Vez por outra nos pegamos a indagar sobre a vida, acredito nem tantas pessoas o fazem com frequência pelo tempo na modernidade que os consomem reduzindo-os a consumidores invés de vívidos pensadores, mas formidável seria para uma mente pensante saber acerca do seu modo de estar neste mundo. Anteontem por volta da meia noite, uma mulher na porta de sua casa, gorda, num banco de uns 40cm de altura, queixo sobre a mão numa posição quase de O Pensador me fez querer parar e prosear. Ela já de madura idade me interroga: por que a gente tem de morrer, hein, minino? A vida é boa demais.
Minha visão exausta se juntou à dela, também exausta e ambas contemplaram uma imagem qualquer de superfície. Embaraçada e como um flash de calmaria essa quase lúcida pergunta dá ensejo a divagações para todos nós. Reflito sobre os pequenos fechos de sabedoria que tenho por aqui, os quais se expressam como um fino arranhão, em meras palavras. Cogito, assisto e existo diante do planeta e tudo o que ele abarca (o mundo, meu gêmeo, meu parente). Sou imenso por isso mesmo, ao passo que o contrário é sentido aqui dentro de mim como um drama que compõe meus dias de obrigações, violência social e et-céteras. Tanto me ocorre: “porque estou em meio à civilização!?” E querer sair, não me dou ao trabalho, pois, ei de querer voltar! “Aceito tudo!”, mas só queria poder estar a caminhar por entre as difusões mais radicalmente diferentes de forma terna e maciça (o conforto muito apraz ao meu signo de touro). Me dê cigarro, um copo de chá, um livro de Clarice ou Platão e um par de pinturas de Gouguin pra admirar. Eis-me, sedimentado em pensamento, reflexões que inquietam meu próprio corpo como a poeira que faz meu nariz expressá-la avidamente num espirro que me dá vertigem de prazer.
Sobretudo, falo da necessidade de filosofar. Para Sócrates por exemplo: uma vida não examinada não é digna de ser vivida. E queira Deus, uma pena seria não usarmos nosso dom especial da racionalidade para a busca do bem. Nos assola a ira que contrasta com momentos de felicidade e plenitude, um mito parece ser a vida, se fosse simplesmente uma narrativa. Por ela ser bem maior e mais improvisada, através da percepção e da mimese (coisa, matéria) encontra-se o Eu que é a figura central, o cerne da vida. Este que quando bem alimentado alcança possivelmente a doçura de um tempo onde o belo e o sublime sejam a égide (escudo) do constante caminhar. É evidente que o mundo físico é expressão do mundo espiritual, para que a violência seja apartada pela força que advém da ideia do Bem todo indivíduo em sociedade merece não só uma educação de qualidade como a incessante abrangência da mesma. Jamais cessemos de construir nosso ser enquanto a este houver possibilidade, afinal as bibliotecas públicas estão de portas abertas. Para que o constructo do âmago da sociedade, que é reflexo do interior dos indivíduos que compõem este coletivo, se realize pelo e com bem-estar geral da boa convivência (reflexo da boa consciência) convenhamos na precisão do dever de cada um embasar suas vidas com tamanha força para a reflexão.