Rima em Prosa #19: Yung Buda fala em entrevista sobre “Howtokill”, 7k e Sound Food Gang

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Dono de algumas das frases mais célebres do rap nacional, como “rejeite falsos ícones” (que se tornou quase que um lema para seus fãs), Yung Buda se estabeleceu como um dos nomes mais criativos da cena underground brasileira. Autor das aclamadas mixtapes Músicas para Drift, Vols. I e II e Halloween o Ano Todo, o rapper lançou seu primeiro álbum no fim do ano passado. Com treze faixas, o disco True Religion foi um sucesso e teve as tracks Ninja e 7K como seus principais hits. Conhecido por trazer referências à jogos, animes e corrida em suas músicas, hoje Buda se encontra em uma nova fase de sua carreira e vem apostando em novo canal e vulgo para emplacar Howtokill, seu mais recente trabalho.

Entrevistado dessa semana na Rima em Prosa, Yunda Buda nos contou um pouco sobre sua nova fase musical, falou sobre como anda sua relação com o coletivo Sound Food Gang e revelou detalhes de Howtokill, a sua nova produção. Além disso, o artista nos explicou um pouco sobre como funciona seu processo de produção musical. Confira:

Sound Food Gang e 7k

Dentro do meio do rap, é bem comum que os artistas integrem grupos ou coletivos musicais. Na carreira de Yung Buda, não é diferente. Membro da Sound Food Gang, uma gravadora do interior de São Paulo, o rapper integra o coletivo junto de nomes como Chinv, niLL e ManoWill. Apesar do sucesso do selo musical, ao ser perguntado sobre como é sua relação com a ‘SFG’ nos dias atuais, o rapper confirmou a busca por novos caminhos:

“Minha relação com a Sound Food Gang é boa, foi ótimo trabalhar com eles, mas agora eu quero alcançar outras camadas com a minha arte, então como lá sempre trabalhamos com datas intercaladas e estratégias de grupo, eu resolvi montar meu próprio time e seguir outro caminho”.

Para alavancar sua nova fase musical, Buda lançou um novo canal no YouTube, intitulado “7k”. O título da página é também o seu novo vulgo no rap, além de ser o nome da primeira faixa do já mencionado True Religion, disco que o artista lançou em 2019. “Eu sempre busquei liberdade de expressão na minha arte e na minha carreira não podia ser diferente. Nessa nova fase eu pretendo superar a anterior, com outro ritmo de lançamento e com bem mais material para o público” disse Yung Buda, justificando a criação do novo canal e ressaltando seus planos para esta nova fase.

Howtokill

Como cartão de visitas desta nova fase musical, Buda – ou 7k – lançou no dia 14/08 uma nova mixtape. Intitulado Howtokill, o novo projeto do rapper conta com cinco faixas e traz uma série de participações. Bem diferente do que tem sido feito no trap nacional e mais experimental que até os seus próprios trabalhos anteriores, o disco traz elementos techno e já caiu no gosto do público do cantor. “Este é o volume um, talvez seja uma série. Porque assim como o Músicas para Drift, eu sinto que é algo novo que eu trabalhei para entregar agora nesse momento, mas que vai evoluir e vai se transformar em algo maior. Essa mixtape tá muito foda” disse o Yung Buda, deixando em aberto a possibilidade de vermos novos volumes de Howtokill no futuro.

Durante a entrevista, o músico confirmou que além dos feats presentes na mixtape, em breve também sairão colaborações com Delatorvi, Froid e Chris MC. Ele também mencionou a sua participação na faixa Cobra Coral, do EP homônimo lançado por Victor Xamã. Além de Buda, a música também conta com feat de Davzera.

Outro trabalho que deve chegar em breve nas ruas é o terceiro volume de Músicas para Drift. Apesar de não ter tido sua data confirmada pelo artista, especula-se que o novo disco da série saia ainda em 2020. Além disso, foi confirmado no Instagram da produtora Alaska, o lançamento para breve do clipe da faixa de Buda que contará com os já mencionados feats de Froid e Chris. Mais detalhes e o nome da música devem ser revelados em breve nas redes sociais dos artistas.

Público

Apesar de ter uma relação próxima com o público, Yung Buda já demonstrou certa insatisfação com algumas exigências que os fãs fazem quanto à sua obra. Durante a entrevista, mencionei o dilema que muitos artistas vivem ao terem que escolher entre produzir o que querem e produzir o que o público quer, e perguntei ao rapper se ele sente dividido assim e como ele faz para conciliar seus gostos pessoais com as vontades do público. Em resposta, ele refletiu sobre e disse:

“Hoje eu tenho uma outra visão sobre minha arte. Hoje é algo bem mais profissional, apesar de continuar tentando passar uma visão realista sobre a cena e esse mundo que eu estou tendo a oportunidade de entrar. Sinto que existe uma glamourização de muita coisa que nada mais é do que uma versão  plastificada de arte e que acrescenta muito nos bolsos de quem faz, mas muito pouco ou quase nada para o público. Isso gera uma referência distorcida de qualidade e causa o ofuscamento de diversos talentos”.

Um dos pontos mais discutidos da carreira de Buda é sua ligação com os animes. Isto ficou muito marcado em suas letras e na estética de suas músicas. Contudo, ao tentar se desprender um pouco disso e ir buscar outras referências, nem todos os fãs ficaram de acordo com as mudanças. Perguntei a ele o que levava, em sua opinião, certa parte do público a se manter muito preso a certos estilos e estéticas. Em resposta, ele disse:

“Felizmente eu cativei um público jovem que evolui comigo. Consigo passar minhas ideias sem que seja algo que eles concordem sempre e mesmo assim sinto que acreditam no meu trabalho, então tento ser eu mesmo. Se você acompanha meu trabalho, eu sou um amigo. Não tô aqui pra ser um cara legal, se vejo que existem coisas que eu não concordo sendo ligadas a mim, eu me sinto no direito de reclamar (risos)”

Em seu perfil no Instagram, Yung Buda mantém um contato próximo com o público e sempre pode ser visto nos stories respondendo perguntas feitas pelos fãs. No decorrer da entrevista, ele falou um pouco sobre esse contato com os ouvintes. “Eu sempre vi como uma oportunidade de ver como meu público pensa, e mostrar pra vários ali que o estilo de vida deles não é o estilo de vida de todos. Eu sou bem diferente, quem gosta da minha arte tem que entender isso” disse o rapper a respeito.

Em uma dessas publicações na rede social, o artista respondeu uma pergunta enviada por fã e disse que gostaria que as pessoas gostassem mais da faixa Hacker Dresscode do que de Akatsuki de Vila, seu maior hit até o momento. Perguntado sobre quais outras músicas dele, ele gostaria que tivessem mais reconhecimento, Buda respondeu:

“Eu gostaria que as pessoas gostassem mais das que eu usei algum sample de alguma música que eu gosto (risos). Mas cada pessoa tem suas referências, eu entendo. Só gosto de provocar às vezes. Tem muita gente que acha que o mundo gira em torno de si, eu não vim pra agradar essas pessoas”.

True Religion

Lançado em dezembro de 2019, o disco True Religion chegou às plataformas digitais com a proposta de trazer novos conceitos e referências para a carreira de Yung Buda. Mesmo com muita qualidade, o primeiro álbum oficial do rapper sofreu com algumas comparações com a estética e o feeling das ‘antigas’ mixtapes de Buda. Ao ser perguntado se isso, de certa forma, o incomoda ou desmotiva, Buda respondeu: 

“Não, eu estou fazendo algo para ouvirem para sempre. São emoções, às vezes é difícil as pessoas estarem passando pelo mesmo momento que você, mas isso faz parte. Algumas coisas tocam umas pessoas mais que outras, algumas são mais parecidas comigo e conseguem pegar rápido e outras levam um tempo, mas tudo bem por mim.

Apesar das comparações, True Religion trouxe bons frutos e números para o rapper, que comentou um pouco sobre a repercussão que a obra gerou. “Achei ótima a repercussão do disco. True Religion é um choque, uma amostra de que as expectativas devem ser quebradas e que arte foi feita para experimentar. Eu gosto do novo, não tenho medo de tentar, sabe? Estou sempre refinando minha música e buscando o que ainda não foi explorado” disse Yung Buda, exaltando o impacto que True Religion causou em seu lançamento e reafirmando sua visão quanto à arte.

Processo de produção e criação musical

“Eu gosto de pensar que a voz é um instrumento e não que o cantor é de fato a estrela do negócio. Até a música ser entregue, ela passa por diversas fases… De uma maneira mais simples de se explicar, existem beatmakers, existem produtores e existem cantores. E no meu caso, eu faço parte deste processo sozinho, onde eu mesmo faço a parte instrumental do som e deixo a mixagem e masterização na mão do Vhulto. Mas, hoje eu vejo que o  feeling nem sempre precisa vir de uma letra específica. Todo dia escutamos diversas coisas que, ou não entendemos a língua de imediato, ou vamos procurar a tradução se ficarmos curiosos. Mas não é novidade que escutamos muita coisa de fora que não entendemos tudo, mas sentimos o que foi passado. Eu acho que a letra é importante, mas depende” ao ser perguntado sobre o hábito de utilizar letras e composições antigas, foi desta forma que Yung Buda descreveu parte de seu processo musical. Mencionado por ele na conversa, Vhulto é amigo e produtor musical do rapper, e trabalhou na engenharia sonora de Howtokill. Mais adiante na entrevista, ao ser perguntado sobre como seleciona os beats e as letras que se encaixam com a estética de cada novo disco que inicia, Buda respondeu que vai tentando decidir no momento em que escreve e que gosta de pensar que as músicas tem que conversar entre si, mesmo que uma não pareça tanto com a outra

Hobbies e referências

Em quase todos os trabalhos de Yung Buda, é possível notar referências de animes e jogos antigos, além de carros e outros elementos culturais. Para muitos fãs, essa junção de referências da cultura pop japonesa com elementos de corrida e games é o grande charme das músicas do rapper. “Eu tô curtindo muito alguns jogos novos e séries também (que roubaram o lugar dos animes agora que eu tô bem mais velho e com outras perspectivas de vida), mas eu deixo as referências virem naturalmente. Não gosto de forçar nada, sabe? Sinto que fica vazio se não for natural” respondeu Buda, quando o perguntei se há algum outro hobby que ele curte e que ainda pretende citar em músicas. “Eu quero que as pessoas vejam que é possível fazer a mesma coisa que eu fiz com drift e anime com qualquer outro assunto, porque essa é a graça real da minha música” completou ele.

Reconhecimento internacional

Ao final da entrevista, Buda comentou um pouco sobre como reagiu ao ser mencionado em uma lista de destaques do rap brasileiro no site americano HighSnobiety:

“Eu vejo minhas estatísticas no Spotify e fico surpreso às vezes. Tem mais de 60 países me ouvindo e isso é muito foda. Fiquei feliz demais, acho que a notícia repercutiu legal. É uma vitória pra mim e pra quem me acompanha. Espero poder levar sempre minha música a mais pessoas”.

Na publicação, que se chama “10 Brazilian Rappers You Need to Know”, Yung Buda foi eleito um dos dez rappers brasileiros que o público do site deveria conhecer. Além dele, a lista ainda trazia a presença de Rincon Sapiência, Baco Exu do Blues, Djonga, Mariana Mello, CHS, Hot e Oreia, BK, Flora Matos e Akira Presidente. Aqui no Brasil, a matéria foi bem recebida e chamou a atenção grandes de portais musicais, que noticiaram o feito.

Rima em Prosa é a coluna especializada em rap do Mais Minas. Nela, são publicadas notícias, matérias e entrevistas relacionadas à tudo de principal que tem ocorrido no rap nacional. Caso tenha gostado da entrevista com Yung Buda, recomendados as nossas matérias com Duzz, MC Igu Aka Rasta e Yunk Vino.

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