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Sister Rosetta Tharpe, a mulher negra que criou o rock n’ roll

Você sabia que o rock foi criado por uma mulher? Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, o Mais Minas conta a história dessa artista que marcou a música internacional.
08/03/2022 às 16:49
Tempo de leitura
5 min
Foto: Reprodução/YouTube
Foto: Reprodução/YouTube

Quando alguém fala sobre a origem do rock, logo se ouve sobre Chuck Berry, Little Richards ou mesmo Elvis Presley. Porém, antes de todos eles, o gênero musical teve uma mãe. Sister Rosetta Tharpe, uma mulher negra e cristã, é considerada a “madrinha do rock”, mas que não esteve presente apenas no batismo do rock. Para se ter ideia, o termo “rock n’ roll” surgiu na renomada revista Billboard ao descrever suas performances.

Sister Rosetta Tharpe, a mulher negra que criou o rock n' roll
Foto: Reprodução/YouTube

Sister Rosetta tocava guitarra, era cantora gospel, mas também tinha influências do jazz e do blues, que fizeram com que ela criasse um estilo próprio. Artistas como Little Richard, Johnny Cash, Carl Perkins, Chuck Berry, Elvis Presley e Jerry Lee Lewis sempre citaram o nome da artista como uma de suas influências mais fortes.

Tharpe foi pioneira em sua técnica de guitarra, sendo uma das primeiras artistas populares a usar distorção pesada no instrumento, pressagiando a ascensão do blues elétrico. Tal forma de tocar guitarra influenciou profundamente o desenvolvimento do blues britânico na década de 1960. Uma turnê europeia com Muddy Waters em 1964, que teve uma parada em Manchester no dia 7 de maio, é frequentemente citada por proeminentes guitarristas britânicos como Eric Clapton, Jeff Beck e Keith Richards.

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História

Filha de pais colhedores de algodão, Sister Rosetta nasceu em Arkansas (EUA), em 1915, na cidade de Cotton Plants. A artista cresceu indo à igreja, onde sua mãe era pregadora e, inserida nesse ambiente, ela desenvolveu sua paixão pela música.

Desde muito cedo, Rosetta demonstrava seu talento como guitarrista, cantora e compositora, mostrando ser um grande talento musical ainda muito nova. Aos seis anos de idade ela passou a viajar com sua mãe pelo país, tocando em concertos de música gospel com outros artistas. Essas experiências fizeram com que ela aprimorasse suas habilidades musicais.

Seu sobrenome Tharpe veio de um erro ortográfico quando se casou com o Reverendo Tommy Thorpe, com apenas 19 anos. Os dois trabalhavam na mesma igreja, Rosetta fazia shows, enquanto ele pregava. Mas o casamento durou pouco. Além do matrimônio ter sido arranjado por sua mãe, Tommy Thorpe também se aproveitava dos talentos da esposa para ganhar dinheiro.

Após a separação, em 1938, Sister Rosetta se mudou para Nova York acompanhada de sua mãe. No mesmo ano, ela lançou o disco “Rock Me” e recebeu a oportunidade de cantar na casa noturna “Cotton Club”, conhecida na cidade. Muitas pessoas que estavam presentes nunca tinham visto uma mulher negra tocar guitarra antes, ainda mais de uma forma tão cativante.

Estrelato

Após assinar um contrato de sete anos, Rosetta foi obrigada a cantar apenas o que sua gravadora quisesse. Apesar do desconforto, com apenas 25 anos, a cantora já estava entre os melhores artistas da época, sendo muito popularizada com sua inovação ao misturar jazz, blues e o que viria a ser chamado de rock posteriormente.

Após cumprir seu contrato, Sister Rosetta Tharpe estava estabilizada dentro da indústria que era predominantemente dominada por homens. Ela se tornou rica, famosa e, a partir daquele momento, poderia cantar o que quisesse.

Nos anos 1940, tocou em várias casas de shows, sempre lotadas, como artista solo ou acompanhada de outros grupos. Durante esses anos, ela precisou se manter firme. Mesmo durante a segunda guerra mundial, Rosetta seguiu sua carreira, gravando várias músicas. Ela era um dos únicos artistas da música gospel a gravar para os soldados.

Em 1944, Sister Rosetta lança o que até hoje é considerado por muitos especialistas a primeira canção do rock. “Strange things happening everyday”, que foi a primeira música gospel a ganhar destaque na lista do “Harlem Hit Parade” da Billboard.

Mais tarde, a “Mãe do Rock” assistiu a uma apresentação de Marie Knight e ficou encantada com a artista. Rosetta à procurou e juntas pegaram estrada para se apresentarem como um dueto, algo inédito para época. Há rumores de que tempos depois, as duas se tornaram amantes. 

Declínio

Em 1964, Sister Rosetta Tharpe realizou sua famosa apresentação em uma estação rodoviária abandonada, que ganhou tamanha notoriedade que a cantora fez uma turnê pela Europa. Porém, durante esse período a popularidade da artista começou a cair.

Existem algumas hipóteses para explicar o motivo do desaparecimento de Sister Rosetta Tharpe na mídia. A preferência por temas religiosos por parte da cantora, bem como a ascensão dos músicos brancos de rock que atraíram a atenção da indústria musical são uma das teses que explicam o declínio da artista.

A cantora morreu na Filadélfia em 1973, após sofrer um AVC. Em 2008, o então governador da Pensilvânia decretou feriado no dia 11 de janeiro, conhecido como “Sister Rosetta Tharpe’s Day”.

O lançamento de Tharpe em 1944, “Down by the Riverside”, foi selecionado para o Registro Nacional de Gravações da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos em 2004, que observou que “captura seu estilo de guitarra animado e vocal único, demonstrando claramente sua influência em artistas de rhythm and blues”.

Seu sucesso de 1945, “Strange Things Happening Every Day”, gravado no final de 1944, apresentou a guitarra elétrica de Sister Rosetta, com Sammy Price no piano, além de baixo e bateria com o resto da banda. Especialistas dizem que esse foi a primeira música gospel a cruzar a linha e se tornar algo que mais tarde seria chamado de R&B. A gravação foi citada como precursora do rock n’ roll e, alternativamente, chamada de “o primeiro disco de rock and roll” pela Billboard. Em maio de 2018, a artista ingressou no Rock and Roll Hall of Fame como uma influência inicial.

Última atualização em 08/03/2022 às 18:42