Artista de Itabirito é vencedor do festival internacional de curta-metragem

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Paulo Mendonça é formando em Desing pela Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG), e é nascido em Itabirito, pertencente ao colar Metropolitano de Belo Horizonte. Paulo é responsável pela produção visual do cartaz do curta-metragem NEGRUM3, que foi apresentado na 22ª Mostra de Cinema de Tiradentes e depois concorrente, e vencedor, do 8º Curta Brasília, festival internacional de curta-metragem.

O curta NEGRUM3 traz a reflexão sobre a vida de jovens negros homossexuais na cidade de São Paulo. Produzido em junho de 2018, a produção audiovisual vem ganhando visibilidade e voz através das telas, mostrando sua essência de resistência e luta.

A elaboração visual feita pelo artista foi vencedora da categoria “Melhor cartaz” do Festival Curta Brasília e dialoga muito com o conteúdo apresentado no curta produzido por Diego Paulino. A ilustração mistura afro futurismo, elementos da cultura afro-brasileira, naves espaciais, cores, galáxias e planetas a fim de dar sentido ao conteúdo e mostrar (re)existência.

Artista de Itabirito é vencedor do festival internacional de curta-metragem

Crédito da foto: Reprodução

Em entrevista ao Mais Minas, o artista conta sobre como surgiu a ideia para a produção do poster, as representatividades contidas nele e também sua função social diante dos assuntos que o cercam. Confira:

MM: Como surgiu a ideia inicial para produção do cartaz?

Paulo Mendonça: A ideia surgiu a partir da demanda do Diego (Diego Paulino), diretor do curta NEGRUM3. Ele me procurou com a ideia de produzir um cartaz especial para seu curta que seria apresentado na 22ª Mostra de Cinema de Tiradentes e queria que tivesse mais a cara de poster de filmes de ficção científica dos anos 80/90. Dai uni essa demanda com a minha pesquisa estética sobre afro futurismo e o resultado até hoje me alegra muito.

MM: O que você busca representar na ilustração?

Paulo Mendonça: Eu procurei contemplar os personagens do curta que são pessoas reais com um pouco de fantasia, surrealismo e até mesmo tradição afro-religiosa. A partir de fotos de backstage e de cenas do filme, fui inserindo esses personagens em um contexto futurista, adicionando elementos característicos dessa narrativa visual como naves espaciais, tecnologia, planetas e astros luminosos. Sem esquecer a ancestralidade africana e as raízes que nos fazem ser esse corpo diaspório. Busquei utilizar muitos elementos e muitas cores para recontar essa história a partir dessa perspectiva artística que visa inserir o negro na narrativa do futuro.

MM: O que é o curta “NEGRUM3” e qual a sua “função social”?

Paulo Mendonça: O NEGRUM3 mergulha no universo da juventude negra e LGBT’s de SP. Para isso utiliza de recursos como a distopia e o afro futurismo para recontar a historia desses corpos marginalizados frutos dessa diáspora.

O filme jorra potência politica a partir dessa histórias negras. Ele é comovente, é divertido e é absurdamente transformador. O curta metragem tem sido premiado em diversos festivais, e isso me orgulha muito e me enche de felicidade uma vez que o Diego Paulino é um diretor negro de São Paulo com poucos recursos e por vezes silenciado.

MM: Você venceu o prêmio troféu melhor cartaz do festival curta Brasília, com o troféu “melhor cartaz”. Qual a sensação de ganhar essa premiação? O que isso representa para você e para sua profissão?

Paulo Mendonça: Foi muito gratificante por vários motivos, o primeiro foi por que era a primeira vez que NEGRUM3 concorria a um prêmio pelo cartaz. O filme já foi premiado em diversas áreas, se mostrando excelente em tudo que concorria e não foi diferente com o cartaz, isso me alegrou muito. O segundo motivo foi por ter sido agraciado com esse premio através do publico, por votação online. Jamais imaginei ganhar esse prêmio, visto que sou um artista que vive em Itabirito, interior de Minas Gerais. Porém consegui e levei essa premiação.

Como designer, ganhar esse prêmio é a resposta de que estou no caminho certo, de que posso realizar muitas coisas apesar da realidade do pais. Eu utilizo da minha arte para comunicar coisas que acredito. Para mim, tocar pessoas de outros estados e pessoas que não conheço através dessa arte é incrível.

Me orgulho muito desse prêmio porque sequer saí  de Minas Gerais dada a minha situação financeira, mas saber que posso ganhar um prêmio em Brasília e que posso estar no The Guardian, me abre possibilidades pra encarar o mundo.

O cartaz do curta-metragem foi citado também em um jornal britânico com quase 200 anos de história, The Guardian. A matéria em questão aborda a atual situação do cinema brasileiro, visto que o corte do financiamento público para as artes aconteceu no início do governo de Jair Bolsonaro.

A matéria traz ainda discussões acerca de censura, questões abordadas pela Agência Nacional do Cinema (Ancine) e uma entrevista com o diretor de NEGRUM3, Diego Paulino, referente aos prejuízos causados em sua produção pela decisão do atual governo.

MM: Para você, o que significa ter sua ilustração divulgada em um portal de mídia internacional?

Paulo Mendonça: Quando vi que saiu no The Guardian eu fiquei primeiramente chocado, é bem triste aparecer no jornal pelos motivos que apareceu, uma vez que a matéria é sobre como o governo tem sufocado o cinema nacional com suas censuras e postura reacionária sobre esta arte.

Porem, é incrível que o Diego como diretor do filme tenha tido essa voz nesse portal, e como sua história como diretor e a história desse curta foi contada e ouvida depois de tudo que passamos. Afinal, NEGRUM3 é um dos filmes que são citados na matéria como vítimas dos ataques que o cinema brasileiro tem sofrido e de certa forma a plataforma The Guardian projetou essa história com a minha arte.

Agora vejo a matéria e me orgulho do que ela é, fico feliz que tenha saído lá com esse viés crítico. Me fez me apaixonar ainda mais pelo meu trabalho como designer e me fez olhar para trás e ter orgulho de participar desse projeto.

MM: De que forma essa publicação dialoga com a questão de representatividade e resistência?

Paulo Mendonça: O filme em si já dialoga com a resistência, porém tem todo o racismo e a homofobia enfrentada pelos corpos constituintes do projeto ao longo desse tempo. E agora com essa matéria enxergo sobretudo que nossas vozes são silenciadas diariamente no Brasil e é incrível que um jornal como esse possa dar essa voz para que o Diego conte sobre a situação do cinema no país.

Que possam enxergar minha arte seja aqui em Itabirito ou em Londres. O NEGRUM3 é resistência desde que nasceu como projeto, essa matéria é mais um exemplo dessa força.

MM: Qual a sua opinião sobre o cinema brasileiro e a valorização da arte no Brasil?

Paulo Mendonça: O cinema brasileiro é fantástico, temos muito a aprender com essa nova geração de artistas audiovisuais do país. É uma pena que vivemos num momento muito triste para esta arte que está sufocada, que todos os investimentos estão sendo cortados arbitrariamente porque nosso presidente decidiu que assim deve ser e assim está sendo. Que a Ancine esteja em ruínas e que exista perseguição aos filmes que abordem a diversidade, porém ainda temos voz. O cinema é uma plataforma educadora e que abre possibilidades para que essa voz seja propagada e nunca seja esquecida. É necessário que valorizemos os artistas de nosso país.

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