Um causo mineiro para “morrer de medo”

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O Estado de Minas Gerais é muito rico culturalmente. Além de originar uma vasta gastronomia, as músicas do congado e das folias de reis, o estado resguarda um precioso costume, a “contação” de causo mineiro.

Passadas de pais para filhos, as histórias, que não se sabe ser verdade ou mentira, são de modo geral muito atraentes. Elas despertam os ouvidos e olhares, principalmente pelas características peculiares dos seus contadores, que através de gestos e da entonação de voz, dão um sentido especial aos casos. 

Foto: Pixabay

Os causos podem ser leves, breves histórias com uma moral ao final, como uma prosa entre amigos. Podem ser engraçados, mas os mais aclamados são os misteriosos, repletos de suspenses e terror. E por falar em suspense, esse vai ser o gênero que iremos contar nesse artigo, então prepare o coração, que lá vem a história! 

Causo conhecido: A procissão dos Mortos 

O ano é 1970, um inverno quase glacial assola o pequeno e pacato distrito de Ouro Preto, Rodrigo Silva. Quando o relógio bate às 22 h, o vento parece percorrer por todas as casas, fazendo com que as portas e janelas sacolejam sem parar. Mas o pior desse vendo é o barulho, que hora parece gritos agudos, outras parece assobios, chega a gelar a espinha. 

O período é o pós-carnaval, época popularmente conhecida como quaresma. Trata-se dos dias que ficam entre a quarta-feira de cinzas e a páscoa. As pessoas que vivem ali, costumam respeitar muito esse período, e todos ficam quietos em casa, sem grandes festas ou comemorações, essas acontecem a partir do sábado de aleluia, a noite que precede o domingo pascoal. 

Voltando ao vento impetuoso, em meio a quaresma, onde se acredita em Saci Pererê, Mula-Sem-Cabeça, Boto-Cor-De-Rosa, Lobisomem, entre outros personagens folclóricos. Numa sexta-feira, que coincide com a data 13 do mês, mais precisamente à 0h, ouve-se passos pelo centro do distrito. 

Como a procissão dos mortos tornou-se comum para os moradores, eles já sabem que estão proibidos sequer de olhar pela janela, do contrário algo ruim pode vir a acontecer. Exceto para a desavisada e curiosa Maria, que não apenas ”esbiutou” pela janela, como ao avistar a procissão, tratou logo de pegar sua vela e saiu para acompanhar, sem sequer questionar, de onde vinha e para onde iria o cortejo. 

Maria achou estranho que durante a procissão, ninguém levantava muito o rosto, mas pensou ser em respeito a algum santo. A procissão então seguiu seu rumo, passou pela rua de cima, pelo centro e pela rua de baixo. Ao chegar na gruta, ao invés de retornar para a Igreja, que fica no centro, os “fiéis”, continuaram a subir pela rua, sentido o cemitério. Mesmo espantada, como boa Católica Apostólica Romana, Maria confiou no dogma ali estipulado, e seguiu. 

Ao chegar no cemitério, todas as velas que estavam nas mãos das pessoas se transformaram em ossos, e todos apresentavam características cadavéricas. Cada um entrou, se deitando, em seu túmulo e Marina assistiu a tudo sem esboçar nenhuma reação, até que o último morto tomasse seu rumo. O susto de beata foi tão grande, que ao sair correndo, ela deixou um dos pés de chinelo para trás. 

Ela chegou em casa tão amedrontada, que só conseguiu contar a história a um de seus irmãos, em seguida morreu, sofria de doença do coração, coitada, pobre menina. O irmão de Maria percebeu que ela estava com apenas um dos pés calçados. No dia seguinte, ele foi procurar, andou pela cidade inteira e não encontrou. Ele, é claro, não acreditou na história que Maria havia contado antes de falecer, pensou que a irmã tivesse sido tomada por um surto psicótico, ou algo parecido. Ainda assim, o chinelo de Maria o intrigava. 

Ao final da tarde, após um dia inteiro de velório, finalmente João, seus sete irmãos e os pais da jovem subiram ao cemitério para enterrá-la. Chegando ao local, logo no portão de entrada, João avistou o outro pé de chinelo de sua irmã e passou a acreditar em toda história. História essa que reverbera até os dias atuais. Se é verdadeira? Não sabemos, tire suas conclusões. 

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