os três anos de idade.
E ainda, segundo ele, Marisia mantinha um relacionamento extraconjugal com uma amiga e sabia da infidelidade de seu marido.
Por fim, na versão de Daniel, Suzane é quem convence os irmãos Cravinhos de matar seus pais para, assim, ficar livre de toda a pressão que sofria e poder ficar com a herança para viver bem com o seu namorado.
Portanto, ela teria arquitetado todo o crime, enquanto os dois autores do crime ficavam receosos.
“O Menino que Matou meus Pais”
Já no segundo filme, a versão de Suzane da história é contada.
Ela coloca Daniel como um homem que lhe forçava a usar drogas em um relacionamento tóxico, com um abuso psicológico em cima dela para poder ter sexo e usufruir do dinheiro da família von Richtofen.
Suzane não confirma a história de abuso com o seu pai, apenas contou que Manfred era muito exigente e a pressionava, chegando a dar um tapa em seu rosto em um jantar com a família.
Quanto à sua mãe, ela a retrata como uma grande amiga, com quem conversava e tinha uma relação bem próxima.
“O Menino que Matou meus Pais” mostra uma garota ingênua que fazia de tudo pelo namorado e que foi convencida por Daniel a participar do crime, que ele mesmo arquitetou.
O crime aconteceu no dia 31 de outubro de 2002.
Inicialmente, o caso foi tido como latrocínio, mas dez dias depois eles confessaram o crime.
Suzane von Richtofen e Daniel Cravinhos foram condenados a 39 anos de prisão e Cristian a 38 anos e seis meses.
Qual é a verdade sobre o crime?
Foto: Reprodução/Internet
1 – Quem planejou o crime
Existem algumas cenas dos dois filmes que condizem 100% com o que de fato aconteceu, outras nem tanto.
O crime foi arquitetado durante dois anos e formas de homicídio foram pensadas antes de chegarem a ideia de utilizar barras de ferro, como incêndio no sítio da família e cortar os dutos do freio do carro.
A cena do filme em que Daniel enrola um pedaço de concreto com edredom e, no quarto dos Richtofen, atira com uma arma de fogo contra o material é verdadeira.
Porém, em uma das cenas do filme, Suzane está abraçada com o namorado, olha para um avião no céu e diz “seria bom se o avião com meus pais explodisse”.
Apesar da cena ser impactante, na realidade, a jovem fez tal sugestão enquanto estava na piscina com Daniel, quando Manfred e Marisia estavam viajando.
2 – Abusos do pai
Quanto aos abusos do pai, relatado por Daniel, que também contou sobre o alcoolismo de Manfred, o jornalista e autor do livro “Suzane: assassina e manipuladora”, Ulisses Campbell conta que a história é complexa.
Suzane teria chegado a desistir de matar a mãe, após um momento de cumplicidade entre as duas, quando Marisia havia descoberto a infidelidade de Manfred.
Com isso, Daniel teria ameaçado se matar por não conseguir manter um relacionamento em paz com a jovem, o que fez Suzane inventar a história do abuso para convencer os irmãos Cravinhos que tinha voltado atrás.
Andreas, irmão de Suzane, desmentiu sobre o fato de que o pai era violento ou alcoólatra, mas confirmou o episódio em que Manfred deu um tapa no rosto de sua filha e a ameaçou deserdar Suzane caso ela não terminasse o relacionamento com Daniel.
3 – Sexo e drogas
O sexo entre Daniel e Suzane está frequentemente relacionado com o uso de droga.
Para ele, por uma questão psicológica de sua namorada.
Para ela, porque seu namorado a forçava a usar.
Campbell conta em seu trabalho que conversou com muitos amigos de infância de Daniel e todos disseram que ele era ingênuo quando o assunto era relações sexuais.
Ele se recusava a ir em casas de sexo e perdeu a virgindade com Suzane.
Mais um fator que depõe contra Suzane é que Daniel passou nos testes de avaliação psicológica que lhe deu o direito ao regime aberto sem dificuldade.
Ela, no entanto, não conseguiu o mesmo feito e foi avaliada por psicólogos que acompanham o caso como “manipuladora”.
Suzane von Richtofen é psicopata?
A avaliação psicológica de Suzane von Richtofen é alvo de muita pesquisa e análise de especialistas.
O exame psicológico que ela passou para a avaliação da possibilidade de um regime aberto se chama Rorschach.
Ele serve para que possa ser analisados aspectos de personalidade, e características do indivíduo que porventura possam não transparecer nitidamente.
Suzane foi reprovada em todas as vezes que passou pelo teste, mesmo com seu advogado a entregando um manual de estudos sobre o referido exame para que pudesse compreendê-lo melhor e ter melhor desempenho.
Um trabalho acadêmico feito por Bruna Pereira Torres no curso de Direito na Universidade Brasil Campus Fernandópolis/SP mostrou que os laudos de Suzane não lhe são favoráveis juridicamente.
Isso porque ela, apesar de se dizer arrependida do crime que cometeu, nunca aborda o fato de perder os seus pais como motivo de arrependimento.
“Ela sempre pauta as causas pessoais como o quanto perdeu boas oportunidades de vida.
Suzane não consegue estender sentimentos para ninguém além dela mesma.
São nítidas as características narcisistas e egocêntricas da criminosa”, diz o estudo.
Mesmo com comportamentos característicos de pessoas que têm problemas com a psique, não há afirmação clínica concreta que afirme se de fato ela é ou não uma psicopata (sociopata).
O estudo feito na Universidade Brasil, no entanto, vê certeza de que Suzane não é delirante e nem psicótica, mas que há indícios de ser manipuladora e dissimulada.
Portanto, como boa parcela dos psicopatas, Suzane tem consciência entre o que é certo e errado, mas até o momento não existe afirmação concreta de um quadro de psicopatia.
Outro fator que mostra o traço de personalidade de Suzane é o fato de ela ter contado em seu depoimento ter vivido “um dia normal” na data do assassinato, tendo almoçado com a mãe, levado o irmão ao inglês e vivendo uma rotina normal, sem indícios de nervosismo.
A jovem ainda fez um passeio no shopping com Daniel para escolher um óculos de sol que ela o daria de aniversário.
Foto: Reprodução/TV Record
Outro relacionamento de Suzane
Em meados de 2010, Suzane começou um relacionamento na cadeia com Sandra Regina Ruiz, conhecida como Sandrão, presidiária que foi condenada por sequestro e assassinato de adolescente, que inclusive namorou Elize Matsunaga, condenada por ter assassinado e esquartejado o marido, Marcos Matsunaga.
Suzane e Sandrão chegaram a se casar em outubro de 2014, mas o relacionamento chegou ao fim por conta de um conflito na decisão de quem ficaria com as três máquinas de costura, avaliadas em R$ 12 mil, que Gugu Liberato deu de presente.
Cada uma tem uma versão sobre quem deveria ficar com tais itens.
Como Suzane e irmãos Cravinhos estão hoje
Suzane von Richtofen está no regime semiaberto desde outubro de 2015 e foi autorizada pela Justiça a cursar faculdade de biomedicina em uma universidade em Taubaté, cidade vizinha a Tremembé, no interior paulista, onde ela cumpre a pena.
Na época do crime, ela tinha 18 anos e estudava direito.
Daniel Cravinhos conseguiu o regime semiaberto em 2013 e depois seguiu para aberto em 2018.
Com isso, ele cumpre o restante da pena em liberdade e está casado com Alyne da Silva Bento, filha de uma biomédica que trabalhava com Daniel na cadeia.
Cristian Cravinhos, além da condenação de 38 anos e seis meses pelo assassinato do casal Richthofen, foi condenado novamente por uma confusão em um bar.
Ele foi preso e denunciado por supostamente agredir uma mulher em um bar em Sorocaba (SP) e também ter sido flagrado com uma munição de uso restrito.
Na época, os policiais que atenderam a ocorrência disseram que o réu chegou a tentar subornar os militares para não ser preso e não perder o benefício do regime semiaberto que havia conseguido poucos meses antes.
Na detenção, Cristian teve faltas disciplinares.
Em 2004 e 2008, foi registado desobediência “grave” e “leve”, respectivamente, a servidores.
Já no ano de 2013, ele teria entrado em cela alheia e dificultado a vigilância, mas foi absolvido.
O último registro foi em abril de 2018 com o crime em regime aberto.