O grupo de pesquisa do Instituto Federal de Minas Gerais em Ouro Preto foi convidado pelo Ministério da Ciência para apresentar, na capital federal, o projeto de um respirador mecânico pulmonar desenvolvido durante a pandemia de COVID-19.
O grupo de pesquisadores, composto pelos Professores Doutores Pedro Camargo (Peixe) e Felipe Alves, Professor Mestre Humberto Coelho, o estudante de mestrado Gabriel Soares e a estudante de Engenharia Civil Daniely Brito, iniciou a pesquisa para elaboração do projeto ainda no início da pandemia, em virtude do crescimento no número de casos de insuficiência respiratória e a carência de equipamentos nos hospitais, devido à alta procura.
Em entrevista ao Mais Minas, os pesquisadores contaram como surgiu a ideia do projeto e os primeiros passos no desenvolvimento do respirador:
“O projeto do respirador, desde o início, tem o caráter somente social. Nunca foi desejo da equipe lucrar com o respirador. O objetivo era somente ajudar os hospitais do Brasil, principalmente os do interior, a ter uma infraestrutura mínima de bom custo-benefício para poder tratar em casos de COVID ou similares que resultem em insuficiência respiratória.”
Professor Dr. Felipe Alves
Para a elaboração do projeto, os pesquisadores prezaram muito pela simplicidade e praticidade, para conseguir atender, com excelência, o maior número de pessoas possível
“O equipamento conta com materiais amplamente disponíveis na indústria, não depende de computador, não depende de software e não depende de conhecimento de linguagem em programação. Além disso, o respirador é compatível com geradores de energia e tem autonomia de mais de uma hora. Outro ponto importante é que ele permite o reparo, a manutenção e a conservação de seus componentes durante a operação do equipamento.”
Professor Dr. Felipe Alves
Desafios na construção do respirador
No auge da pandemia e com grandes restrições de circulação, a apreensão e o medo tomaram conta de todo o mundo. Com os profissionais da ciência não foi diferente. Em alguns momentos, foram realizados atividades remotas na construção do projeto, entretanto os encontros presenciais eram fundamentais em alguns processos. Mesmo seguindo todos os protocolos de segurança, a equipe não se sentia 100% segura diante do risco de contaminação.
“Para a montagem do protótipo, os encontros tinham que ser presenciais e mesmo seguindo todos os protocolos, ficávamos receosos.“
“Outro grande desafio foi que até o momento, nós não tinhamos conhecimento prático para a construção do ventilador. A pesquisa foi intensa, e a cada passo que a gente dava, encontrávamos mais desafios. Mas com muita dedicação e muita pesquisa conseguimos superar os desafios e montar o protótipo do ventilador.”
Daniely Brito
O receio da contaminação somados aos seguidos cortes de verba por parte do Governo Federal geraram apreensão na conclusão do projeto, mas no final, graças ao empenho dos pesquisadores e o apoio do SINDIFES e IFMG, deu tudo certo.
“Um problema que nós enfrentamos é que, do cenário que nós viemos, já dava pra perceber que já havia muitos cortes no fomento a pesquisa e a educação. E com a pandemia, piorou muito. Tivemos todo o apoio financeiro do SINDIFES, que nos auxiliou na compra dos materiais para a montagem do projeto, e do IFMG, que contribuiu com bolsas de iniciação científica para manutenção dos discentes no projeto.“
Daniely Brito
Apesar das dificuldades, grandes resultados
Mesmo com inúmeros desafios enfrentados ao longo do desenvolvimento do projeto, a equipe conseguiu desenvolver com maestria um projeto que contribuiu, e muito, com a saúde brasileira durante a pandemia de COVID-19 e por esse motivo, o grupo de pesquisadores foi convidado, com méritos, a apresentar o trabalho em Brasília.
“Após extensos estudos e inumeros testes laboratoriais, conseguimos executar nosso prototipo culminando em um deposito de patente e a publicação de um livro“
Gabriel Soares
O livro do projeto, pode ser adquirido no site da Editora Escola Cidadã através do link.
Apresentação na Reunião Interministerial
Em virtude do excelente trabalho realizado pelos pesquisadores do Instituto Federal de Minas Gerais, a apresentação do projeto na reunião interministerial em Brasília é um grande reconhecimento de todo o trabalho feito pelos Institutos Federais do país.
Para o Professor Dr. Pedro Camargo, é uma grande honra receber esse reconhecimento por parte do Ministério da Ciência e Tecnologia. Levar esse projeto até Brasília é uma forma de retribuir à população todo o investimento feito na pesquisa e na educação.
“O Ministério da Ciência e Tecnologia, na pessoa da Ministra Luciana Santos e toda a sua equipe (em especial David Santos e Ricardo Padilha) tem dado um apoio fundamental, abrindo portas e reconhecendo o avanço do nosso respirador desenvolvido no IFMG para toda a população.”
Prof Dr. Pedro Peixe
Parceria com o Ministério da Saúde
Após a apresentação do projeto na reunião interministerial, o objetivo da equipe é popularizar o respirador através do Sistema Único de Saúde (SUS). Para dar continuidade o projeto, os pesquisadores estão atrás de alguns trâmites burocráticos para viabilizar a distribuição dos equipamentos.
“Temos buscado parcerias, em especial com o professor Rodrigo Leite, que está realizando um enorme esforço para o Ministério da Saúde realizar todas as verificações e nos ajudar com os registros no INMETRO e ANVISA.
Infelizmente, o IFMG não tem dinheiro para fazer o registro do invento. Nós temos a patente, mas ainda não temos as licenças técnicas para compartilhar com a população por falta de verba, já que o governo anterior cortou significativamente a verba dos institutos federais.“
Prof Dr. Pedro Peixe
Quais são os próximos passos para a popularização do projeto?
Assim que resolvido os últimos detalhes sobre as licenças do projeto do respirador, o objetivo é popularizar, ao máximo, o equipamento, que possui um diferencial de ser prático e de simples montagem, podendo até mesmo ser montado em casa, desde que haja todas as matérias primas disponíveis.
Nós não queremos 1 real. Queremos apenas o reconhecimento do invento e estamos doando para o Ministério da Saúde e Ministério da Ciência e Tecnologia com um único condicionante: Oferecer de forma gratuita à toda população que necessitar. Nossa ideia é a popularização da ciência. Nós não queremos dinheiro, queremos melhorar a vida de vida do povo.
Prof Dr. Pedro Peixe
A conclusão de mais um projeto de ciência e tecnologia por parte dos institutos federais, em especial o IFMG, só fortalece a qualidade do ensino público e dos cientistas que aqui estão.
“É nosso dever, enquanto servidores públicos, defender o Sistema Único de Saúde. O Brasil tem um dos melhores e mais potentes sistemas de saúde do mundo. Infelizmente, por falta de investimento, muitas vezes a população não tem essa compreensão.
Nós só conseguimos fazer isso com o apoio das instituições públicas, que dão pleno e total apoio para além de dar aula, além de fazermos pesquisas, termos condições de realizar inventos capazes de ajudar a população.
Os próximos passos e avanços vão depender da burocracia. Mas nós estamos à disposiçaõ para fazer o que for possivel para garantir que toda a população possa ter acesso e ter uma vida melhor. Essa é a missão dos institutos federais. Essa é a nossa missão!”
Dr. Pedro Peixe